Card. Koch: Prossegue diálogo católico-ortodoxo, apesar das dificuldades
Cidade do Vaticano
(RV) – “A verdadeira alegria da fé aprendemos daqueles que sofrem, dos pobres”.
Palavras do Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos,
Cardeal Kurt Koch, na conclusão da Plenária da Comissão Mista Internacional para o
Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, realizada em Amã, Jordânia,
de 15 a 23 de setembro. Em destaque nos trabalhos, a análise do esboço do documento
intitulado “Sinodalidade e Primado”, redigida pelo Comitê de Coordenação da Comissão
em Paris, em 2012. A Rádio Vaticano perguntou ao Cardeal Koch, qual o progresso mais
importante ocorrido deste encontro:
Card. Koch: “O progresso mais
importante – na minha opinião – é que todos os participantes estão dispostos e desejosos
de continuar o diálogo, mesmo que não seja exatamente fácil. Nesta ocasião, não foi
possível apresentar à opinião pública um documento. De fato, o documento de preparação
que havia sido proposto para a discussão e redigido pelo Comitê de coordenação de
Paris, foi rejeitado, sobretudo pelos ortodoxos. Assim, decidimos preparar um novo
documento sobre os pontos mais importantes referentes ao tema principal que era a
“Sinodalidade e o Primado no primeiro milênio”. Este documento foi considerado como
‘não-amadurecido’. A este ponto, estabelecemos que no próximo ano se realizará um
novo Comitê de coordenação para aprofundar e melhorar o texto e para chamar, depois,
a umanova Assembléia Plenária, de modo a poder completar o texto”.
RV:
Onde e quando o senhor deseja que a nova Plenária possa ser realizada?
Card.
Koch: “O próximo Comitê de Coordenação, como eu dizia, terá lugar no próximo
ano; 2016 será um ano difícil para os ortodoxos, pois está prevista a realização do
Sínodo Pan-Ortodoxo e as Igrejas Ortodoxas estão muito empenhadas. Penso, portanto,
que a próxima Assembléia Plenária não poderá ser realizada antes de 2017”.
RV:
O senhor espera que no Sínodo Pan-Ortodoxo de 2016 esteja na sua ordem do dia também
a questão das relações ecumênicas com o mundo católico, e que assim se possa dar qualquer
passo em frente?
Card. Koch: “Eu espero fortemente que este Sínodo
Pan-ortodoxo se realize. De fato, a Assembleia Plenária nos mostrou as muitas diferenças
existentes entre as próprias Igrejas Ortodoxas. Talvez existam mais diferenças entre
os ortodoxos, do que entre ortodoxos e católicos. E se durante o Sínodo Pan-ortodoxo
as Igrejas Ortodoxas conseguirem encontrar uma maior unidade entre elas, isto será
de grande ajuda também para a continuação do nosso diálogo”.
RV:
Por tradição, a Igreja Ortodoxa russa teve grandes dificuldades em aceitar os princípios
enunciados no Documento de Ravena, sobre o qual se baseia esta discussão. Isto representa
ainda um problema importante para o senhor nesta discussão?
Card. Koch:
“O problema maior que a Igreja russo-ortodoxa vê no Documento de Ravena, é o parágrafo
no qual se fala do plano universal em vista da relação entre sinodalidade e primado.
Aceitam um primado a nível geral, mas não no sentido teológico. E isto se torna um
desafio difícil para nós católicos; devemos encontrar um maior consenso. Mas posso
dizer, honestamente, que nesta assembléia, a colaboração com a delegação russo-ortodoxa
foi boa. O Metropolita Hilarion declarou-se disposto a colaborar no Comitê de redação
para a elaboração do novo texto, ou seja, uma colaboração realmente boa. E depois,
naturalmente, o que sempre transparece dele é a grande crítica dirigida à Igreja Greco-católica
na Ucrânia, e neste contexto ele sempre reiterou muito claramente que o uniatismo
– isto é, as Igrejas uniatas -, representam uma ferida no Corpo de Cristo. E aqui,
infelizmente, me permito de contradizê-lo e de responder-lhe que a verdadeira ferida
é a divisão da Igreja entre Leste e Oeste e que o uniatismo é uma conseqüência desta
ferida, e que se queremos resolver o problema do uniatismo devemos encontrar a unidade:
somente assim poderemos resolver este problema”.
RV: O encontro
realizou-se em Amã, na Jordânia, onde se encontram centenas de milhares de refugiados
católicos e ortodoxos, fugidos dos conflitos no Iraque e na Síria. Este testemunho
comum, esta perseguição comum, este ecumenismo do martírio – como às vezes é chamado
– poderá fazer a diferença no sentido de ajudar as Igrejas a encontrarem uma visão
comum?
Card. Koch: “No início eu estava um pouco preocupado, pois
fomos justamente nesta região desenvolver o nosso diálogo. Esperava que daríamos um
sinal melhor da unidade entre ortodoxos e católicos, justamente nesta difícil situação.
Após, porém, também me comovi com o encontro com o Príncipe da Jordânia, que quis
fazer uma visita à Assembléia Plenária, por cuja realização havia trabalhado muito,
e que falou: “Justamente quando existem as crises é que não se deve colocar fim ao
diálogo, pelo contrário, se deve continuá-lo”. E acredito que este tenha sido um bom
sinal. Naturalmente, todos estávamos muito preocupados pela situação do Oriente Médio;
rezamos tanto pelos irmãos e irmãs perseguidos. Ficamos também muito tocados pela
grande disponibilidade que o Rei da Jordânia demonstra em relação aos refugiados:
acredito que atualmente existam na Jordânia cerca de 1 milhão de refugiados, sobretudo
vindos do Iraque, e todos são acolhidos. Tivemos a ocasião – uma pequena delegação,
em particular os dois presidentes da Comissão – de ir a um campo de refugiados e foi
muito comovente o encontro com estas pessoas, perceber o medo deles... E o que mais
me tocou foi a alegria que emanava para a fé deles e isto me fez entender mais uma
vez que a verdadeira alegria da fé, a aprendemos daqueles que sofrem, dos pobres”.
(JE)