Dom Forte sobre o Sínodo: não somente "ouvir todos", mas "caminhar juntos", com humildade,
no espírito do Vaticano II
Cidade do Vaticano
(RV) - Foi apresentado aos jornalistas, na Sala de Imprensa da Santa Sé, o "Relatório
após a discussão" no âmbito do Sínodo dos Bispos dedicado à família, que chega agora
a sua segunda semana de trabalhos. A apresentação foi feita pelo arcebispo de Esztergom-Budapeste,
Cardeal Peter Herdő; o arcebispo de Manila, Cardeal Luis Antonio Tagle; o arcebispo
de Chieti-Vasto, Dom Bruno Forte; e o porta-voz vaticano, Pe. Federico Lombardi.
Uma
Igreja que ouve as famílias, inserida na sociedade de hoje, com as múltiplas facetas
que a realidade contemporânea comporta. Esta, em síntese, a primeira semana de trabalhos
no Sínodo dos Bispos, refletida no "Relatório após a discussão". Segundo o secretário-especial
do Sínodo, Dom Bruno Forte, trata-se de um trabalho em andamento.
O Arcebispo
evidenciou o sentido de sinodalidade intenso e não somente como um "ouvir todos",
mas também um "caminhar juntos", amadurecendo e crescendo no tempo, com humildade
na escuta, assim como desejado pelo Papa Francisco. No fundo, acrescentou Dom Forte,
"este foi o espírito do Concílio Vaticano II". O que vai emergindo é uma atenção a
uma espécie de lei da gradualidade:
"A lógica vencedora jamais é a do tudo
ou nada, mas a da paciência do tornar-se, da atenção às nuanças, às facetas, às diversidades,
às complexidades das situações. Porque quem não usa esta lógica corre o risco de julgar
as pessoas e não entendê-las, acompanhá-las, acolhê-las. Parece-me que um dos dados
mais bonitos deste Sínodo, que a Relatio post disceptationem (Relatório após a discussão)
colheu, é este espírito de companhia, de acompanhamento e de progressividade, de amadurecimento
sobre o qual, naturalmente, há ainda muito a ser feito. Portanto, o trabalho de hoje
é somente um momento, uma etapa. O trabalho a ser feito, sobretudo, a contribuição
dos grupos, será importantíssimo para integrar, precisar e desenvolver os elementos
que emergiram."
Em seguida, Dom Forte se deteve sobre outro tema abordado
pela assembléia, o acesso ao Sacramento da Eucaristia para os divorciados recasados
e o caminho penitencial proposto:
"Um eventual reconhecimento de culpa que
pode ter havido, porque todo falimento de uma aliança nupcial se dá certamente por
causa da responsabilidade de ambos: jamais é justo dar a culpa a uma só pessoa. Portanto,
é justo que cada um eventualmente tome consciência dos próprios limites, das próprias
insuficiências e esteja disposto a colocar-se à escuta de Deus, para uma conversão
do coração."
Quanto às pessoas homossexuais, refletiu-se sobre "dotes e
qualidades" que podem oferecer à comunidade cristã. No que diz respeito às uniões
entre pessoas do mesmo sexo, Dom Forte esclareceu:
"A Igreja não partilha
que a mesma terminologia 'família' possa ser indiferentemente aplicada à união entre
um homem e uma mulher, aberta à procriação, e à união homossexual. Dito isso, parece-me
evidente que as pessoas humanas envolvidas nas várias experiências têm direitos que
devem ser tutelados. Portanto, o problema é, sobretudo, não a equiparação tout court
(tal qual, sem mais), inclusive terminológica, mas naturalmente isso não quer dizer
que é preciso então excluir a busca também de uma codificação de direitos que possam
ser assegurados a pessoas que vivem em uniões homossexuais. É uma questão – creio
– de civilidade e de respeito à dignidade das pessoas."
O relator geral
do encontro, Cardeal Erdő, e o presidente delegado, Cardeal Tagle, detendo-se sobre
o Relatório – à espera do documento final dos trabalhos e da mensagem do Sínodo –
traçaram algumas situações particulares das famílias no contexto contemporâneo. Eis
o que disse o Cardeal Tagle:
"Poderia dar-lhes algumas idéias, por exemplo,
o impacto da pobreza sobre o tecido da família, e ligado a isso, os conflitos, as
guerras, as batalhas que separaram as famílias; a situação dos refugiados. E se pode
ouvir o choro das crianças que querem estar perto de seus pais, mas que se encontram
nos campos de refugiados. Esses não são fatos externos, estão dentro da família. E
como se pode dar uma ajuda pastoral às crianças que ficaram traumatizadas por essas
separações? Além disso, existe a questão da migração, especialmente o fenômeno da
migração forçada. As pessoas são obrigadas a deixar suas famílias, não por causa de
um conflito, de um conflito interno, mas porque devem buscar um trabalho em outro
lugar, para prover o sustento de seus entes queridos. Qual é a ajuda pastoral para
aqueles casais que estão separados, distantes mil milhas um do outro? Como podem permanecer
fieis a seus cônjuges e a suas crianças? Por exemplo, na Ásia existem matrimônios
inter-religiosos e a preocupação diária é como crescer as crianças." (RL)