Uma pastoral criativa e ousada anunciando a alegria do Evangelho – D. António Francisco,
Bispo do Porto
Anunciar a
alegria do Evangelho junto dos que mais sofrem visitando todas as 477 paróquias da
diocese, são as grandes prioridades de D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto.
A nossa rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo” dá hoje atenção especial a esta grande
diocese portuguesa que recebeu em abril passado o seu novo bispo. O Programa Português
da Rádio Vaticano entrevistou D. António Francisco dos Santos no Paço Episcopal da
cidade do Porto.
D. António Francisco recebeu-nos com a afabilidade própria
de quem todos quer acolher na simplicidade evangélica de um pastor que, tal como recomenda
o Papa Francisco, deve estar na frente, no meio e atrás do rebanho. E foi, precisamente,
pelo Papa Francisco que começamos a nossa entrevista. D. António afirmou a sua gratidão
pelo exemplo e pelo testemunho do Santo Padre:
“ Eu não me atrevo a fazer
um balanço da atividade e da mensagem do Papa Francisco mas sinto que esta é a oportunidade
de lhe dizer obrigado. A gratidão para a forma como ele anuncia o Evangelho, para
o modo como ele exerce a sua missão e o seu múnus, mas sobretudo a gratidão por aquilo
que ele é, pela pessoa, pelo padre, pelo bispo e pelo Papa que ele é. A
eleição do Papa Francisco surpreendeu-nos como Deus nos surpreende sempre com bem
e levou-me a procurar o itinerário do Papa Francisco como arcebispo de Buenos Aires,
para perceber os caminhos que ele tinha percorrido, as metas a que ele se tinha proposto,
a pedagogia pastoral que ele tinha exercitado na sua vida de pastor numa diocese.
E surpreendeu-me com esta capacidade que ele tinha da proximidade e de ir ao encontro
das comunidades e de levar sempre esta doce alegria de evangelizar e, ao mesmo tempo,
este encanto pelo amor de Deus. Um Deus que nos ama transforma-nos, um Deus que nos
ama coloca-nos ao serviço dos outros e esse testemunho da aprendizagem da sua pedagogia
pastoral, da sua planificação pastoral em Buenos Aires ensinou-me muito. Agora,
aqui no Porto, nesta comunhão com ele e sentindo de que foi também ele que me chamou
a esta missão e ao munus de servidor como bispo da Igreja do Porto, esta comunhão
com ele é ainda mais intensa. Eu tive oportunidade de estar com o Papa Francisco em
setembro do ano passado no dia 28 de setembro aquando do Congresso Mundial da Catequese
e sentir aquilo que ele nos disse e sentir ao mesmo tempo os desafios que nos lançou
e o exemplo que nos dá. E ao decidir ir ao encontro das 477 paróquias da nossa diocese
do Porto eu procurei também fazê-lo nesta comunhão e neste aprender com a forma como
o Papa Francisco o faz.”
Partindo, assim, do desafio do Papa Francisco
lançado pela Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, D. António Francisco dos Santos
lançou para a Diocese do Porto o lema: “A alegria do Evangelho é a nossa missão”.
E vai percorrer as 477 paróquias da Diocese propondo uma pastoral criativa e ousada:
“Eu
penso que a pastoral tem de ser criativa e ousada e sobre isso eu gostaria de lhe
deixar apenas dois tópicos que marcam os gestos pedagógicos de um caminho pastoral
a percorrer. O primeiro vem ao meu espírito a partir de um testemunho de um homem
que encontrei aqui no Terreiro da Sé e que me falou que quando era criança andava
a jogar no Terreiro da Sé e o senhor D. António Ferreira Gomes que foi nosso bispo
aqui no Porto perguntou-lhe: ‘rapaz de onde és’ e ele disse: ‘eu vivo aqui pertinho,
sou vizinho da Casa Episcopal vivo na rua ao lado’. E o senhor D. António respondeu-lhe:
‘vivemos tão perto e estamos tão longe’. Esta expressão interpelou-me e tem-me feito
refletir e meditar e foi nesse sentido que uma das primeiras decisões que tomei foi
pedir aos sacerdotes que vivem connosco na Casa Episcopal, que é um dos dois vigários
gerais o Padre Américo Aguiar e o Chanceler da Cúria Diocesana o Padre António Pais,
que assumissem eles próprios a responsabilidade da paroquialidade da Sé. Para que
possamos nós percorrer, nós bispos, somos quatro, bispo diocesano e três bispos auxiliares,
possamos também nós estar e percorrer as ruas deste centro histórico, conhecer a realidade
que envolve este belo quadro do centro histórico da cidade do Porto. E depois, a partir
daí, também vermos que temos que ter uma pastoral diferente daquela que tínhamos há
dez, há vinte ou há trinta anos.”
