2014-10-04 10:00:19

Sínodo: expectativa para os números 95 a 104 do Instrumentum Laboris – o teólogo José Carlos Carvalho


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O Sínodo dos Bispos sobre “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização” que se inicia neste domingo, dia 5 de outubro está gerar muitas expectativas em todo o mundo católico e a atrair a atenção dos órgãos de comunicação social. Para fazermos uma leitura deste acontecimento tão importante pedimos um comentário ao teólogo José Carlos Carvalho, professor da Universidade Católica Portuguesa.

Partindo do Instrumento de Trabalho proposto para este Sínodo, José Carlos Carvalho começou por salientar a diversidade do documento:

“Nós não estávamos habituados mas é muito bom ver que reúne as diferentes sensibilidades da Igreja Universal. E é giro ver como se vai, ao fazer a síntese, mostrando há umas tendências na Europa, esta tendência em África, outras tendências na Ásia, vão-se mostrando, digamos, as diferentes sensibilidades, os vários estilos. Eu penso que é uma boa recolha, que é um bom resumo e vê-se a diversidade da Igreja: teológica, espiritual, disciplinar também. Penso que é um documento que não foge às dificuldades, que aborda com frontalidade, que põe as cartas todas em cima da mesa.”

Este teólogo gostou do Instrumento de Trabalho, sobretudo, a partir do número 66:

“ Gostei de ver a partir do número 66. A Igreja mostra como se vai preocupando com a família, o que vai tentando conseguir fazer por ela, nos vários movimentos nos vários encontros, com os vários intervenientes. Eu acho que se há instituição que ainda… Se calhar será a única que ainda faz alguma coisa pela família. E alguma coisa concreta! E que reconhece que por vezes nas dioceses, nem sempre consegue chegar à concretização dessa ajuda, dessa companhia. E que, muitas vezes, corre o risco e ficar só pela descrição, pela abordagem das temáticas. Realiza um simpósios e uns congressos muito giros, mas depois o problema é e agora, concretamente, aonde é que nós chegamos a quem é que nós chegamos. E a partir do nº 66 há esse reconhecimento mas há também o elogio do muito que se vai fazendo.”

O teólogo José Carlos Carvalho, considera, no entanto, que este Sínodo poderá não servir para nada se não forem enfrentados os problemas apresentados nos números 95 a 104 do Instrumento de Trabalho:

“Desse Instrumento aquilo que me preocupa são duas coisas: o que é que se vai fazer com os números 95 a 104? Se é para continuar o que lá está então o Sínodo não vai servir para nada. E preocupa-me que se dê grande relevo… Lá está a diversidade da Igreja! Pois a mim preocupa-me que se dê grande relevo no Instrumento de Trabalho a uma instituição eclesiástica, como se as outras não pensassem sobre a Família. Como se o único instituto na Igreja que pensasse sobre a Família fosse o Instituto João Paulo II da Universidade Lateranense em Roma. Eu acho que esse é o ponto decisivo: ou se altera e se encara de frente os números 95 a 104…
A questão dos recasados, das famílias recompostas, da disciplina eclesiástica, do acolhimento desses casais, porque a linguagem que lá está é o que se continua a fazer e não muda nada… E está lá referido, e bem, não está escamoteada a relação com o mundo da ortodoxia, e com a questão doutrinal e disciplinar do Concílio de Trento.
Por isso, eu estou com grande expectativa para ver se se vai enfrentar aquilo que é tratado nesses números ou não. Se for para continuar como está foi perder tempo. Para falar das famílias monoparentais, das tendências europeias isso a gente já sabe e não é preciso nenhum sínodo.
Portanto, como Instrumento eu gostei de o ler, põe todas as cartas em cima da mesa, vamos ver se as consegue baralhar e dar como deve ser, se as joga como deve ser.”

O teólogo José Carlos Carvalho considerou ainda ser uma aposta de risco a decisão do Santo Padre de lançar este Sínodo sobre a Família, porque “sempre que nós nos enfrentamos com a Palavra de Deus é arriscado”:

“É uma aposta arriscada do Papa Francisco: até onde é que ele mede o risco! E quando eu falo em risco… Sempre que nós nos enfrentamos com a Palavra de Deus é arriscado. Começa logo por aí. Ou a gente se abre ou então vamos escolher aquilo que nos convém de que gostamos mais. É o eterno problema da interpretação e do diálogo das fontes da revelação com o mundo e do mundo perante a própria revelação. E é arriscado, como eu disse, sempre que a gente vai à fonte corre sempre riscos… Porque vai ser obrigado… se quer ou não alterar procedimentos, estilos de vida, maneiras de estar, formas de testemunho…, de assumir ou não transparências… E ao abrir a caixa de pandora, não no sentido negativo mas no sentido positivo, pode ser que nem toda a gente esteja preparada para tal. Nesse sentido é arriscado.” (RS) RealAudioMP3








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