2014-09-04 14:53:38

Mons. Sánchez de Toca: jogadores não devem ser reduzidos a mercadorias


RealAudioMP3 Roma (RV) - Para o Papa, “o esporte não é somente uma forma de entretenimento, mas também um instrumento para comunicar os valores que promovem o bem da pessoa humana e contribuem à construção de uma sociedade mais pacífica e fraterna”.

Antes da Partida Inter-religiosa pela Paz, da última segunda-feira (1) no Estádio Olímpico de Roma, em ocasião do Seminário Internacional com os responsáveis de associações esportivas católicas, foi analisado o tema sobre “O esporte é para o homem. Da cultura do resultado à cultura do encontro”. O evento do Pontifício Conselho da Cultura teve a colaboração do Escritório Nacional da Pastoral do Tempo livre, Turismo e Esporte da CEI, e da Fundação João Paulo II para o Esporte.

Em entrevista à Rádio Vaticano, o subsecretário do Pontifício Conselho da Cultura, Monsenhor Melchor Sánchez de Toca, disse que os jogadores não devem ser reduzidos a mercadorias. Falou também sobre o possível boicote à Copa do Mundo de 2018 na Rússia.

Mons. Sánchez de Toca – “Partimos de duas chaves de interpretação do Papa Francisco no Evangelli Gaudium, partindo da mentalidade do descarte para chegar na cultura do encontro. A mentalidade do descarte está presente no mundo do esporte profissional mas, infelizmente, há repercussões não indiferentes também nos níveis mais baixos do esporte como, por exemplo, no esporte juvenil. A cultura do descarte significa que o atleta vem reduzido a um produto, é cotado e, em alguns casos, inclusive, fala-se de compra de jogadores como se fossem uma mercadoria. Comprar pessoas, pensávamos que fosse alguma coisa ligada às formas de escravidão; ao contrário, ainda hoje, fala-se de 'comprar' os jogadores. Então, o atleta é reduzido à mercadoria, a objeto, a produto. Se queremos renovar o mundo do esporte, precisamos recolocar o homem no centro do esporte. Tommasi, o presidente da Associação Italiana de Jogadores, foi muito claro sobre isso, já que conhece muito bem esse mundo: o atleta não é um produto; a medalha ou o resultado não é monetizável. Então, é necessário esquecer essa cultura dos resultados, das medalhas, da monetização e da mercantilização do jogador.”

RV – Com a crise russo-ucraniana, circula na Europa a ideia de boicotar a Copa do Mundo de 2018 na Rússia. É lícito o uso político do esporte?

Mons. Sánchez de Toca – “Infelizmente isso já aconteceu outras vezes. Todos lembramos o boicote americano às Olimpíadas de Mosca de 1980 e outras vezes. Hoje de manhã, o Papa, falando de outro aspecto fundamental que é o trabalho, lembrava que a dignidade do homem deve estar no centro, acrescentando que no trabalho não se toca. Eu acredito que poderíamos dizer, já que no esporte é fundamental a dignidade do homem no centro do esporte, que com o esporte não se joga: o esporte é um jogo! É jogo! Mas não se pode jogar com o esporte, é uma manipulação política do esporte alerta à própria natureza do esporte. Lembremos que o esporte olímpico sempre foi ligado às festividades religiosas da Grécia Antiga, como um momento de trégua, de suspensão da guerra. Hoje é o contrário: aquilo que poderia ajudar a unir os povos, está suspenso por causa de conflitos políticos.”

RV – Quanto é importante hoje educar para o esporte, não somente os atletas e os dirigentes, mas também os torcedores, os esportistas?

Mons. Sánchez de Toca – “Um tema que surgiu com muita força durante o seminário foi a dimensão educativa do esporte. O esporte é um bem cultural, educativo e espiritual, mas, sobretudo, diria que surgiu a dimensão educativa. Naturalmente, o esporte é um instrumento que ajuda a crescer, a desenvolver a pessoa na sua integridade, mas, em particular, se chamava a atenção sobre a importância da formação dos treinadores, daqueles que estão em contato com as crianças em idade crucial da sua existência, do seu desenvolvimento como pessoas e também dos pais, porque os pais também são prisioneiros dessa lógica de mercado; querem que os seus filhos sejam campeões, não porque o filho dê o máximo de si, mas porque o filho seja famoso, rico e ganhe muito dinheiro.” (AC)








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