Uma nova dinâmica pastoral para a
Diocese do Porto assente em 3 prioridades: Anunciar a alegria do Evangelho; testemunhar
a sua proximidade de bispo e estar junto dos pobres e dos excluídos indo ao seu encontro
nas periferias existenciais, tal como nos convoca o Papa Francisco:
“
A primeira prioridade e nesta comunhão com o belo texto programático do Papa Francisco
que é a sua Exortação Apostólica ‘A alegria do Evangelho’, é anunciar a alegria do
Evangelho a toda esta grande comunidade humana e cristã que é a Igreja diocesana do
Porto. Fiz mesmo deste propósito e deste compromisso o lema do ano pastoral: ‘A alegria
do Evangelho é a nossa missão’. Em segundo lugar é testemunhar a
minha proximidade de servidor do Povo de Deus e de bispo da Igreja diocesana naquela
bela expressão de Santo Agostinho ‘sou bispo para vós e sou irmão convosco’. Esta
proximidade assume-se numa relação fraterna com os sacerdotes, com os diáconos com
os seminários, com as comunidades religiosas, pensando também em dois momentos importantes:
estamos a celebrar 150 anos do início do nosso Seminário Maior e eu quero privilegiar
esta comunhão e este espírito de ânimo mobilizador da pastoral vocacional e de grande
proximidade com o tão belo trabalho realizado pelos nossos seminários; em segundo
lugar não esqueço que vamos viver o ano da vida consagrada e temos de dar também às
vocações de consagração o seu valor e esta importância que tem numa transversalidade
de toda a pastoral. Um terceiro momento desta proximidade é junto
dos que sofrem, junto dos mais pobres e junto dos excluídos nestas periferias existenciais
a que o Papa Francisco nos convoca permanentemente.”
Nas preocupações
de D. António está também a revitalização da oferta religiosa e espiritual num centro
histórico da cidade do Porto em profunda mudança e com uma nova realidade cultural:
“
Há uma realidade cultural que é extraordinária. Nós temos milhares de turistas que
vêm todas as semanas ver o Porto. Nós temos igrejas com um património extraordinário
e tão belo que tem de ser conhecido que tem que ter visibilidade e pode ser também
espaço catequético de evangelização, ao mesmo tempo de catequese e de evangelização.
Temos de ter valorizações que no campo cultural estabeleçam pontes com a sociedade
civil. Somos uma oportunidade também para o serviço dos mais pobres aqui e para os
serviços de pessoas que vêm de longe, pessoas que através da arte e da cultura se
querem também encontrar com Deus. Esta Igreja em saída ao encontro de novas realidades,
ao encontro de novos estratos sociais e ao encontro de novas situações culturais é
uma Igreja de discípulos missionários em saída ao encontro de todos aqueles que hoje
procuram a cidade do Porto e são tantos. A cidade do Porto tem-se
transformado nos últimos dez anos a partir da capacidade enorme de acolhimento de
turistas, de pessoas que vêm pelas iniciativas culturais, do valor das universidades,
concretamente, da Universidade Católica no seu centro do Porto, da universidade civil
e de outras universidades privadas. Há toda uma dinâmica cultural que está a crescer
de dia para dia e à qual a Igreja tem também de saber dar respostas, estando presente
e contribuindo com o património que aqui tem: o património maior são as pessoas, mas
depois tem outro património construído, tem a arte, tem a escultura e a pintura, tem
as igrejas que – como diz – são muitas concentradas num espaço, não podem estar todas
a fazer o mesmo, mas têm de, na diversidade e na complementaridade, serem espaços
onde Deus habita e onde acolhem aqueles que nos procuram e que procuram Deus, muitas
vezes de forma discreta, silenciosa ou por caminhos a que nós não estávamos habituados.”
Tempo
ainda nesta entrevista para abordar o Sínodo sobre a Família que será vivido em duas
etapas nas suas edições de 2014 e 2015. D. António Francisco considera que o Santo
Padre quis colocar a família no centro das preocupações da Igreja. O bispo do Porto
declarou que este Sínodo permitirá intensificar um trabalho de proximidade e acolhimento
para com aqueles que sofrem momentos de provação na família:
“ Quanto
ao Sínodo sobre a família tem um estilo novo. É um Sínodo realizado em duas etapas:
o Sínodo Extraordinário este ano e o Sínodo Ordinário do próximo ano em 2015. Creio
que o Santo Padre quis, primeiramente, colocar a família no centro da nossa oração
da nossa reflexão e da nossa abertura à compreensão da missão da Igreja no quadro
próprio do ambiente da família. Em segundo lugar quis desafiar a Igreja a sermos acolhedores
das situações difíceis, dos contextos complexos da vida da família. E em terceiro
lugar e, a meu ver, mais importante, quis realçar o valor da alegria, da felicidade
e da importância do amor abençoado por Deus na família. Creio que
a família a partir deste Sínodo e todos nós que somos membros de famílias e que queremos
servir a causa da família como célula essencial e valor sagrado da vida da Igreja
e do futuro da humanidade, todos nós, a partir deste Sínodo também ficaremos a valorizar
mais a família, a agradecer mais a família e a intensificar o nosso trabalho de proximidade
e de acolhimento com aqueles que passam momentos de provação na família.”
D.
António Francisco dos Santos deu entrada na Diocese do Porto em abril deste ano de
2014 e pretende fazer da alegria do Evangelho a sua missão.
Sal da Terra,
Luz do Mundo é aqui na sua Rádio Vaticano em língua portuguesa. (RS)