2014-10-06 18:13:23

Dom Zenari sobre violência no Oriente Médio: "Somente resposta militar não basta. É necessário ir à raiz do problema"


Cidade do Vaticano (RV) – Prossegue o avanço no Iraque e Síria dos jihadistas do auto-proclamado ‘Estado Islâmico’, não obstante os ataques aéreos da coalizão guiada pelos Estados Unidos. Os milicianos içaram sua bandeira preta em um bairro da cidade síria de Kobane, apesar da resistência dos curdos. Nas portas da cidade, uma mulher curda se fez explodir em meio a um grupo de islamitas. Após o encontro concluído no último sábado, no Vaticano, os Núncios do Oriente Médio retornam às suas sedes. A Rádio Vaticano perguntou ao Núncio de Damasco, Arcebispo Mario Zenari, que mensagem leva consigo deste encontro:

Dom Zenari: “Retorno levando uma mensagem de solidariedade ainda mais forte e também uma mensagem de esperança que, não obstante tudo, acredito que seja necessário ter. Foi uma bela reunião pois foram colocadas juntas as situações de vários países do Oriente Médio, provados por estes conflitos, sobretudo os sofrimentos do povo sírio e iraquiano. Ocorreram momentos de oração, pois esta é a nossa arma principal”.

RV: Não obstante os bombardeios, os jihadistas continuam a avançar...

Dom Zenari: “Infelizmente este extremismo nasce também, porque encontra um terreno favorável: estas situações não resolvidas, este conflito sírio que se arrasta por mais de 3,5 anos, são um húmus que alimenta estas forças extremistas. Portanto, é necessário o mais breve possível encontrar uma solução política para estes problemas. No Iraque, talvez, exista um leque de soluções; para a Síria infelizmente, devo dizer que a solução para o extremismo está ainda no limbo, enquanto as populações são submetidas a um sofrimento de inferno. Mas eu diria que a chave ainda não foi lançada ao fundo do mar. Se pode ainda trabalhar muito. A comunidade internacional deve aumentar os seus esforços e é necessário sair desta situação de sofrimento enorme para estas populações, resolver pela raiz este problema de terrorismo, de extremismo, favorecendo uma democracia inclusiva e um pluralismo no respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. Este é o principal campo de solução”.

RV: O suicídio da mulher curda-kamikaze, mãe de dois filhos, mostra ainda mais o desespero destas pessoas...

Dom Zenari: “É claro, estamos em um contexto dramático. Estas cenas são vistas infelizmente cotidianamente. Estas atrocidades e barbáries, perpetradas não somente ultimamente pelo Estado Islâmico, são vistas em toda a Síria há mais de três anos”.

RV: No encontro dos Núncios no Vaticano se falou que somente a resposta militar não basta...

Dom Zenari: “É claro. Acredito que esta seja uma idéia compartilhada na maior parte dos lugares. É necessário ir à raiz do problema”.

RV: Qual é o futuro das pequenas comunidades cristãs e das outras minorias nestes países?

Dom Zenari: “Em relação à Síria, e sempre reitero isto, existe um sofrimento transversal que atinge a todos, não faz distinção. É também verdade, no entanto, que os grupos minoritários são o anel mais frágil da cadeia e portanto, são os mais expostos. Neste momento, em que inicia o Sínodo dos Bispos sobre a família, o meu pensamento se dirige às famílias daquela região. Tantas famílias estão refugiadas nos países vizinhos. Vi e conheci tantas delas, que experimentaram a tragédia de ver mortos o pai ou a mãe, ou ver crianças mortas ou mutiladas por estes artefatos de guerra. Não posso esquecer aquela menina de nove anos que visitei em um hospital de Damasco no Sábado Santo. Aos pés da cama estavam os seus pais em uma dor profunda, mas reservada. Três dias antes, haviam amputado suas pernas e começava a se dar conta do que havia acontecido. Esta tragédia é uma das tantas tragédias; outras famílias foram provadas por tragédias parecidas, ver as crianças assassinadas... penso que neste Sínodo será levado o sofrimento e os Patriarcas e os Pastores das Igrejas assumirão a tarefa de levar este sofrimento. Será uma renovada solidariedade da Igreja universal para estas famílias particularmente provadas”.(JE)








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