Rádios católicas em apelo pela paz pelo Sudão do Sul
Adis Abeba (RV) - Novas negociações de paz para o Sudão do Sul estão sendo
motivadas na Etiópia, na capital Adis Abeba, para terminar com as violências que começaram
em dezembro de 2013 entre o exército fiel ao governo do Presidente daquele país, Salva
Kiir, e as forças ligadas ao ex-vice Presidente, Riek Machar. O impasse começou quando
as autoridades da capital do Sudão do Sul, Juba, proibiram, em particular, algumas
rádios católicas, de cobrirem as questões políticas e de segurança do país.
Rádio
Bakhita, emissora da Arquidiocese de Juba, foi fechada no final de agosto, para depois
ser autorizada a retomar as transmissões sem, entretanto, divulgar notícias políticas.
Já a Rádio ‘Voice of Hope’, da diocese de Wau, foi ameaçada de fechar, a menos que
se restringisse a noticiar informações locais.
Em entrevista a Rádio Vaticano,
falou a diretora da Rede Católica de Rádio (que compreende as emissoras do Sudão do
Sul e de Monti Nuba), Enrica Valentini.
Enrica Valentini – “Em algumas
áreas disseram que cobrir esses eventos favorece a insegurança. A proibição foi feita
não somente a nós, mas, em geral, a todos os veículos. Teve uma explícita solicitação
do governo de não cobrir a versão da oposição ou eventos e informações que são dadas
daquela parte.”
Rádio Vaticano – Então, existe uma ligação com as
tensões que acontecem entre as forças fiéis ao Presidente Salva Kiir e aquelas próximas
ao ex-Presidente, Riek Machar?
Enrica Valentini – “Sim. Pediram explicitamente
de cobrir somente a versão do governo, para não motivar insegurança e violência.”
RV
– E como agiram as autoridades em relação às rádios católicas, em particular com a
Bakhita e ‘Voice of Hope’?
Enrica Valentini – “Existiram críticas
abertas sobre as operações das rádios e sobre ter apresentado acontecimentos que incluíam
também a visão da oposição. A última solicitação, por exemplo, no caso da Rádio ‘Voice
of Hope’, foi de não divulgar notícias que viessem de fora do Estado de Bahr al-Ghazal
(onde tem a sede da rádio), porque apresentar notícias que chegam, por exemplo, da
Equatória ou da Upper Nile, cria uma maior insegurança.
RV – Qual
é a resposta das rádios e da Rede de vocês?
Enrica Valentini – “A
função da Igreja e aquela das rádios é favorecer o conhecimento das pessoas, que devem
saber o que acontece de maneira balanceada e equilibrada. Existe, então, a tentativa
de continuar a trabalhar, procurando respeitar a ética do jornalismo e os valores
da Igreja, o respeito da verdade e a promoção das pessoas.”
RV –
As rádios comunitárias são, frequentemente, a única fonte de informação em nível local...
Enrica
Valentini – “Sim, fora a rádio administrada pelas Nações Unidas, que cobre
muitas áreas, mas que normalmente não fala as línguas locais. As rádios comunitárias
têm a vantagem de poder falar as línguas locais, permitindo às pessoas de compreender
realmente aquilo que é dito.”
RV – As rádios católicas divulgam
também sobre as negociações de paz?
Enrica Valentini – “Sim. A gente
procura mostrar às pessoas o que acontece também em Adis Abeba e come acontecem as
negociações, porque são encontros que têm um impacto sobre o país e, dessa forma,
toda a população é afetada, em maneira positiva ou negativa.”
RV
– Por que as negociações de paz, mais uma vez, foram retomadas depois de 10 meses
de conflitos entre o exército fiel a Salva Kiir e forças próximas a Riek Machar?
Enrica
Valentini – “A suspensão, agora, parece ser devido à falta de clareza sobre
alguns pontos, como a formação de um governo ad interim: em especial, existem dúvidas
sobre quanto esse período deve durar e que estrutura o governo deve haver. Outro elemento
em discussão é a criação do cargo de primeiro-ministro.”
RV – Além
dos contrastes pelo controle do poder, o conflito provocou dezenas de milhares de
mortes, um milhão e meio de desabrigados, num país que está gravemente ameaçado pela
fome, come se pronunciou a ONU. Que momento é esse pelo qual passa o Sudão do Sul?
Enrica
Valentini – “Existe muito por fazer. E há a necessidade de fornecer meios de
subsistência à população. Uma prioridade, em especial do ponto de vista da agricultura:
estamos chegando ao final da estação das chuvas e procuramos desfrutar ao máximo esse
momento para poder produzir. As várias agências humanitárias estão incrementando o
trabalho no âmbito de oferta e distribuição de alimentos; estão procurando fazer com
que a população retorne aos lugares de residência, para que possa voltar a ter uma
vida que possa-se dizer normal.”
RV – A esperança da Rede de Rádios
Católicas, mas também da Igreja do Sudão do Sul, para os próximos meses, qual é?
Enrica
Valentini – “Primeiro de tudo que o cessar-fogo seja realmente respeitado.
Esse também foi o apelo dos bispos do Sudão do Sul numa recente assembleia. Então,
que tenhamos imediatamente paz e ausência de conflitos e violência.” (AC)