Na Missa de abertura do Sínodo, o Papa Francisco invoca para os Padres sinodais "liberdade,
criatividade, diligência"
Com a Missa
concelebrada neste domingo de manhã, na basílica de São Pedro, pelo Papa Francisco,
com os Padres sinodais, foi inaugurada a III Assembleia geral extraordinária do Sínodo
dos Bispos, que decorrerá no Vaticano ao longo de duas semanas, tendo como tema “Os
desafios pastorais da família, no contexto da evangelização”.
Na homilia,
comentando as Leituras deste domingo, Papa Francisco observou que a vinha do Senhor
é o “sonho” de Deus, o projecto que Ele cultiva com todo o seu amor, como um agricultar
cuida da videira, com todos os cuidados… O «sonho» de Deus é o seu povo: Ele plantou-o
e cultiva-o, com amor paciente e fiel, para se tornar um povo santo, um povo que produza
muitos e bons frutos de justiça.
E contudo, tanto na antiga profecia como
na parábola de Jesus, o sonho de Deus fica frustrado. Isaías diz que a vinha, tão
amada e cuidada, «produziu agraços”. E no Evangelho, são os agricultores que arruínam
o projecto do Senhor: não trabalham para o Senhor, mas só pensam nos seus interesses.
Jesus dirige-se aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, isto é, aos «sábios»,
à classe dirigente. Foi a eles, de modo particular, que Deus confiou o seu «sonho»,
isto é, o seu povo, para que o cultivem, cuidem dele e o guardem dos animais selvagens.
Esta é a tarefa dos líderes do povo: cultivar a vinha com liberdade, criatividade
e diligência.
Mas Jesus diz que aqueles agricultores se apoderaram da vinha;
pela sua ganância e soberba, querem fazer dela aquilo que lhes apetece e, assim, tiram
a Deus a possibilidade de realizar o seu sonho a respeito do povo que Ele escolheu.
A tentação da ganância está sempre presente – advertiu o Papa. Ganância
de dinheiro e de poder. E, para saciar esta ganância, os maus pastores carregam sobre
os ombros do povo pesos insuportáveis, que eles próprios não põem nem um dedo para
os deslocar.
Também nós somos chamados a trabalhar para a vinha do Senhor,
no Sínodo dos Bispos. As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas
e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar
melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projecto de amor a respeito
do seu povo.
No caso desta assembleia sinodal – recordou o Papa - o Senhor
pede-nos para cuidarmos da família, que, desde os primórdios, é parte integrante do
desígnio de amor que ele tem para a humanidade. Contudo, a nós também nos pode vir
a tentação de «nos apoderarmos» da vinha, por causa da ganância que nunca falta em
nós, seres humanos. O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns
dos seus servidores. Podemos «frustrar» o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar
pelo Espírito Santo. O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para trabalharmos
generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade.
Para cultivar
e guardar bem a vinha – sublinhou Papa Francisco, a concluir a homilia, dirigindo-se
aos “Irmãos sinodais” - é preciso que os nossos corações e as nossas mentes sejam
guardados em Cristo Jesus pela «paz de Deus que ultrapassa toda a inteligência», como
diz São Paulo (Flp 4, 7). Assim, os nossos pensamentos e os nossos projectos estarão
de acordo com o sonho de Deus: formar para Si um povo santo que Lhe pertença e produza
os frutos do Reino de Deus.
A primeira intenção da Oração dos Fiéis, em chinês,
invocou de Deus, para os Padres Sinodais o dom da paz: “Que a paz de Deus, que vai
para além de toda a inteligência, conserve os seus corações e as suas mentes em Cristo
Jesus, Caminho, Verdade e Vida”. Em português, rezou-se pelos povos em guerra… Em
swahili, língua africana, rezou-se por todas as famílias – Para que a consolação do
Espírito Santo as apoie nas dificuldades da vida quotidiana e as ajude as não se angustiarem
em nenhum caso.
Eis o texto integral da homilia pronunciada pelo Papa:
Nas leituras de hoje, é usada a imagem da vinha do Senhor tanto pelo
profeta Isaías como pelo Evangelho. A vinha do Senhor é o seu «sonho», o projecto
que Ele cultiva com todo o seu amor, como um agricultor cuida do seu vinhedo. A videira
é uma planta que requer muitos cuidados! O «sonho» de Deus é o seu
povo: Ele plantou-o e cultiva-o, com amor paciente e fiel, para se tornar um povo
santo, um povo que produza muitos e bons frutos de justiça. Mas,
tanto na antiga profecia como na parábola de Jesus, o sonho de Deus fica frustrado.
Isaías diz que a vinha, tão amada e cuidada, «produziu agraços» (5, 2.4), enquanto
Deus «esperava a justiça, e eis que só há injustiça; esperava a rectidão, e eis que
só há lamentações» (5, 7). Por sua vez, no Evangelho, são os agricultores que arruínam
o projecto do Senhor: não trabalham para o Senhor, mas só pensam nos seus interesses.
Através da sua parábola, Jesus dirige-se aos sumos sacerdotes
e aos anciãos do povo, isto é, aos «sábios», à classe dirigente. Foi a eles, de modo
particular, que Deus confiou o seu «sonho», isto é, o seu povo, para que o cultivem,
cuidem dele e o guardem dos animais selvagens. Esta é a tarefa dos líderes do povo:
cultivar a vinha com liberdade, criatividade e diligência. Mas
Jesus diz que aqueles agricultores se apoderaram da vinha; pela sua ganância e soberba,
querem fazer dela aquilo que lhes apetece e, assim, tiram a Deus a possibilidade de
realizar o seu sonho a respeito do povo que Ele escolheu. A
tentação da ganância está sempre presente. Encontramo-la também na grande profecia
de Ezequiel sobre os pastores (cf. cap. 34), comentada por Santo Agostinho num famoso
Discurso que lemos, ainda nestes dias, na Liturgia das Horas. Ganância de dinheiro
e de poder. E, para saciar esta ganância, os maus pastores carregam sobre os ombros
do povo pesos insuportáveis, que eles próprios não põem nem um dedo para os deslocar
(cf. Mt 23, 4). Também nós somos chamados a trabalhar
para a vinha do Senhor, no Sínodo dos Bispos. As assembleias sinodais não servem para
discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem
para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu
projecto de amor a respeito do seu povo. Neste caso, o Senhor pede-nos para cuidarmos
da família, que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio de amor que ele
tem para a humanidade. A nós também nos pode vir a
tentação de «nos apoderarmos» da vinha, por causa da ganância que nunca falta em nós,
seres humanos. O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns dos seus
servidores. Podemos «frustrar» o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar pelo Espírito
Santo. O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para trabalharmos generosamente
com verdadeira liberdade e humilde criatividade.
Irmãos, para
cultivar e guardar bem a vinha, é preciso que os nossos corações e as nossas mentes
sejam guardados em Cristo Jesus pela «paz de Deus que ultrapassa toda a inteligência»,
como diz São Paulo (Flp 4, 7). Assim, os nossos pensamentos e os nossos projectos
estarão de acordo com o sonho de Deus: formar para Si um povo santo que Lhe pertença
e produza os frutos do Reino de Deus (cf. Mt 21, 43).