Berlim (RV) - Os muçulmanos da Europa, horrorizados com as atrocidades do grupo
Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, mobilizam-se contra os jihadistas organizando
nos dias passados na Alemanha um dia de protesto contra o ódio, uma manifestação na
Noruega, e até uma campanha mundial no Twitter na Grã-Bretanha. Os muçulmanos europeus
temem ser ligados aos atos violentos dos jihadistas, amplamente difundidos pelas redes
sociais, ou inclusive à radicalização de alguns de seus membros.
No entanto,
a intensidade da mobilização varia de acordo com os países. Na Grã-Bretanha, a fundação
Active Change lançou uma hashtag "Não em meu nome" (#notinmyname) que convoca os tuiteiros
muçulmanos a enviar mensagens contrárias ao grupo Estado Islâmico. A campanha teve
um sucesso espetacular com milhares de mensagens em todo o planeta. Na Alemanha (4
milhões de muçulmanos, 5% da população), cerca de 2.000 mesquitas nas principais cidades
do país participaram de um dia de "Muçulmanos contra o ódio e a injustiça".
As
imagens de muçulmanos rezando em Berlim, no populoso bairro de Kreuzber, chamado de
pequena Istambul, impactou a opinião pública. No entanto, o jornal Frankfurter Allgemeine
Zeitung (FAZ) disse que existe um sentimento de hostilidade crescente em relação aos
muçulmanos. É lamentável que "pessoas que cresceram e foram educadas aqui, que formam
parte da sociedade, ainda devam explicar que não são criminosas", disse Fazli Altin,
presidente da Federação Islâmica de Berlim.
Na Noruega, 5.000 pessoas, segundo
os organizadores, participaram no fim de agosto de uma marcha convocada por jovens
muçulmanos. Na França, "os muçulmanos condenam firmemente este 'Estado' que não tem
nada de Islâmico", disse à AFP Abderrahman Dahman, presidente do Conselho dos Democratas
Muçulmanos da França. Dahman é um dos impulsionadores de um apelo lançado recentemente
contra o Estado Islâmico por responsáveis religiosos, mesquitas e associações muçulmanas.
No entanto, Dahman reconhece que a maior comunidade muçulmana da Europa permaneceu
em sua maioria silenciosa. "Por que? Por uma razão muito simples: estão fartos da
islamofobia, da discriminação", explica Dahman. Ghaleb Bensheij, presidente da Conferência
Mundial de Religiões para a Paz, lamenta que "o vocabulário, as palavras do Islã tenham
sido confiscados por criminosos e terroristas. As palavras fatwa, jihad, califado,
foram deturpadas. Jihad era um esforço no caminho de Deus, se converteu em um sinônimo
de barbárie", afirma.
Abdelasiem El Difraoui, autor de "Al-Qaeda através da
imagem", diz que "o meio muçulmano está alarmado, assustado". O Estado Islâmico é
"uma seita que não tem a ver com o islã, vai contra a corrente da ortodoxia sunita",
sustenta. A radicalização é assunto de uma ínfima minoria, insiste El Difraoui. (SP-AFP)