Ninguém use a religião como pretexto para ações contra a vida e a dignidade do homem
- Papa no encontro com as Autoridades
Especial importância
assumiu o encontro com as Autoridades albanesas e o Corpo Diplomático, no Palácio
Presidencial. Papa Francisco referiu com apreço “uma característica feliz da Albânia”,
a preservar “com todo o cuidado e atenção” - “a convivência pacífica e a colaboração
entre seguidores de diferentes religiões”.
O clima de respeito e mútua
confiança entre católicos, ortodoxos e muçulmanos é um bem precioso para o país e
adquire uma relevância especial neste nosso tempo em que é deturpado, por parte de
grupos extremistas, o autêntico sentido religioso e são distorcidas e manipuladas
as diferenças entre as várias confissões, fazendo daquelas um perigoso factor de conflito
e violência…
O verdadeiro sentido religioso – sublinhou o Papa – favorece
o diálogo aberto e respeitoso e uma reflexão comum sobre o que significa crer em Deus
e seguir a sua lei.
Ninguém pense em poder tomar a Deus por escudo,
enquanto projecta e comete actos de violência e vexação! Ninguém tome a religião como
pretexto para as suas acções contrárias à dignidade do homem e aos seus direitos humanos
fundamentais, principalmente o direito de todos à vida e à liberdade religiosa!
O
que está a acontecer aqui na Albânia – prosseguiu o pontífice - demonstra, pelo contrário,
que a convivência pacífica e fecunda entre pessoas e comunidades pertencentes a diferentes
religiões é… possível e realizável.
A convivência pacífica entre as
várias comunidades religiosas é, efectivamente, um bem inestimável para a paz e o
desenvolvimento harmonioso de um povo. Trata-se de um valor que deve ser defendido
e incrementado, cada dia, através da educação para o respeito das diferenças e das
identidades específicas abertas ao diálogo e à cooperação para o bem de todos, através
do exercício do conhecimento e da estima de uns pelos outros.
É também
um dom a pedir ao Senhor na oração. Que a Albânia possa continuar sempre por esta
estrada, tornando-se um exemplo de inspiração para tantos países! – foi o voto expresso
pelo Papa.
Congratulando-se com os passos dados nos últimos 25 anos, de liberdade,
Papa Francisco recordou que também a Igreja Católica, “reatando os fios duma longa
tradição”, pôde retomar uma existência normal, reconstituindo a sua hierarquia, reconstruindo
lugares de culto, fundando escolas e centros de educação e de assistência, colocados
à disposição de toda a população. Com razão, a presença da Igreja e a sua actividade
são vistas como um serviço à nação inteira, e não apenas à comunidade católica. Não
faltam, contudo, novos desafios, reconheceu o Papa, aludindo à necessidade de cuidar,
em espírito de solidariedade, do bem comum, salvaguardando ao mesmo tempo, a natureza
criada:
Num mundo que tende à globalização económica e cultural, é preciso
fazer todo o esforço possível para que o crescimento e o progresso sejam postos à
disposição de todos… À globalização dos mercados é preciso que corresponda a globalização
da solidariedade; o crescimento económico deve ser acompanhado por um maior respeito
pela criação…
A concluir, e como fizera João Paulo II em Abril de
1993, nesta mesma circunstância, o Papa invocou sobre a Albânia a protecção de Maria,
Mãe do Bom Conselho, confiando-Lhe as esperanças de todo o povo albanês. Deus derrame
sobre a Albânia a sua graça e a sua bênção.
Este o texto integral do discurso
do Papa:
Senhor Presidente, Senhor Primeiro-Ministro, Ilustres
Membros do Corpo Diplomático, Excelências, Senhoras e Senhores!
Sinto
imensa alegria por estar aqui convosco, na nobre terra da Albânia: terra de heróis,
que sacrificaram a vida pela independência do país, e terra de mártires, que testemunharam
a sua fé nos tempos difíceis de perseguição. Obrigado pelo convite para visitar a
vossa pátria, chamada «terra das águias», e pela vossa recepção festiva.
Já
passou quase um quarto de século desde que a Albânia reencontrou o caminho árduo mas
emocionante da liberdade. Esta permitiu à sociedade albanesa empreender um percurso
de reconstrução material e espiritual, pôr em movimento tantas energias e iniciativas,
abrir-se à colaboração e a permutas com os países vizinhos dos Balcãs e do Mediterrâneo,
da Europa e do mundo inteiro. A liberdade reencontrada permitiu-vos olhar para o futuro
com confiança e esperança, iniciar projectos e tecer de novo relações de amizade com
nações vizinhas e distantes.
