Dom Zenari sobre violência no Oriente Médio: "Somente resposta militar não basta.
É necessário ir à raiz do problema"
Cidade do Vaticano (RV) – Prossegue o avanço no Iraque e Síria dos jihadistas
do auto-proclamado ‘Estado Islâmico’, não obstante os ataques aéreos da coalizão guiada
pelos Estados Unidos. Os milicianos içaram sua bandeira preta em um bairro da cidade
síria de Kobane, apesar da resistência dos curdos. Nas portas da cidade, uma mulher
curda se fez explodir em meio a um grupo de islamitas. Após o encontro concluído no
último sábado, no Vaticano, os Núncios do Oriente Médio retornam às suas sedes. A
Rádio Vaticano perguntou ao Núncio de Damasco, Arcebispo Mario Zenari, que mensagem
leva consigo deste encontro:
Dom Zenari: “Retorno levando uma mensagem
de solidariedade ainda mais forte e também uma mensagem de esperança que, não obstante
tudo, acredito que seja necessário ter. Foi uma bela reunião pois foram colocadas
juntas as situações de vários países do Oriente Médio, provados por estes conflitos,
sobretudo os sofrimentos do povo sírio e iraquiano. Ocorreram momentos de oração,
pois esta é a nossa arma principal”.
RV: Não obstante os bombardeios,
os jihadistas continuam a avançar...
Dom Zenari: “Infelizmente este
extremismo nasce também, porque encontra um terreno favorável: estas situações não
resolvidas, este conflito sírio que se arrasta por mais de 3,5 anos, são um húmus
que alimenta estas forças extremistas. Portanto, é necessário o mais breve possível
encontrar uma solução política para estes problemas. No Iraque, talvez, exista um
leque de soluções; para a Síria infelizmente, devo dizer que a solução para o extremismo
está ainda no limbo, enquanto as populações são submetidas a um sofrimento de inferno.
Mas eu diria que a chave ainda não foi lançada ao fundo do mar. Se pode ainda trabalhar
muito. A comunidade internacional deve aumentar os seus esforços e é necessário sair
desta situação de sofrimento enorme para estas populações, resolver pela raiz este
problema de terrorismo, de extremismo, favorecendo uma democracia inclusiva e um pluralismo
no respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. Este é o principal
campo de solução”.
RV: O suicídio da mulher curda-kamikaze, mãe
de dois filhos, mostra ainda mais o desespero destas pessoas...
Dom Zenari:
“É claro, estamos em um contexto dramático. Estas cenas são vistas infelizmente
cotidianamente. Estas atrocidades e barbáries, perpetradas não somente ultimamente
pelo Estado Islâmico, são vistas em toda a Síria há mais de três anos”.
RV:
No encontro dos Núncios no Vaticano se falou que somente a resposta militar não basta...
Dom
Zenari: “É claro. Acredito que esta seja uma idéia compartilhada na maior parte
dos lugares. É necessário ir à raiz do problema”.
RV: Qual é o futuro
das pequenas comunidades cristãs e das outras minorias nestes países?
Dom
Zenari: “Em relação à Síria, e sempre reitero isto, existe um sofrimento transversal
que atinge a todos, não faz distinção. É também verdade, no entanto, que os grupos
minoritários são o anel mais frágil da cadeia e portanto, são os mais expostos. Neste
momento, em que inicia o Sínodo dos Bispos sobre a família, o meu pensamento se dirige
às famílias daquela região. Tantas famílias estão refugiadas nos países vizinhos.
Vi e conheci tantas delas, que experimentaram a tragédia de ver mortos o pai ou a
mãe, ou ver crianças mortas ou mutiladas por estes artefatos de guerra. Não posso
esquecer aquela menina de nove anos que visitei em um hospital de Damasco no Sábado
Santo. Aos pés da cama estavam os seus pais em uma dor profunda, mas reservada. Três
dias antes, haviam amputado suas pernas e começava a se dar conta do que havia acontecido.
Esta tragédia é uma das tantas tragédias; outras famílias foram provadas por tragédias
parecidas, ver as crianças assassinadas... penso que neste Sínodo será levado o sofrimento
e os Patriarcas e os Pastores das Igrejas assumirão a tarefa de levar este sofrimento.
Será uma renovada solidariedade da Igreja universal para estas famílias particularmente
provadas”.(JE)