Trabalhos sinodais: a Igreja não é uma alfândega, mas uma casa paterna
Cidade do
Vaticano (RV) - A Igreja "não é uma alfândega", é "uma casa paterna". Prosseguem,
com essa reflexão – na presença do Papa Francisco – os trabalhos da III Assembléia
Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada aos desafios pastorais da família
no contexto da evangelização. Na manhã deste quarto dia de encontros a atenção esteve
voltada para "Os desafios pastorais acerca da abertura à vida". A seguir, a coletiva
do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi.
Um acompanhamento
paciente a todas as pessoas, na chave da misericórdia: é a síntese dos trabalhos da
assembléia sinodal da tarde da quarta-feira e da manhã desta quinta-feira. Uma progressão
constante de participação, de envolvimento da assembléia, disse Pe. Lombardi. Tratadas
as "situações pastorais difíceis", o debate geral fez o quadro de uma Igreja que abarca
famílias sadias e famílias em crise, ressaltando que o esforço diário não deve ser
o de mostrar indiferença diante da fraqueza, porque a paciência implica ajudar ativamente
o mais fraco.
A propósito dos divorciados recasados, emergem diferentes posicionamentos,
explicou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé:
"Há uma linha que fala
com muita decisão do anúncio do Evangelho do matrimônio, que exige afirmar que, se
há um válido enlace matrimonial não é possível a admissão aos Sacramentos de divorciados
recasados. Portanto, digamos, uma afirmação da coerência da doutrina propriamente
por fidelidade à Palavra do Senhor. Há outra linha que, não negando de modo algum
a indissolubilidade do matrimônio na proposta do Senhor Jesus, porém quer ver – na
chave da misericórdia, que naturalmente é importantíssima para todos – as situações
vividas e fazer um discernimento sobre como enfrentá-las nas diferentes situações
que são muitas vezes específicas. Portanto – sem de forma alguma negar a doutrina
fundamental –, ver como se pode, diante das diferentes situações que devem ser enfrentadas,
ir ao encontro das exigências da misericórdia numa abordagem pastoral."
O
porta-voz vaticano ressaltou que se tem registrado "um espaço muito amplo de consenso"
sobre toda uma série de abordagens à questão dos divorciados recasados: sobre a nulidade
matrimonial tem sido evocada "a exigência de simplificar os procedimentos", integrando
mais leigos competentes nos Tribunais Eclesiásticos, salvaguardando sempre o respeito
pela verdade e os direitos das partes e evitando superficialidades:
"Tem
havido propostas bastante concretas de criação de escritórios diocesanos que se ocupem
da temática sob a direção do bispo. Ao mesmo tempo, também sobre essa temática se
insiste sobre a atenção às exigências da verdade e da justiça, para não se chegar
a uma espécie de divórcio católico, e, ainda, inserir e reconhecer a importância,
também do processo e dos procedimentos canônicos, numa pastoral de conjunto de verdadeira
atenção ao bem do povo de Deus e das pessoas."
O processo – foi dito nos
trabalhos sinodais – não é contrário "à caridade pastoral" e a pastoral judicial deve
"evitar idéias de culpabilidades, encorajando uma abordagem serena dos casos".
De
outro lado, emergiu nos pronunciamentos, acerca dos divorciados recasados, o fato
de que "não poder receber a Eucaristia não significa absolutamente que não são membros
da comunidade eclesial": "foi feito o convite a reconsiderar que existem várias responsabilidades
que estes podem assumir".
Após trazer tais considerações feitas por alguns
Padres sinodais, o Pe. Lombardi acrescentou:
"Há quem tenha falado de encontros
em que se faz uma oração em comum, um pedido, juntos, de perdão e também a busca de
formas de manifestar a bênção e o amor do Senhor, mesmo não participando da Comunhão
sacramental. Em vários pronunciamentos falou-se sobre o valor da comunhão espiritual
como algo de não-formal, mas de muito significativo que deve ser valorizado, inclusive
para as pessoas que não podem receber a Comunhão sacramental."
Em relação
à pastoral para as pessoas homossexuais foi proposta a importância da escuta, embora
reiterando – nos trabalhos sinodais – "a impossibilidade de reconhecer o matrimônio
entre pessoas do mesmo sexo":
"Tratou-se da questão na linha da pastoral
da escuta, do respeito, do acolhimento, embora defendendo a visão da Igreja de que
o matrimônio é entre um homem e uma mulher, e jamais entre um homem e um homem ou
uma mulher e uma mulher. E nesse sentido, do respeito e do acolhimento, inclusive
da atenção à linguagem que se utiliza e que muitas vezes é considerada pouco respeitosa."
Em
relação à poligamia, embora se trate de "uma realidade em diminuição", foram mencionados
na Sala do Sínodo os "polígamos convertidos ao catolicismo" que desejam receber os
Sacramentos da iniciação cristã.
Foi abordada também a questão dos católicos
que mudam de confissão cristã e vice-versa, com todas as difíceis consequências que
derivam disso para os matrimônios interconfissionais e a avaliação de sua validade,
à luz das possibilidades de divórcio previstas pelas Igrejas ortodoxas.
No
que concerne aos matrimônios mistos, foi evidenciada a possibilidade que eles oferecem
de testemunhar a harmonia e o diálogo inter-religioso.
Posteriormente foi tomado
novamente em consideração o tema da linguagem a fim de que a Igreja consiga envolver
fiéis e não-fiéis, e todas as pessoas de boa vontade para identificar modelos de vida
familiar que favoreçam o desenvolvimento integral da pessoa humana e o bem-estar da
sociedade.
A sugestão apresentada é que se fale de família com uma "gramática
da simplicidade" que chegue ao coração dos fiéis. Mais uma vez falou-se sobre a necessidade
de uma maior preparação para o matrimônio, sobretudo entre os jovens aos quais deve
ser apresentada a beleza da união sacramental.
O diretor da Sala de Imprensa
da Santa Sé informou que nos testemunhos apresentados no Sínodo foram introduzidos
"o tema dos métodos naturais de regulação da natalidade e o tema da paternidade responsável
e como esta é exercida no seio da vida familiar".
Foi reiterado que o dom da
vida bem como a virtude da castidade são valores instituidores do matrimônio cristão.
Ressaltados no debate "a gravidade de um crime como o aborto" e "o impacto negativo"
da contracepção na sociedade, que levou à diminuição da natalidade. Diante de tal
cenário – foi dito – os católicos não podem ficar em silêncio, mas devem levar uma
mensagem de esperança.
O Pe. Lombardi recordou que nesta tarde de quinta-feira
se concluiriam os pronunciamentos dos Padres sinodais em assembléia, depois será a
vez dos círculos menores. Por fim, acrescentou que na Sala do Sínodo foi também mencionado
o Consistório ordinário de segunda-feira, 20 de outubro, dedicado à situação atual
dos cristãos no Oriente Médio e ao empenho da Igreja em favor da paz, à luz também
da recente reunião, no Vaticano, dos núncios apostólicos na região. (RL)