Card. Hummes: "Cultura indígena enriquece o Evangelho". Ouça
Cidade
do Vaticano (RV) - O britânico Charles Darwin, estudioso de evolucionismo e seleção
natural, autor da “Origem das Espécies (2009)”, esteve no Brasil duas vezes, passando
por Fernando de Noronha, Rio de Janeiro e Salvador. Um dos primeiros pesquisadores
a incluir a espécie humana nas investigações sobre interações das espécies com seus
ecossistemas, Darwin, descreveu seu primeiro contato, em 1831, com a floresta tropical
brasileira enaltecendo a exuberância da vegetação: “Aquelas emoções foram para mim
motivo para uma contemplação maravilhada. Jamais poderei experimentar tanto prazer”.
Alguns anos depois, por volta de 1860, seu discípulo alemão Ernst Haeckel utilizou
o termo ‘ecologia humana’ pela primeira vez chamando em causa a tríplice responsabilidade
do ser humano: consigo mesmo, com o próximo e com a Criação. Em termos éticos, o respeito
pelos valores humanos fundamentais, e em termos cristãos, o respeito pelo Criador.
Mas o que se entende, hoje, por ecologia humana? Quem responde é o Presidente da Comissão
Episcopal para a Amazônia, Cardeal Cláudio Hummes. Para ouvi-lo, clique acima.
“Preservar
a história, a cultura, tudo aquilo que dá identidade às pessoas e aos povos, a começar
pelos indígenas: Como fazer que eles tenham a sua história continuada,
esta história que foi interrompida pela colonização dos europeus que vieram para estas
terras que hoje chamados América? Como dar o mais possível condições e espaço
para que sejam sujeitos de sua história? Não vamos conseguir resolver
o problema dos índios de forma justa se não permitirmos que eles sejam sujeitos de
sua história, isto é que eles façam, determinem a sua história. Claro que
nós podemos ajudar, oferecer tecnologia, ciência, cultura, etc, mas são eles que devem
decidir o que absorver, acolher e aceitar como algo importante para a caminhada deles
como sujeitos de sua história, inclusive religiosa. Aqui entra a questão
da inculturação: Como dialogamos com os índios, com suas crenças, com sua
visão religiosa? Como inculturar o Evangelho ali, e fazer com que seja realmente uma
Igreja com o rosto indígena, o rosto amazônico? Agora entra a questão do clero indígena:
índios, padres, bispos que assumam as comunidades indígenas e possam dar muito mais
autenticidade e possibilidade de eles serem sujeitos de sua história religiosa. A
Igreja deve dar o exemplo. Jesus Cristo tem uma resposta para todas as culturas. Não
é preciso ser europeu para ser cristão. Posso ser perfeitamente chinês e católico,
africano e católico. Isto é, a fé católica é possível de ser inculturada em cada uma
das culturas. O atual Papa diz muito bem na Evangelii Gaudium que nenhuma cultura
vai esgotar a riqueza do Evangelho. O Evangelho é muito mais. Francisco afirma claramente
que o Evangelho não se esgota nos recursos da cultura européia e que as outras culturas
podem revelar novos aspectos do Evangelho”. (CM)