Papa Francisco ao Simpósio de Bose: a paz de Cristo aplaca as contendas
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou um telegrama ao Simpósio
ecumênico internacional de espiritualidade ortodoxa, iniciado esta quarta-feira na
localidade de Bose, situada na região do Piemonte, norte da Itália.
Assinado
pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, no telegrama, o Santo Padre faz
votos de que "os dias de estudo e de intercâmbio possam favorecer a consciência de
que é possível viver e testemunhar a paz anunciada por Cristo, mediante atitudes de
sincera fraternidade que arrefecem as contendas, superam as desconfianças e geram
esperança".
Com o tema "Bem-aventurados os pacificadores", o evento – organizado
pela Comunidade ecumênica de Bose em colaboração com as Igrejas Ortodoxas – deseja
colocar-se à escuta do Evangelho da paz, que pede aos cristãos que sejam um fermento
de reconciliação entre as mulheres e os homens dos nossos dias. A Rádio Vaticano ouviu
o Prior da Comunidade ecumênica, Pe. Enzo Bianchi. Eis o que disse:
Pe.
Enzo Bianchi:- "Neste momento particular temos, como diz o Papa Francisco, uma
terceira guerra mundial em andamento, embora não a chamemos tal. É como um foco terrível,
sobretudo no Oriente Médio, onde as confissões cristãs estão propriamente uma ao lado
da outra, sobretudo Igrejas ortodoxas orientais e católicas. Então, o simpósio quis,
justamente por isso, falar de paz, dos pacificadores, quer em relação ao Oriente,
quer em relação também à situação européia na Ucrânia. Portanto, tornou-se um tema
de grande atualidade, que é decisivo para o futuro do cristianismo naquelas terras."
RV:
O que significa que a paz tem também uma dimensão teológica e reveladora?
Pe.
Enzo Bianchi:- "Não nos esqueçamos que para nós, cristãos, Jesus Cristo é a paz.
E foi Ele quem veio para abater todos os muros, toda separação, e é somente em seu
nome que se pode realmente fazer a paz, que é uma paz – atenção – como fruto não religioso:
é a paz entre os homens, mas a fonte, a fonte é o próprio Jesus Cristo."
RV:
Os Padres da Igreja, tanto do Ocidente quanto do Oriente, privilegiam o aspecto espiritual
em relação ao político e social. É difícil passar de um para o outro?
Pe.
Enzo Bianchi:- "Sem a paz interior, a paz do espírito, sem chegarmos a ter o homem
desarmado, sempre haverá conflitos e, consequentemente, as guerras. Não se pode pensar
numa paz social, numa paz universal com homens pessoalmente armados, que não tenham
renegado a violência que neles habita e que não tenham assumido a mansidão no coração.
As duas coisas estão estreitamente ligadas entre si."
RV: Qual seria,
portanto, o caminho espiritual para tornar-se- como diz o Papa Francisco, artesão
da paz?
Pe. Enzo Bianchi:- "Trata-se de ter uma atitude de mansidão,
de concórdia, a partir do nosso cotidiano: na família, em nossos ambientes, na sociedade,
e assim por diante, dar-lhe também uma dimensão política maior. Mas não se pode existir
uma paz política se não houver uma paz que toque as pessoas em seu cotidiano e que
as tornem artesãs da paz. É muito simples."
RV: Entre as delegações
que participam deste 22º Simpósio de Bose encontram-se as do Patriarcado de Moscou
e da Igreja ortodoxa na Ucrânia: qual significado pode ter neste momento?
Pe.
Enzo Bianchi:- "Significa que também aqui haverá um diálogo, que também aqui se
buscará entender o que os cristãos podem fazer em favor da paz."
RV:
A seu ver, é possível que as religiões ajudem a encontrar a paz, num momento em que,
por vezes, parecem ser também motivo de conflitos?
Pe. Enzo Bianchi:-
"É necessário. Sobretudo o cristianismo, que tem Jesus Cristo, Príncipe da paz, como
coração da fé. Ou é cristianismo fiel ao Senhor ou não é cristianismo, e se coloca
em concorrência, então, com as outras religiões: religião entre as religiões." (RL)