Belo Horizonte (RV) - A propaganda eleitoral, produzida com a finalidade cidadã
de dar a conhecer perfis de candidatos, suas propostas e programas, apresenta-se como
um gênero de pouca qualidade formativa, sem entrar no mérito dos recursos tecnológicos,
técnicas de comunicação, cenários atrativos e criativos. O infrutífero discurso de
ataques recíprocos contribui menos ainda. Não é nobre tentar convencer o eleitorado
a partir da desconstrução da imagem do adversário. No entanto, trata-se de uma prática
muito comum que revela mediocridades. O mundo digital tem facilitado esse tipo de
conduta que é, no mínimo, antiética. A internet é, muitas vezes, utilizada como esconderijo
de pessoas que não têm coragem de se revelar publicamente e, na comodidade do anonimato,
sentem-se no direito de fazer críticas e acusações, mesmo que infundadas. Os novos
ambientes que surgem com as tecnologias de comunicação, neste aspecto, tornam-se refúgio
dos que evitam o “frente a frente” e dos que são incapazes de exercer a nobreza da
escuta.
Não é raro ver gente de diferentes idades, no mundo virtual, falando
mal dos outros, mesmo sem conhecer processos, esforços e realidades. De fato, é muito
fácil ficar repetindo, “como papagaio”, frases alheias. Mas quem o faz, sem refletir,
se enquadra em parâmetros medíocres, principalmente quando se acha no direito de julgar
e atacar os outros. Vale sempre perguntar aonde se vai chegar com essa dinâmica. O
universo digital permite grandes mudanças e acelera o ritmo da vida. Exige de todos
uma postura mais consciente, pois está em jogo o modo de aproximar-se da verdade.
A truculência imoral de crescer porque desprestigiou o outro, sustentando inverdades,
é contramão de um caminho construtivo. De certo modo, quem o faz, indica que todos
os nomes submetidos ao sufrágio das urnas, exceto o seu, são inadequados. Prioriza-se
um discurso depreciativo para indicar que o outro é pior.
Essas práticas viciam
não somente o cenário eleitoral, mas também as relações construtivas entre pessoas,
famílias e instituições. O mais grave de tudo isso é priorizar discursos de autopromoção
e de desqualificação dos outros, em detrimento às ações que realmente contribuam para
o exercício da cidadania. Esses vícios e mediocridades, comuns à prática política
vigente, produzem o resultado que interessa apenas a quem se candidata e, a qualquer
preço, busca vencer as eleições. Certamente, o país e, especificamente, o cidadão
ganhariam mais com uma política qualificada por discussões propositivas, pela abordagem
de questões com mais profundidade. Alcançar esse estágio exige ainda um longo percurso
cidadão e novos passos na construção da sociedade.
Não é fácil enxergar frutos
que nascem desses discursos que se resumem à autopromoção, distantes da inegociável
modéstia e do indispensável reconhecimento dos próprios limites. Eles formam uma grande
mistura que obscurece o que de fato está acontecendo. Trazem prejuízos às escolhas
que precisam ser resultado de um amadurecido discernimento social e político. Fortalecem
a preguiça que enfraquece a cidadania, base para escolhas feitas por impulsos, simpatias
que não cabem mais em política e outros vetores que não qualificam o processo eleitoral.
Talvez, também por isso, qualquer um sente-se encorajado a se candidatar, mesmo sem
propostas concretas.
Neste cenário desafiador, examinando a propaganda eleitoral,
em meio ao “tiroteio” de uma ladainha de promessas, muitas inexequíveis, vale observar
o que, no discurso dos candidatos, indica compreensão humanística e antropológica
sobre o compromisso com os mais pobres. Não se trata das falas demagógicas. Incontáveis
promessas são feitas para o âmbito da economia - seu funcionamento, reformas, intervenções.
Nessas falas, vale examinar e tentar encontrar sinais de sensibilidade, dos partidos
e políticos, sobre a condição dos mais pobres. Aos políticos, estas indicações não
devem ser mecanismo marqueteiro para conquistar simpatia de grandes camadas carentes
da população. Precisam sinalizar estratégias e inteligência comprovada para mudar
os cenários vergonhosos de exclusão social e superar problemas graves que se arrastam
ao longo de tanto tempo.
Todos reconhecem a necessidade de mudanças nos complexos
funcionamentos e mecanismos da economia, da infraestrutura, educação, saúde. Contudo,
é determinante - e deve ser um critério forte na escolha para votar - a adequada compreensão
antropológica dos pobres, sem a qual não será possível a construção das esperadas
propostas para todos esses campos. A opção preferencial pelos pobres, ensinada nos
Evangelhos, faz parte da fé cristã. Mas ainda falta muito para ser também a opção
preferencial de candidatos, executivos, gestores, governantes. Assumi-la corajosamente
é uma indispensável saída para qualificar a política, dar velocidade às mudanças necessárias,
corrigir injustiças e cultivar o gosto pela solidariedade.
A sociedade brasileira
espera isso dos políticos e ainda não se vê efetivamente contemplada com as propostas.
Exige-se a preferência dada aos pobres para gerar efetivas políticas emancipatórias
e não apenas compensatórias. Só assim as eleições trarão resultados novos, abrindo
caminhos para inovações sociais, políticas e na gestão.
Dom Walmor Oliveira
de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte