Card. Versaldi: "É necessária uma maior preparação ao Matrimônio"
Cidade do Vaticano (RV) – Diante do alto número de divorciados, é necessária
uma preparação maior, personalizada e também severa ao matrimônio, sem medo de ver,
eventualmente, uma diminuição no número de casamentos celebrados na Igreja. Este foi
um dos aspectos salientados nos trabalhos do Sínodo Extraordinário sobre a Família
em andamento no Vaticano. A Rádio Vaticano conversou sobre este tema com Presidente
da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé, Cardeal Giuseppe Versaldi:
Card.
Versaldi: “O problemas existem, e são resolvidos os que dizem respeito às pessoas
em dificuldade após o matrimônio, mas eu quis insistir no fato de que é necessário
prevenir as dificuldades e sobretudo os sofrimentos das pessoas, tendo portanto, uma
maior atenção à preparação do matrimônio. No Ano da Fé, o Papa nos disse que a fé
– também entre os batizados – não pode mais ser pressuposta e portanto, é necessário
realizar um caminho, também doutrinal. Eu insisti sobre o acompanhamento pessoal dos
casais, em maneira tal que não por meio de instrumentos jurídicos, mas através de
um acompanhamento pastoral e espiritual, se verifique verdadeiramente se a intenção
dos esposos é a de serem introduzidos não ao casamento, mas ao Sacramento do Matrimônio,
de modo que depois possam administrar as dificuldades na vida matrimonial. Sempre
existirão fracassos, mas assim colocamos uma barreira não para impedir o matrimônio,
mas para fazê-lo não somente válido, mas também frutuoso. A Igreja não pode depois
declarar nulos os matrimônios, que ao contrário, são válidos e carregando peso sobre
os fiéis após o matrimônio. É melhor ser um pouco mais severo antes, mesmo que diminuam
um pouco no tempo as celebrações de casamento, mas que sejam pessoas convencidas de
encontrar Cristo e não somente de fazer a cerimônia”.
RV: Para evitar
justamente quem se casa como uma etapa social, concentrada mais na cerimônia e no
dia do matrimônio. Depois, quando chegam os problemas, encontram-se despreparados...
Card.
Versaldi: “Supondo este automatismo entre o fato de que alguém é batizado –
e portanto se supõe que tenha a fé – e o Matrimônio, que é outro Sacramento. Certo,
o Batismo introduz na salvação, porém é um encontro com Cristo e quem se casa, ao
invés disto, acreditando não ter necessidade de Cristo - mas somente porque é uma
tradição ou até mesmo um ato folclórico -, se casa validamente, mas depois não consegue
administrar a fadiga do matrimônio e então pede a nulidade. O paradoxo então é que
a Igreja é generosa no início, admitindo a todos, e depois é severa deixando-os com
os seus pesos. Isto não está certo”!
RV: Seria necessário, então,
ter a coragem de dizer “não” a alguns casais que chegam despreparados ao matrimônio?
Card.
Versaldi: “Mais do que dizer “não”, indicar um caminho: não logo, mas, façamos
um caminho. Agora se fala tanto dos divorciados e dos recasados e de um caminho penitencial,
que é sempre penitencial e doloroso; lá seria, ao contrário, um caminho não penitencial,
mas de crescimento, de maturação na fé”.
RV: Agir na origem…
Car.
Versaldi: “Agir na origem, fazendo também entender que não podem ir ali pedindo
o matrimônio, já fixando a data e pressupondo que se trata somente de uma fórmula:
“Aceitas aquilo que faz a Igreja?”; “Sim!”. E depois se passa a saber o que existe
por trás daquele ‘sim’.... Estamos discutindo tanto sobre como mudar o ‘depois’ e
não discutimos tanto sobre como mudar o ‘antes’. Eu fiz um pronunciamento, mas também
outros se pronunciaram neste sentido”.
RV: Tem depois o “pós-matrimônio”.
Tem quem sugira um acompanhamento também após o matrimônio dos casais, que frequentemente
se casam com pressupostos cristãos e de repente se encontram sozinhos....
Card.
Versaldi: “E alí verdadeiramente é a paróquia, a comunidade paroquial, como
família de família, e sobretudo os esposos, mais do que os sacerdotes, devem acompanhar
os casados naquele ponto. É importante o acompanhamento dos jovens esposos por parte
de quem já tem a experiência, quem sabe mesmo, de crises superadas. Este é outro ponto
intermediário: antes de chegar à ‘vexata questio’ “Damos ou não damos a comunhão aos
divorciados-recasados?”, o que certamente é um problema, mas quando torna-se um problema
muito generalizado, quer dizer que alguma coisa está errada no início. Se não fazemos
uma preparação adequada, devemos depois cuidar dos matrimônios fracassados e a Igreja
de “hospital de campanha” se torna um obituário, onde se fazem as autópsias dos matrimônios
defuntos”.
RV: Se fala muito nestes dias de doutrina e misericórdia,
quase como se fossem duas realidades distintas. É realmente assim ou doutrina e misericórdia
necessariamente devem caminhar juntos, se identificam?
Card. Versaldi:
“A misericórdia é a doutrina da Igreja e a doutrina da Igreja é a salvação: “Não
vim para condenar, mas para perdoar”. Todavia o perdão pressupõe o arrependimento”.
(JE)