Papa exorta Jesuítas a remarem e a serem fortes, mesmo com vento contrário
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu às 17h locais deste sábado,
na "Chiesa del Gesù" (Igreja de Jesus) – igreja-mãe dos Jesuítas – situada no centro
de Roma –, as Vésperas e Ação de Graças, por ocasião do bicentenário da restauração
da Companhia de Jesus por obra de Pio VII em 1814, após a supressão por parte do Papa
Clemente XIV em 1773.
Durante a homilia da celebração, após recordar que a
Companhia viveu tempos difíceis, de perseguição, em que os inimigos da Igreja conseguiram
obter a supressão da Companhia, o Santo Padre frisou que hoje, recordando a sua restauração,
"somos chamados a recuperar a nossa memória, recordando os benefícios recebidos e
os dons particulares" (cfr Exercícios Espirituais, 234).
O Pontífice frisou
que a Companhia viveu a humilhação com Cristo humilhado, obedeceu.
"Não se
salva nunca do conflito com a esperteza e com estratégias para resistir. Na confusão
e diante da humilhação, a Companhia preferiu viver o discernimento da vontade de Deus,
sem buscar um modo para sair do conflito em maneira aparentemente tranqüila."
Tendo
evocado a postura com a qual o último Prepósito Geral de então, Pe. Lorenzo Ricci,
viveu este tempo de tribulação para a Companhia, o Papa Francisco disse que, nesta
ocasião de confusão e de perda, Pe. Ricci chegou a falar, justamente, dos pecados
dos jesuítas. "Não se defende sentido-se vítima da história, mas se reconhece pecador".
Portanto,
ressaltou o Papa, diante da humilhação, a Companhia preferiu viver o discernimento
da vontade de Deus – o único que salva do egoísmo e do mundanismo – e reconhecer os
próprios pecados, evitando assim colocar-se na condição de vítima:
"Olhar
a si mesmos reconhecendo-se pecadores evita de colocar-se na condição de considerar-se
vítimas diante de um carrasco. Reconhecer-se pecadores, reconhecer-se realmente pecadores,
significa colocar-se na atitude justa para receber a consolação."
Mesmo
diante de seu fim, a Companhia "permaneceu fiel ao fim para o qual tinha sido fundada":
caridade, união, obediência, paciência, simplicidade evangélica, verdadeira amizade
com Deus e total confiança no Senhor. "Todo o resto é mundanismo", afirmou o primeiro
Papa jesuíta.
A chama da maior glória de Deus – foi o auspício de Francisco
– "também hoje nos atravesse, queimando toda complacência e envolvendo-nos em uma
chama que temos dentro, que nos concentra e nos expande, nos faz crescer e diminuir".
"Deus
é misericordioso, Deus coroa de misericórdia. Deus nos quer bem e nos salva. Às vezes
o caminho que conduz à vida é estreito, mas a tribulação, se vivida á luz da misericórdia,
nos purifica como o fogo, nos dá tanta consolação e inflama o nosso coração afeiçoando-o
à oração. Os nossos irmãos jesuítas na supressão foram ardentes no espírito e no serviço
do Senhor, alegres na esperança, constantes na tribulação, perseverantes na oração.
E isto deu honra à Companhia, não certamente as comendas de seus mérito. E assim sempre
será."
"Recordemo-nos da nossa história: à Companhia foi dada a graça não
somente de acreditar no Senhor, mas também de sofrer por Ele. Recordar isso nos fará
bem", exortou Francisco.
Também a Igreja, barca de Pedro, pode ser hoje, abalroada
pelas ondas, como foi então a nave da Companhia de Jesus, refletiu o Papa. A noite
e o poder das trevas "são sempre próximos":
"Cansa remar. Os jesuítas devem
ser “remadores especialistas e valorosos” (Pio VII, Sollecitudo omnium ecclesiarum):
remem, portanto! Remem, sejam fortes, mesmo com o vento contrário! Rememos a serviço
da Igreja. Rememos juntos! Mas enquanto remamos – todos remamos, também o Papa rema
na barca de Pedro – devemos rezar tanto: “Senhor, salva-nos!”, “Senhor, salva o teu
povo!”. O Senhor, mesmo se somos homens de pouca fé nos salvará. Esperemos no Senhor!
Esperemos sempre no Senhor!." (RL/JE)