Belo Horizonte (RV) - Colapsos e ameaças de crises emolduram, de modo muito
preocupante, as Eleições deste ano. Obviamente, trata-se de um alto preço que a sociedade
brasileira está pagando, em razão de prejuízos causados ao longo de diferentes etapas
da história. Essa constatação não é um agouro pessimista para obscurecer conquistas
e avanços. Percebe-se que as demandas são tão grandes e a incompetência para enfrentá-las
é tão evidente que não há como amainar a preocupação. Isto precisa tornar-se vetor
de interpelação e incômodo na consciência cidadã em geral. Não se pode reduzir ao
espaço estreito da política partidária a discussão sobre os rumos do Estado Brasileiro.
As
questões são mais complexas e enraizadas, de tal maneira que exigem uma novidade que
não pode se restringir às siglas partidárias, nem aos chavões que anunciam “o novo
na política”. Precisa-se de uma renovação mais profunda e revolucionária de entendimentos.
O que se constata, lamentavelmente, é a pouca atenção com a conquista de predicados
que possibilite a cidadãos, especialmente àqueles que disponibilizam seus nomes ao
sufrágio nas urnas, participarem de modo qualificado da política. É grave, pois, o
colapso, já cristalizado no funcionamento da sociedade, fruto da equivocada compreensão
de que política é oportunidade para ganhar poder, enriquecer-se e distribuir favores,
em benefício de correligionários. Esta conduta enfraquece o entendimento de que a
participação na vida pública precisa ser fundamentada na nobreza de servir o povo.
Os
resultados são desastrosos e provocam desânimo no eleitor. Chega-se à situação extrema
de ouvir, com frequência, nas conversas cotidianas, que a escolha de candidatos não
será pela observação das qualidades, mas pela avaliação de que determinado concorrente
é “menos ruim”. A responsabilidade por se ter chegado a isso há de ser partilhada
pelo conjunto da sociedade, com uma fatia maior para aqueles que exercem cargos de
poder e liderança, formadores de opinião e educadores. Percebe-se uma realidade que
clama por urgentes reformas, uma constatação cada vez mais consensual entre todos,
no entanto sem sinais de avanços rumo à efetivação. Para realizá-las, são necessárias
mudanças de mentalidade. Cada pessoa deve revitalizar o próprio senso de cidadania,
priorizar projetos que busquem o bem da sociedade e o crescimento das instituições
de onde conseguem o próprio sustento.
Se todos buscassem esta meta, surgiria
um grande movimento, com força de incidência, antídoto necessário para corrigir o
afã da corrupção e a falta de vergonha que permite o leilão do patrimônio público
em favor de interesses particulares. Permanecer na mesmice é conformar-se com a mediocridade
de propostas, reflexo de quem busca fazer o mínimo, sem coragem para enfrentar sacrifícios,
considerando o trabalho apenas como possibilidade de ganho pessoal, a partir da lógica
do “quanto mais, melhor”.
Na raiz dos problemas, está um sério colapso moral
de valores e princípios, que provoca crises em muitos campos. As notícias recentes
informam, por exemplo, sobre a estagnação da economia. Preocupa também, e torna-se
sinal de alerta, a falta de água, fruto da exploração gananciosa do meio ambiente,
prenúncio de situações caóticas. As crises, de vários tipos, pesam nos ombros da sociedade
e, se nada for feito, permanecerá delineado um futuro em que elas se apresentarão
com maior densidade. É urgente recomeçar. O primeiro passo é a renovação da consciência
de cada pessoa no exercício da cidadania e de suas tarefas. Trata-se de construir
uma nova cultura, com a ajuda da arte, da beleza e da espiritualidade, do respeito
a memórias, da recuperação de sensibilidades que combatem e curam as mediocridades.
Espera-se,
de políticos a construtores da sociedade pluralista, de lideranças a cidadãos comuns,
a inspiração a partir de um horizonte humanístico, e não meramente mercadológico.
Somente assim as Eleições de 2014 e o decorrer dos dias da sociedade brasileira serão
salvos dos prejuízos resultantes de tantos colapsos. A recuperação das perdas supõe
a nobreza da cidadania.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte