Jales (RV) - Paira no ar um difuso descontentamento, uma insatisfação indefinida,
um generalizado desejo de mudança.
A situação atual encontra um denominador
comum, não em propostas objetivas no cenário político e econômico, mas no clima subjetivo,
que faz multidões participarem de eventos onde os objetivos não são formulados nem
expressos de maneira clara e consistente.
A força da emoção subjetiva parece
dispensar a definição das necessárias transformações objetivas.
Em tempos
de campanha eleitoral, este sentimento pode levar a opções que satisfazem o desejo
de mudanças, mas que levam consigo as contradições subjacentes, que não tardariam
em acumular impasses, que amargurariam decepções tardias.
O outro lado desta
moeda, que está sendo empenhada com ênfase nesta Semana da Pátria, é o pouco entusiasmo
com que se encaram propostas concretas e específicas, elaboradas com muita dificuldade
de consensos mínimos.
São várias propostas em andamento, que mereceriam, certamente,
mais atenção e poderiam suscitar debates mais objetivos, em vista de municiar planos
concretos de governo.
Existe em andamento uma “iniciativa popular de lei” sobre
a Reforma Política, fruto de uma “coalizão” de entidades , ente as quais se destacam
a CNBB e OAB, com sua força emblemática. Seria o caso de aproveitar o clima da Semana
da Pátria para uma ampla difusão da proposta, e de adesão a ela por meio de assinaturas
dos eleitores. Mas, tanto o debate, como o incentivo para a coleta de assinaturas,
não correspondem à importância da proposta.
Parece que o amplo desejo de mudança
não se satisfaz com a prosaica elaboração de uma lei.
E assim com as outras
iniciativas, de resto muito generosas, que estão sendo realizadas neste ano por ocasião
da Semana da Pátria.
Entre elas, destaca-se a realização de um plebiscito
popular, não oficial, propondo a convocação de uma assembleia constituinte soberana
e específica para realizar a Reforma Política. Esta iniciativa, se contasse com uma
entusiasta adesão dos eleitores, poderia deixar o caminho aberto para que finalmente,
neste próximo mandato, fosse feita esta reforma que vem patinando há décadas. Mas,
cadê o entusiasmo? Parece mais cômodo deixar que os outros façam o que faz parte
de nossos desejos. Mas será que farão?
No próprio Sete de Setembro, continuam
duas iniciativas tradicionais, muito vinculadas ao Santuário de Aparecida, que são
a Romaria dos Trabalhadores, e o Grito dos Excluídos.
Os lemas destas duas
iniciativas, também eles, se coadunam mais com o generoso anseio de mudanças, do que
com a elaboração concreta de propostas específicas. O lema do Grito parece narrativo,
e tenta se vincular com manifestações já ocorridas: “ocupar ruas e praças por liberdade
e direitos”. E o lema da Romaria dos Trabalhadores: “Mãe Negra Aparecida padroeira
deste chão, o povo trabalhador não aceita escravidão”.
Diante do difuso desejo
de mudanças, fica o desafio de discernir as opções que o tornam viável, adequado e
efetivo.