2014-09-03 19:57:21

Papa Francisco ao Simpósio de Bose: a paz de Cristo aplaca as contendas


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou um telegrama ao Simpósio ecumênico internacional de espiritualidade ortodoxa, iniciado esta quarta-feira na localidade de Bose, situada na região do Piemonte, norte da Itália.

Assinado pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, no telegrama, o Santo Padre faz votos de que "os dias de estudo e de intercâmbio possam favorecer a consciência de que é possível viver e testemunhar a paz anunciada por Cristo, mediante atitudes de sincera fraternidade que arrefecem as contendas, superam as desconfianças e geram esperança".

Com o tema "Bem-aventurados os pacificadores", o evento – organizado pela Comunidade ecumênica de Bose em colaboração com as Igrejas Ortodoxas – deseja colocar-se à escuta do Evangelho da paz, que pede aos cristãos que sejam um fermento de reconciliação entre as mulheres e os homens dos nossos dias. A Rádio Vaticano ouviu o Prior da Comunidade ecumênica, Pe. Enzo Bianchi. Eis o que disse:

Pe. Enzo Bianchi:- "Neste momento particular temos, como diz o Papa Francisco, uma terceira guerra mundial em andamento, embora não a chamemos tal. É como um foco terrível, sobretudo no Oriente Médio, onde as confissões cristãs estão propriamente uma ao lado da outra, sobretudo Igrejas ortodoxas orientais e católicas. Então, o simpósio quis, justamente por isso, falar de paz, dos pacificadores, quer em relação ao Oriente, quer em relação também à situação européia na Ucrânia. Portanto, tornou-se um tema de grande atualidade, que é decisivo para o futuro do cristianismo naquelas terras."

RV: O que significa que a paz tem também uma dimensão teológica e reveladora?

Pe. Enzo Bianchi:- "Não nos esqueçamos que para nós, cristãos, Jesus Cristo é a paz. E foi Ele quem veio para abater todos os muros, toda separação, e é somente em seu nome que se pode realmente fazer a paz, que é uma paz – atenção – como fruto não religioso: é a paz entre os homens, mas a fonte, a fonte é o próprio Jesus Cristo."

RV: Os Padres da Igreja, tanto do Ocidente quanto do Oriente, privilegiam o aspecto espiritual em relação ao político e social. É difícil passar de um para o outro?

Pe. Enzo Bianchi:- "Sem a paz interior, a paz do espírito, sem chegarmos a ter o homem desarmado, sempre haverá conflitos e, consequentemente, as guerras. Não se pode pensar numa paz social, numa paz universal com homens pessoalmente armados, que não tenham renegado a violência que neles habita e que não tenham assumido a mansidão no coração. As duas coisas estão estreitamente ligadas entre si."

RV: Qual seria, portanto, o caminho espiritual para tornar-se- como diz o Papa Francisco, artesão da paz?

Pe. Enzo Bianchi:- "Trata-se de ter uma atitude de mansidão, de concórdia, a partir do nosso cotidiano: na família, em nossos ambientes, na sociedade, e assim por diante, dar-lhe também uma dimensão política maior. Mas não se pode existir uma paz política se não houver uma paz que toque as pessoas em seu cotidiano e que as tornem artesãs da paz. É muito simples."

RV: Entre as delegações que participam deste 22º Simpósio de Bose encontram-se as do Patriarcado de Moscou e da Igreja ortodoxa na Ucrânia: qual significado pode ter neste momento?

Pe. Enzo Bianchi:- "Significa que também aqui haverá um diálogo, que também aqui se buscará entender o que os cristãos podem fazer em favor da paz."

RV: A seu ver, é possível que as religiões ajudem a encontrar a paz, num momento em que, por vezes, parecem ser também motivo de conflitos?

Pe. Enzo Bianchi:- "É necessário. Sobretudo o cristianismo, que tem Jesus Cristo, Príncipe da paz, como coração da fé. Ou é cristianismo fiel ao Senhor ou não é cristianismo, e se coloca em concorrência, então, com as outras religiões: religião entre as religiões." (RL)







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