Mons. Sánchez de Toca: jogadores não devem ser reduzidos a mercadorias
Roma (RV)
- Para o Papa, “o esporte não é somente uma forma de entretenimento, mas também um
instrumento para comunicar os valores que promovem o bem da pessoa humana e contribuem
à construção de uma sociedade mais pacífica e fraterna”.
Antes da Partida
Inter-religiosa pela Paz, da última segunda-feira (1) no Estádio Olímpico de Roma,
em ocasião do Seminário Internacional com os responsáveis de associações esportivas
católicas, foi analisado o tema sobre “O esporte é para o homem. Da cultura do resultado
à cultura do encontro”. O evento do Pontifício Conselho da Cultura teve a colaboração
do Escritório Nacional da Pastoral do Tempo livre, Turismo e Esporte da CEI, e da
Fundação João Paulo II para o Esporte.
Em entrevista à Rádio Vaticano, o subsecretário
do Pontifício Conselho da Cultura, Monsenhor Melchor Sánchez de Toca, disse que os
jogadores não devem ser reduzidos a mercadorias. Falou também sobre o possível boicote
à Copa do Mundo de 2018 na Rússia.
Mons. Sánchez de Toca – “Partimos
de duas chaves de interpretação do Papa Francisco no Evangelli Gaudium, partindo
da mentalidade do descarte para chegar na cultura do encontro. A mentalidade do descarte
está presente no mundo do esporte profissional mas, infelizmente, há repercussões
não indiferentes também nos níveis mais baixos do esporte como, por exemplo, no esporte
juvenil. A cultura do descarte significa que o atleta vem reduzido a um produto, é
cotado e, em alguns casos, inclusive, fala-se de compra de jogadores como se fossem
uma mercadoria. Comprar pessoas, pensávamos que fosse alguma coisa ligada às formas
de escravidão; ao contrário, ainda hoje, fala-se de 'comprar' os jogadores. Então,
o atleta é reduzido à mercadoria, a objeto, a produto. Se queremos renovar o mundo
do esporte, precisamos recolocar o homem no centro do esporte. Tommasi, o presidente
da Associação Italiana de Jogadores, foi muito claro sobre isso, já que conhece muito
bem esse mundo: o atleta não é um produto; a medalha ou o resultado não é monetizável.
Então, é necessário esquecer essa cultura dos resultados, das medalhas, da monetização
e da mercantilização do jogador.”
RV – Com a crise russo-ucraniana,
circula na Europa a ideia de boicotar a Copa do Mundo de 2018 na Rússia. É lícito
o uso político do esporte?
Mons. Sánchez de Toca – “Infelizmente isso
já aconteceu outras vezes. Todos lembramos o boicote americano às Olimpíadas de Mosca
de 1980 e outras vezes. Hoje de manhã, o Papa, falando de outro aspecto fundamental
que é o trabalho, lembrava que a dignidade do homem deve estar no centro, acrescentando
que no trabalho não se toca. Eu acredito que poderíamos dizer, já que no esporte é
fundamental a dignidade do homem no centro do esporte, que com o esporte não se joga:
o esporte é um jogo! É jogo! Mas não se pode jogar com o esporte, é uma manipulação
política do esporte alerta à própria natureza do esporte. Lembremos que o esporte
olímpico sempre foi ligado às festividades religiosas da Grécia Antiga, como um momento
de trégua, de suspensão da guerra. Hoje é o contrário: aquilo que poderia ajudar a
unir os povos, está suspenso por causa de conflitos políticos.”
RV –
Quanto é importante hoje educar para o esporte, não somente os atletas e os dirigentes,
mas também os torcedores, os esportistas?
Mons. Sánchez de Toca – “Um
tema que surgiu com muita força durante o seminário foi a dimensão educativa do esporte.
O esporte é um bem cultural, educativo e espiritual, mas, sobretudo, diria que surgiu
a dimensão educativa. Naturalmente, o esporte é um instrumento que ajuda a crescer,
a desenvolver a pessoa na sua integridade, mas, em particular, se chamava a atenção
sobre a importância da formação dos treinadores, daqueles que estão em contato com
as crianças em idade crucial da sua existência, do seu desenvolvimento como pessoas
e também dos pais, porque os pais também são prisioneiros dessa lógica de mercado;
querem que os seus filhos sejam campeões, não porque o filho dê o máximo de si, mas
porque o filho seja famoso, rico e ganhe muito dinheiro.” (AC)