Embaixador de Cabo Verde em Roma recorda a tragédia de Lampedusa
Hoje, 3 de
outubro é Dia de Memória em Lampedusa. Há precisamente um ano, ao largo dessa pequena
ilha siciliana, 368 migrantes, na sua grande maioria jovens africanos, perdiam a vida
naquele que foi até agora o mais terrível naufrágio de migrantes no Mar Mediterrâneo.
A jornalista italiana da nossa Emissora, Francesca Sabatinelli, sublinha o seguinte
numa sua peça:
“Eram quase todas eritreias, as vítimas: homens, mulheres
crianças em fuga da guerra e da pobreza, em direcção à Europa, à procura de protecção
e de um futuro. 155 os sobreviventes, que ainda hoje não conseguem esquecer aquele
horror: um incêndio, casado, infelizmente, pelos próprios migrantes, fez naufragar
o precário barco em que se encontravam, fazendo cair ao mar as cerca de 500 pessoas
que se encontravam a bordo. As imagens foram de uma tragédia sem precedentes, e nas
horas que se seguiram deram a volta ao mundo: uma fila interminável de corpos postos
um ao lado do outro, no porto, envolvidos em sacos de plástico; dezenas e dezenas
de vidas interrompidas. E depois o infatigável trabalho dos socorristas que, por dias
inteiros imersos nas águas sicilianas, procuraram sobreviventes e recuperaram vítimas.
Na sequência desse horror - que antes de mais mobilizou a solidariedade dos
habitantes de Lampedusa - a Itália lançou a vasta operação denominada "Mare Nostrum"
para patrulhamento e socorro e que, nestes meses, conduziu a Porto seguro 140 mil
pessoas.
Não obstante isto, a OIM, Organização Internacional das Migrações,
denuncia que desde o inicio deste ano já morreram no Mediterrânio três mil migrantes.
Em Novembro próximo, "Mare Nostrum" - cujas despesas não podem continuar
a ser sustidas unicamente pela Itália - deixará lugar a "Tritone" (inicialmente denominado
"Frontex Plus") operação conjunta gerida pela agencia europeia Frontex que, no entanto,
segundo muitos peritos não estará nunca ao nível de Mare Nostrum na gestão dos Socorros.
A União Europeia, repetem em coro as organizações humanitárias - deve “patrulhar
as águas internacionais e garantir um refugio na Europa às pessoas que fogem dos próprios
países mediante canais regulares, percursos de solidariedade e vistos humanitários”
***
O Embaixador de Cabo Verdejunto do Estado italiano, Dr. Manuel Amante,
foi um dos cinco embaixadores africanos que foram a Lampedusa o ano passado por ocasião
desse terrível naufrágio. "Uma experiencia dolorosa" - sublinha, frisando que o corpo
diplomático africano em Itália inform-se constantemente junto do Estado italiano sobre
o andamento da situação, uma situação perante a qual - diz - a África se sente impontente,
pois que se trata de redes de criminosos que embarcam os migrantes em naus inseguras.
Oiça as suas palavras…
Cabo Verde,
país de emigração, é - disse-nos há poucos dias em Roma a Ministra das Comunidades
- solidaria com a situação dos migrantes que viajam em condições de insegurança.
Fernanda Fernandes considera que ninguém pode ficar indefernte a esse fenómeno
que leva à perda de tantas vidas humanas, especialmente jovens. Por isso Cabo Verde
se sente também interpelada por esta situação que, de tanto repetir-se corre o risco
de parecer normal.
Quanto à sua
migração, é sobretudo com a questão dos deportados, especialmente dos Estados Unidos,
que Cabo Verde se tem visto a braços. Razão pela qual um dos pilares da sua estratégia
política é preparar as pessoas que optam pela emigração a fazerem-no com consciencia
das vantagens e desvantagem dessa opção. E começaram por fazer essa ação de informação
prcisamente em relação aos que emigram para os Estados Unidos.
Foto: O Embaixador
Manuel Amante (segundo da esquerda) com outros Embaixadores africanos em Lampedusa
em Outubro de 2013, prontos a lançar ao mar coroas de flores em memória dos emigrantes
perecidos no mar.