Manaus (RV) – Faltam poucos dias para o início do Encontro Internacional para
criação de uma Rede Eclesial Pan-Amazônica, que se realizará de 9 a 12 de setembro
em Brasília, com a presença de um enviado da Rádio Vaticano.
Em vista deste
evento, o Programa Brasileiro publica a notícia divulgada pelas Pontifícias Obras
Missionárias, sobre a Semana de Catequese Indígena Inculturada realizada na Diocese
de São Gabriel da Cachoeira (AM). Confira:
Encontrar a cidade de São Gabriel
da Cachoeira no mapa do Amazonas é fácil. Ela se situa no extremo noroeste, no limite
com a Colômbia e a Venezuela, às margens do Rio Negro. Chegar lá não é tão fácil assim:
são 850 km de Manaus, viajando de barco, uma semana, de lancha, 36 horas ou com o
pequeno avião que parte de Manaus, duas vezes por semana. “Aqui 95% da população é
indígena pertencente a 23 etnias diferentes e ainda hoje, são faladas 18 línguas.
É um laboratório linguístico de primeira grandeza”, explica Dom Edson T. Damian, o
Bispo de São Gabriel da Cachoeira desde 2009.
Dom Edson é natural de Fontana
Freda no município gaúcho de Juaguari, terra que já pertenceu ao povo Tupi Guarani,
mas que na época das grandes migrações foi ocupada pelos imigrantes italianos. O Bispo
é descendente de uma dessas famílias e pela graça de Deus, foi chamado para servir
a diocese da Amazônia, considerada mais indígena do Brasil. O respeito pelos povos
indígenas foi demonstrado já no dia da sua ordenação. “Eu chego devagar, pedindo licença
para ser acolhido como hóspede, porque eles são os primeiros habitantes e agente deve
respeitá-los na sua cultura, na sua religiosidade, no seu jeito de ser”, anunciou
dom Edson diante das mais de duas mil pessoas, a maioria de origem indígena presentes
na celebração. Ele é o quinto bispo daquela diocese e substituiu Dom José Song Sui
Wan, Bispo chinês missionário no Brasil. Antes disso, Dom Edson viveu em Boa Vista
(RR), onde acompanhou momentos marcantes das lutas dos indígenas daquele estado pela
demarcação e homologação da terra Raposa Serra do Sol.
Hoje em São Gabriel
da Cachoeira a inculturação do Evangelho começa pela catequese quando se dá a iniciação
cristã. Para intensificar esse processo, entre os dias 31 de agosto e 05 de setembro
aconteceu em Yauaretê, paróquia totalmente indígena na fronteira com a Colômbia, uma
Semana de Catequese Indígena Inculturada. O encontro contou com a participação de
70 catequistas, ministros da palavra, ministros da comunhão eucarística e a presença
do enviado do papa Francisco, o Cardeal Dom Cláudio Hummes, OFM, presidente da Comissão
Episcopal para a Amazônia da CNBB. Como critério, cada paróquia enviou até cinco catequistas,
escolhidos entre os que participaram nas formações realizadas anteriormente. As reflexões
contaram com a assessoria do Padre Eleázar López Hernadez, indígena do México.
A
temática recebeu grande impulso já em 2013 com três eventos: um Seminário em Manaus
(AM), no mês de abril e um Encontro de Catequistas em São Gabriel da Cachoeira no
mês de maio, assessorado pelo mesmo Padre Eleázar López Hernadez. Além disso, em outubro,
catequistas de todas as paróquias analisaram os valores das culturas indígenas que
acolhem a Palavra de Deus e são por ela iluminados. Na ocasião, foram elaborados vários
roteiros para encontros de catequese. Ao longo de 2014 acontecem semanas de estudo
em todas as paróquias, com boa aceitação dos catequistas.
Segundo Dom Edson,
“como Deus não se impõe, mas propõe, a catequese inculturada só acontece quando os
irmãos indígenas acolhem o Evangelho em sua cultura, com liberdade e autonomia. Encarnado
na diversidade das culturas, o Evangelho gera comunidades eclesiais com rosto próprio”,
sublinha ele e recorda um ensinamento do Papa Francisco: “Cristo não extingue o que
é bom, mas o completa”.
O Bispo destaca ainda, a riqueza das culturas indígenas
para a Igreja local. “Quando sabemos que cada língua traz tesouros particulares em
relação à cultura, à antropologia, à cosmologia e à visão de Deus, então aqui nós
estamos num paraíso. Isto é extraordinário. A diocese é imensa: ela tem 293 mil km2,
é maior que o estado de São Paulo, abrange toda a bacia do Rio Negro, que é o principal
afluente do Rio Amazonas. Abrange apenas três municípios: Barcelos, Santa Isabel do
Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, onde está a sede da diocese”.
Em termos
de vocações, a diocese conta com diversas religiosas indígenas e pelo menos meia dúzia
de padres.
Para dar continuidade ao processo de inculturação, no Encontro
diocesano do mês de novembro próximo, o tema da Catequese Indígena inculturada será
retomado.
Outro evento importante para a Evangelização na Amazônia é o Encontro
Internacional para criação de uma Rede Eclesial Pan-Amazônica. O evento, que acontece
na sede das Pontifícias Obras Missionárias (POM), em Brasília (DF), de 9 a 12 de setembro,
pretende reunir 60 representantes de instituições atuantes na Região. Um dos objetivos
deste encontro é, a partir das experiências feitas até agora, definir a finalidade,
estratégias e metas em vista da consolidação da Rede Eclesial Pan-Amazônica. (Jaime
C. Patias)