2014-10-02 19:27:30

Papa Francisco: não se pode deixar de preocupar-se com os pobres e a justiça social


Cidade do Vaticano (RV) - O Estado de direito social "não deve ser desmantelado", sobretudo "o direito fundamental ao trabalho". Foi o que afirmou o Papa Francisco recebendo em audiência na manhã desta quinta-feira, na Sala Clementina, os participantes da plenária do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, em andamento no Vaticano. Sem mais tardar, disse o Pontífice, são necessárias "reformas" para a redistribuição da riqueza e garantias de acesso à educação e à saúde para todos os mais pobres, de modo a eliminar desequilíbrios e injustiças.

Aquilo que para um ser humano vale a própria dignidade não pode ser um capricho sujeito ao humor das Bolsas. Sobretudo quando há pessoas, aliás, "milhões de pessoas", cuja dignidade vale "menos de dois dólares por dia". Como sempre, o Santo Padre reafirmou de modo contundente o trabalho como direito não negociável e condenou toda e qualquer forma de exploração.

Sua reflexão não deixou de evidenciar limitações da globalização, processo muitas vezes fora de controle no que concerne à equidade, porque, embora tenha crescido a riqueza de muitos Estados, todavia – estigmatizou Francisco –, "também aumentou a discrepância entre vários grupos sociais, criando desigualdades e novas pobrezas nos próprios países considerados mais ricos":

"Tal desequilíbrio não somente não respeita a dignidade daqueles que oferecem a mão de obra a baixo preço, mas destrói fontes de trabalho naquelas regiões em que este é mais fortemente tutelado. Coloca-se aí a necessidade de criar mecanismos de tutela dos direitos do trabalho, bem como do ambiente, na presença de uma crescente ideologia consumista, que não mostra responsabilidade diante das cidades e da criação."

O Papa recordou que na Evangelii gaudium "a educação, a assistência da saúde e o trabalho para todos" foram indicados como os "três instrumentos fundamentais para a inclusão social dos mais necessitados":

"Em outras palavras, o Estado de direito social não deve ser desmantelado e, em particular, o direito fundamental ao trabalho. Este não pode ser considerado uma variante dependente dos mercados financeiros e monetários (...) Visões que pretendem aumentar a renda, a custo da restrição do mercado de trabalho que cria novos excluídos, não são conformes a uma economia a serviço do homem e do bem comum, a uma democracia inclusiva e participativa."

Outra questão à qual o Papa se ateve diz respeito ao que ele define os "contínuos desequilíbrios entre setores econômicos, entre remunerações, entre bancos comerciais e bancos de especulação, entre instituições e problemas globais". É necessário manter a preocupação com os pobres e com a justiça social.

"Ela exige, de um lado, profundas reformas que preveem a redistribuição da riqueza produzida e a universalização de mercados livres a serviço das famílias; de outro, a redistribuição da soberania, quer a nível nacional, quer a nível supranacional."

O Papa Francisco abriu e concluiu seu discurso referindo-se à Carta encíclica "Caritas in veritate" de Bento XVI, documento fundamental, afirmou, para "a evangelização social":

"O princípio da Caritas in veritate é de extrema atualidade. De fato, um amor repleto de verdade é a base sobre a qual construir aquela paz que hoje é particularmente almejada e necessária para o bem de todos. Permite superar fanatismos perigosos, conflitos pela posse dos recursos, migrações de dimensões bíblicas, as chagas duradouras da fome e da pobreza, o tráfico de pessoas, injustiças e disparidades sociais e econômicas, desequilíbrios no acesso aos bens coletivos." (RL)







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