Juiz de Fora (RV) - Há diferentes maneiras de pensarmos a vida. Quando escolhemos
uma profissão, podemos pensar em todas aquelas às quais renunciamos ou nos fixar naquela
que escolhemos. Seguindo a primeira atitude, ao escolher uma profissão, nós nos empobrecemos.
A partir do segundo, aquela profissão escolhida nos enriquece e é isso que, de fato,
nos mostra um caminho. Podemos pensar o mesmo de qualquer relação humana. Ter um amigo
é ter tudo, dizem alguns. É o melhor tesouro, dizem outros. Mas. É igualmente verdade
que, como não podemos ser amigos de todo mundo, possuir um significa renunciar a muitos
outros. É que, simplesmente, não podemos ter tudo. Essa condição faz parte de nossas
limitações como seres humanos.
Seguir Jesus significa renunciar a muitas coisas.
Assim Ele nos diz no Evangelho. Estar com Jesus significa negarmos a nós mesmos. É
tornar Jesus o centro de nossa vida, pegar o que é nosso e segui-lo. Podemos voltar
a nossa atenção àquilo que deixamos para trás, para as renúncias impostas a nós mesmos,
para os mandamentos a que precisamos obedecer. Não são poucos. Tudo isso pode ter
algo de cruz. É certo.
Mas talvez seja melhor voltarmos a nossa atenção para
aspectos mais positivos. Como diz o profeta Jeremias, “seduziste-me, Senhor e deixei-me
seduzir”. Quando ocorre esse processo de sedução, a pessoa seduzida já não se preocupa
mais com o que ficou para trás. Só tem olhos para aquilo que está adiante, para o
objeto que a seduz. Viver desta maneira a nossa fé nos levaria a descobrir não as
renúncias, mas a alegria de nos encontrarmos com Jesus; não os mandamentos, mas a
maravilhosa oportunidade de tomarmos parte de uma comunidade de fiéis que a cada domingo
celebra com alegria a sua fé. Assim, veríamos muito mais aspectos positivos do que
negativos de nossa fé.
É a diferença entre ir forçado ou ir por amor. Quando
nos obrigam a ir a algum lugar, quando vemos que outros apenas cumprem com a própria
fé como se essa fosse uma obrigação pesada, é claro que descobriremos apenas os aspectos
negativos dessa realidade. Mas, quando é a própria realidade que me atrai, então eu
não me preocupo com o que ficou para trás, pois me sinto atraído por tudo o que vejo
de positivo naquilo que me seduziu.
Quando perceberemos que o Evangelho é uma
questão de amor?
Reflitamos: quando vamos à missa aos domingos, fazemos isto
por obrigação, como um fardo pesado? Os mandamentos da vida cristã são para nós a
expressão de nosso amor por Jesus? Como cristãos, estamos mais atentos às renúncias
ou à satisfação do encontro com Jesus e os irmãos?
+ Eurico dos Santos Veloso Arcebispo
Emérito de Juiz de Fora(MG).