Na realidade, o respeito dos direitos humanos,
entre os quais sobressai a liberdade religiosa e a liberdade de expressão do pensamento,
é condição preliminar para o próprio progresso económico e social de um país. Quando
a dignidade do homem é respeitada e os seus direitos são reconhecidos e garantidos,
florescem também a criatividade e a audácia, podendo a pessoa humana explanar suas
inúmeras iniciativas a favor do bem comum.
Alegro-me de modo particular por
uma característica feliz da Albânia, que deve ser preservada com todo o cuidado e
atenção: refiro-me à convivência pacífica e à colaboração entre seguidores de diferentes
religiões. O clima de respeito e mútua confiança entre católicos, ortodoxos e muçulmanos
é um bem precioso para o país e adquire uma relevância especial neste nosso tempo
em que é deturpado, por parte de grupos extremistas, o autêntico sentido religioso
e são distorcidas e manipuladas as diferenças entre as várias confissões, fazendo
daquelas um perigoso factor de conflito e violência, em vez de ocasião de diálogo
aberto e respeitoso e de reflexão comum sobre o que significa crer em Deus e seguir
a sua lei. Ninguém pense em poder tomar a Deus por escudo, enquanto projecta e
comete actos de violência e vexação! Ninguém tome a religião como pretexto para as
suas acções contrárias à dignidade do homem e aos seus direitos humanos fundamentais,
principalmente o direito de todos à vida e à liberdade religiosa!
O que está
a acontecer aqui na Albânia demonstra, pelo contrário, que a convivência pacífica
e fecunda entre pessoas e comunidades pertencentes a diferentes religiões é não só
desejável, mas também concretamente possível e realizável. A convivência pacífica
entre as várias comunidades religiosas é, efectivamente, um bem inestimável para a
paz e o desenvolvimento harmonioso de um povo. Trata-se de um valor que deve ser defendido
e incrementado, cada dia, através da educação para o respeito das diferenças e das
identidades específicas abertas ao diálogo e à cooperação para o bem de todos, através
do exercício do conhecimento e da estima de uns pelos outros. É um dom que se deve
pedir, incessantemente, ao Senhor na oração. Que a Albânia possa continuar sempre
por esta estrada, tornando-se um exemplo de inspiração para tantos países!
Senhor
Presidente, depois do inverno do isolamento e das perseguições, veio finalmente a
primavera da liberdade. Através de eleições livres e novos ordenamentos institucionais,
consolidou-se o pluralismo democrático, e isto favoreceu também a retoma das actividades
económicas. Muitos, especialmente no início, motivados pela busca de trabalho e de
melhores condições de vida, tomaram o caminho da emigração e contribuem, à sua maneira,
para o progresso da sociedade albanesa, enquanto outros redescobriram as razões para
permanecer na pátria e construí-la a partir de dentro. As fadigas e os sacrifícios
de todos cooperaram para a melhoria das condições gerais.
Por sua vez, a Igreja
Católica pôde retomar uma existência normal, reconstituindo a sua hierarquia e reatando
os fios duma longa tradição. Foram edificados ou reconstruídos lugares de culto, entre
os quais sobressai o Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho em Escutári; foram
fundadas escolas e importantes centros de educação e de assistência, postos à disposição
de toda a população. Por isso, a presença da Igreja e a sua actividade são vistas,
justamente, como um serviço à nação inteira, e não apenas à comunidade católica.
Com
certeza, a Beata Madre Teresa juntamente com os mártires que testemunharam heroicamente
a sua fé – para eles vai o nosso mais alto reconhecimento e a nossa oração – alegram-se
no Céu pelo empenho dos homens e mulheres de boa vontade em fazer reflorescer a sociedade
e a Igreja na Albânia.
Agora, porém, apresentam-se novos desafios a que se
deve dar resposta. Num mundo que tende à globalização económica e cultural, é preciso
fazer todo o esforço possível para que o crescimento e o progresso sejam postos à
disposição de todos e não apenas de uma parte da população. Além disso, tal progresso
só será autêntico se for também sustentável e equitativo, isto é, se tiver bem presente
os direitos dos pobres e respeitar o meio ambiente. À globalização dos mercados é
preciso que corresponda a globalização da solidariedade; o crescimento económico deve
ser acompanhado por um maior respeito pela criação; e, juntamente com os direitos
individuais, hão-de ser tutelados também os direitos das realidades intermédias entre
o indivíduo e o Estado, sendo a primeira delas a família. Hoje a Albânia pode enfrentar
estes desafios num quadro de liberdade e estabilidade, que hão-de ser consolidadas
permitindo olhar o futuro com esperança.
Agradeço cordialmente a cada um de
vós pela delicada hospitalidade e, como fez São João Paulo II em Abril de 1993, invoco
sobre a Albânia a protecção de Maria, Mãe do Bom Conselho, confiando-Lhe as esperanças
de todo o povo albanês. Deus derrame sobre a Albânia a sua graça e a sua bênção.