Papa Francisco: "Matrimônio não é ficção. Jamais terminar o dia sem fazer as pazes"
Cidade do Vaticano
(RV) - No início da manhã deste domingo (14), a Igreja participou da alegria de
20 casais. Papa Francisco celebrou a Santa Missa com o Sacramento do Matrimônio.
A Basílica de São Pedro, em dia de festa, emoção e oração, ficou repleta de pais e
familiares dos noivos. Diante de Deus, os casais realizaram a comunhão para a vida
inteira.
Na sua homilia, o Pontífice fez referência ao Livro dos Números,
sobre o caminho do povo no deserto. “Pensemos naquele povo em marcha, guiado por Moisés!
Era formado, sobretudo, por famílias: pais, mães, filhos, avós; homens e mulheres
de todas as idades, muitas crianças, com idosos que sentiam dificuldade em caminhar.”
Aquele povo que, segundo o Papa Francisco, faz lembrar a Igreja em caminho no deserto
do nosso mundo atual. Lembra ainda “o Povo de Deus que é composto, na sua maioria,
por famílias”.
Isso faz pensar nas famílias, nas nossas famílias, em
caminho pelas estradas da vida, na história de cada dia. É incalculável a força, a
carga de humanidade presente numa família: a ajuda mútua, o acompanhamento educativo,
as relações que crescem com o crescimento das pessoas, a partilha das alegrias e das
dificuldades. As famílias constituem o primeiro lugar onde nos formamos como pessoas
e, ao mesmo tempo, são os ‘tijolos’ para a construção da sociedade.
Ainda
em relação à narração bíblica, o Santo Padre recordou que, a certa altura, o povo
israelita ‘não suportou o caminho’. Estavam cansados, com falta a água e comendo apenas
o ‘maná’, um alimento prodigioso, dado por Deus, mas que, naquele momento de crise,
parecia pouco. Então, diz Papa Francisco, eles se lamentam e protestam contra Deus
e contra Moisés, questionando-se: ‘Por que nos fizestes sair do Egito?’. Sentem a
tentação de voltar para trás, de abandonar o caminho.
Isso nos faz pensar
nos casais que ‘não suportam o caminho’ da vida conjugal e familiar. A fadiga do caminho
torna-se um cansaço interior; perdem o gosto do Matrimônio, deixam de ir buscar água
à fonte do Sacramento. A vida diária torna-se pesada, tantas vezes, ‘nauseante’.
Naquele momento de extravio, diz a Bíblia, é que chegam as serpentes venenosas
que mordem as pessoas; e muitas morrem. “Esse fato provoca o arrependimento do povo”,
comenta o Santo Padre, “que pede perdão a Moisés, suplicando-lhe que reze ao Senhor
para afastar as serpentes. Moisés pede ao Senhor, que lhe dá o remédio: uma serpente
de bronze, pendurada num poste”. Quem olhar para ela, fica curado do veneno mortal
das serpentes. Um símbolo, segundo Francisco, que Deus não elimina as serpentes, mas
oferece um ‘antídoto’: Deus transmite a sua força que cura, ou seja, a sua misericórdia,
mais forte que o veneno do tentador.
O remédio que Deus oferece ao povo
vale também e de modo particular para os casais que 'não suportam o caminho' e acabam
mordidos pelas tentações do desânimo, da infidelidade, do retrocesso, do abandono.
Também a eles Deus Pai entrega o seu Filho Jesus, não para os condenar, mas para os
salvar: se se entregarem a Jesus, Ele os cura com o amor misericordioso que jorra
da sua Cruz, com a força duma graça que regenera e põe de novo a caminhar pela estrada
da vida conjugal e familiar. O amor de Jesus, que abençoou e consagrou a união dos
esposos, é capaz de manter o seu amor e de o renovar quando humanamente se perde,
rompe, esgota. O amor de Cristo pode restituir aos esposos a alegria de caminharem
juntos. Pois o matrimônio é isso: o caminho conjunto de um homem e de uma mulher,
no qual o homem tem o dever de ajudar a esposa a ser mais mulher, e a mulher tem o
dever de ajudar o marido a ser mais homem. È uma tarefa que vocês tem entre vocês.
É a reciprocidade das diferenças. Não é um caminho suave, sem conflitos, não! Não
seria humano. É uma viagem laboriosa, por vezes difícil, chegando mesmo a ser conflituosa,
mas isso é a vida!
O Santo Padre finaliza a homilia fazendo a relação
entre o povo de Moisés e as famílias, que sempre estão em caminho. Francisco oferece
suas palavras voltadas ao caminho do Matrimônio, através, inclusive, de gestos de
afeto e carinho que têm a força de destruir as mágoas no final do dia.
É
normal que os esposos briguem. É normal. Sempre acontece. Mas eu aconselho vocês para
jamais terminarem o dia sem fazerem as pazes. É suficiente um pequeno gesto. Assim
se continua a caminhar. O matrimônio é símbolo da vida, da vida real, não é uma ‘ficção’!
É sacramento do amor de Cristo e da Igreja, um amor que tem na Cruz a sua confirmação
e garantia. Desejo a todos vocês, um bonito caminho, um caminho fecundo, que o amor
cresça. Desejo felicidades. Existirão cruzes, mas Deus estará ali, para conduzir adiante.
O
bispo de Roma, antes da bênção nupcial e entrega dos anéis, fez o questionamento do
consenso conjugal a cada casal, desde a noiva mais jovem do casamento coletivo que
tinha 25 anos, até o noivo mais velho, com 56 anos. (AC)