2014-09-04 17:45:04

No Iraque, os "Schindler muçulmanos" que ajudam cristãos e yazidis


Bagdá (RV) – Num Iraque transtornado pela violência, existem muçulmanos que, mesmo arriscando a vida, ajudam cristãos e yazidis a fugir da fúria jihadista do Estado Islâmico. Para muitos, são conhecidos como os “Schindler muçulmanos”, numa referência a Oscar Schindler, empresário alemão que durante a II Guerra Mundial salvou milhares de judeus na Polônia, e cuja história acabou originando o filme “A Lista de Schindler”. Quem conta a história destes solidários muçulmanos para a Rádio Vaticano é Lorenzo Cremonesi, enviado do Jornal italiano ‘Corriere della Sera’ ao Iraque:

Cremonesi: “O que aparece, sobretudo quando se fala com os cristãos, é que muitos – não digo todos, mas muitos, e encontrei realmente tantos testemunhos muito parecidos – afirmam que foram ajudados, de uma maneira ou outra, por amigos, colegas de trabalho, velhos companheiros de escola, vizinhos de casa, muçulmanos – em geral, sunitas – que residem nos povoados de origem dos cristãos. Não esqueçamos, de fato, que especialmente aqui em Qaraqosh, em Mosul e na Planície do Nínive, trata-se de “povoados mistos”. E aqui, no geral, as pessoas que permaneceram – existem sunitas que tendem a aderir ao Estado Islâmico, extremistas sunitas – procuram ajudar. Às vezes, fornecendo informações sobre a casa que ficou sem controle nos vilarejos abandonados, ou mesmo buscando passar informações aos familiares que ficaram para trás, às mulheres, aos idosos... Não são tantíssimos, porém eu posso dizer que encontrei ao menos uns 10 casos de pessoas que, diante de mim, aqui nos campos, nas igrejas, nas escolas cristãs onde estão todos os refugiados, chamaram diante de mim alguém, nos povoados agora controlados pelos extremistas, para pedir ajuda”.

RV: Por que você falou em “Schindler” muçulmanos?

Cremonesi: “Então: os defini como “Schindler” porque é verdade que alguns o fazem por dinheiro, outros por interesse pessoal, mas alguns, por verdadeira generosidade. Para eles existe um risco. De fato, se existe uma mulher, uma jovem que os militantes do Estado Islâmico capturaram e que pretendem converter para depois dá-la “como esposa” a um de seus homens, se existe alguém que mantém algum contato, claramente cria um obstáculo e passa a correr realmente risco de vida, ele e seus caros. Portanto, posso dizer que existe uma certa generosidade”.

RV: Coisas do gênero acontecem também em relação aos yazidis?

Cremonesi: “O caso dos yazidis é um caso realmente dramático. Eles são mortos, as mulheres são todas metodicamente escravizadas... Em alguns casos, tive a impressão de que isto tenha sido feito pelo lucro. Mas também Schindler, o famoso empresário alemão da “Lista de Schindler”, começou a dar trabalho aos judeus, sob a ocupação nazista, porque eram mais baratos. E depois se deu conta que desta maneira poderia salvar as suas vidas e ele próprio arriscou a vida para colocá-los a salvo. Soube-se que certo número de jovens yazidis foram compradas por alguns muçulmanos, empresários ou homens ricos - pessoas que podiam se permitir fazer isto -, no chamado “mercado dos escravos” de Mosul e depois foram devolvidas às suas famílias. A impressão é que lhes tenham dado para serem pagas, portanto, houve algum ganho nisto. Mas, como digo: entre o bem e o mal existe uma vasta área cinzenta, onde existem também os “Schindler””. (JE)








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