Mianmar: arcebispo de Yangun denuncia tráfico de seres humanos nos países limítrofes
Yangun (RV) - O arcebispo de Yangun – capital de Mianmar –, Dom Charles Bo,
denuncia, numa carta aberta dramática e veemente, a triste situação de muitos, em
particular mulheres e meninas, vítimas do tráfico de seres humanos nos países confinantes.
Mianmar,
país do sudeste asiático, "tem uma deprimente história de permitir a seus filhos e
filhas que sejam explorados por toda e qualquer nação do globo" – escreve Dom Bo.
"Somos
uma nação de êxodo. Um êxodo projetado e executado por desastres causados pelo homem,
seis décadas de ditadura impiedosa que prolongou o subdesenvolvimento. Nas últimas
duas décadas mais de três milhões de pessoas foram obrigadas a arriscar a emigração.
Nossos jovens tiveram que fugir da pobreza, da guerra, da perseguição, da falta de
instrução e da falta de trabalho", ressalta o arcebispo.
Em nosso país, os
traficantes de seres humanos fazem um grande negócio à custa de jovens inocentes.
Eles foram vendidos como mercadorias, como os trabalhadores desprovidos de documentos
nas plantações na Malásia, como as domésticas pagas com subsalários exploradas na
Tailândia, como objetos do desejo no mercado do sexo da Tailândia e da China, como
mulheres temporárias de homens ricos em países vizinhos, utilizadas como fábricas
para crianças e depois descartadas como lixo. Centenas voltam para casa com corpos
e almas dilacerados.
Este problema chamou a atenção do governo de Mianmar somente
nestes últimos anos. As agências internacionais acusaram o governo da ex-Birmânia
de indiferença para com este problema, inclusive acusando alguns funcionários de conivência
com o tráfico de seres humanos. Grupos pelos direitos civis reiteradas vezes acusaram
o governo militar devido ao trabalho forçado e pela incapacidade de proteger as fronteiras
dos traficantes de seres humanos.
O que mais nos entristece, ressalta o arcebispo
de Yangun, é a ausência de fortes mecanismos internos que ponham um freio à difusão
deste tráfico. As jovens, em particular do delta, são vítimas do tráfico nas áreas
industriais, nas cidades de confim, nas áreas minerarias e nas zonas de cassinos e
do turismo sexual.
Como Igreja – conclui Dom Bo –, asseguramos com todo o coração
a nossa cooperação aos esforços do governo para dar fim ao inferno em que milhares
de nossos jovens inocentes são entregues por máfias sem coração. (...) Também o Papa
Francisco não perde ocasião para denunciar as "muitas formas abomináveis de escravidão
que persistem no mundo de hoje" e se uniu aos líderes de outras grandes religiões
para promover os ideais de fé e dos valores humanos, a fim de erradicar a escravidão
moderna e o tráfico de seres humanos. "Permitam que neste país, abolindo toda forma
de escravidão moderna, nasça um novo alvorecer de liberdade." (RL)