Pe. Gutierrez disserta nos EUA sobre a opção de Francisco pelos pobres
Cidade do Vaticano (RV) - O Professor da cátedra John Cardeal O’Hara de Teologia
e “pai da Teologia da Libertação”, Padre Gustavo Gutiérrez, apresentou no último dia
25, a palestra “Papa Francisco e a opção preferencial pelos pobres”, como parte do
Congresso Internacional sobre Dom Oscar Romero”, realizado pelo Instituto Kellogg,
da Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA).
A reportagem é de Gabriela Malespin,
publicada por The Observer, em 26-09-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Pe.
Gustavo Gutiérrez centrou sua palestra no chamado cristão à solidariedade e justiça
social pelos pobres, ao mesmo tempo enfatizando a necessidade de se compreender a
relação fundamental entre a teologia cristã e a erradicação da pobreza. Pe. Gutiérrez
disse que “com os ensinamentos do Papa Francisco, estamos voltando à nossa fonte”.
“Proclamar
o Evangelho é isto: Jesus está tentando fazer presente o Reino de Deus hoje, em nossa
história”, declarou. “Falar sobre os pobres da Igreja significa também lembrar esta
relação entre o amor de Deus e o amor pelo próximo”.
Segundo ele, “a passagem
bíblica da Santa Ceia serve como uma memória de Cristo e de sua mensagem de servir
e amar o próximo. Esta passagem, assim como outras, demonstraram a ligação entre a
Igreja e os pobres”.
“Temos que lembrar um ponto central da mensagem cristã:
somos desafiados por esta memória”, disse. “O ponto central é a relação entre o Reino
de Deus e os pobres. Este ponto, penso eu, quando o realizarmos, estaremos verdadeiramente
no centro da mensagem evangélica. A questão do pobre não é só uma questão social.
É, sobretudo, uma questão bíblica”.
O Padre também destacou o trabalho de Dom
Oscar Romero junto aos empobrecidos e marginalizados em El Salvador, e disse que o
legado deste líder serviu como “testemunho do ponto central da mensagem cristã”.
Pe.
Gutiérrez leu uma citação de Dom Romero, que diz: “Há um critério para saber se Deus
está perto de nós ou se está longe: todo aquele que se preocupa com o faminto, com
o maltrapilho, o pobre, o desaparecido, o torturado, o prisioneiro, com todos esses
corpos que sofrem, está perto de Deus”.
Segundo o teólogo, a capacidade de
amar e servir ao próximo é melhor exemplificada por uma compreensão da pobreza espiritual
e da capacidade de se envolver em solidariedade e amizade junto aos pobres.
Falou
também que a forma correta de servir aos pobres não é imitar uma vida de pobreza,
mas sim condenar a pobreza como uma condição que desumaniza os outros. Disse que a
Igreja não tolera a pobreza porque esta representa a marginalização e a eliminação
da identidade humana.
“Jamais a pobreza é algo bom. (...) A verdadeira pobreza
não é só econômica, é política, social”, acrescentou. “Os pobres são [percebidos como]
pessoas insignificantes por várias razões: razões culturais, razões raciais, razões
de gênero. Ser pobre é ser nada”.