2014-09-03 09:27:04

Como nasceu a experiência missionária na Amazônia?


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Cidade do Vaticano (RV) - Você já pensou em ser missionário na Amazônia? Há décadas, os leigos participam e são os principais agentes de evangelização junto aos índios, ribeirinhos, pequenos agricultores, levando aos povos amazônicos a Palavra de Deus. Para que os voluntários conheçam a realidade ambiental, sócio-político, econômica, cultural e eclesial, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e várias dioceses oferecem cursos com informações sobre a própria região em que irão atuar, características do meio ambiente, população e ação pastoral.

São centenas de padres, leigos, religiosas e religiosos, fortalecendo durante todo o ano a missão da Igreja. Mas como nasceu a experiência missionária na Amazônia? Desde quando missionários se interessam por estas terras? Quem responde é o Padre Raymundo Possedônio, o maior especialista no Brasil em História da Igreja na Amazônia. Ele vai palestrar no Encontro para a criação da Rede Eclesial Pan-Amazônica, em Brasília, no dia 11 de setembro:

"A minha palestra sobre a experiência eclesial nesta região terá três momentos: a parte história, referindo sobretudo ao século 17, quando a Amazônia começou a ser evangelizada. Aqui apareceram ordens religiosas como franciscanos, jesuítas, mercedários e carmelitas, que fizeram um trabalho extraordinário dadas às circunstâncias da época, o contexto da distância, da precariedade do trabalho. Só para termos uma idéia, eles se estabeleceram aqui nesta região indo da Foz até o Alto Rio Negro, Alto Solimões, descendo o Madeira, 63 aldeamentos missionários, com uma quantidade para a época, enorme de frades, padres, irmãos que para cá vieram e se dedicaram à evangelização, sobretudo do povo indígena e depois, à população que ia se formando aqui na região, fruto da miscigenação entre brancos e índios e depois, com os africanos, que foram chegando no século XVII. Então, para termos uma idéia e comparando com a realidade de hoje, só os jesuítas tinham cerca de 115 missionários aqui na região, com mais de 20 missões por aqui. E assim também os franciscanos, etc. Esta foi a primeira grande experiência missionária da Amazônia, que chegou a seu ponto culminante em meados do século XVIII, quando os jesuítas foram expulsos, os franciscanos também saíram, os mercedários deixaram a missão, e lá pelo final do século XVIII a Amazônia entrou em uma espécie de crise missionária, que durou mais ou menos um século.

O segundo ciclo missionário veio a partir da metade do século XIX, com a retomada da ação da Igreja, feita principalmente por Roma. Antes, a realidade eclesial era de certa forma dominada pelo sistema do Padroado, a Igreja não tinha muita liberdade e a Igreja se submetia aos ditames do Padroado. Isto durou aqui na Amazônia até a República, até o final do século XIX. A Igreja começou então a ir se libertando deste controle eclesiástico por parte do Estado e foi enviando missionários para a nossa região: foi uma reconquista espiritual do espaço amazônico por parte da Igreja, que enviou missionários para todas as regiões. Foi um belo trabalho de evangelização, mas de outra forma, sem aldeamentos nem missões no estilo antigo, mas consolidando este trabalho através das paróquias. Chama-se este período de ‘paroquialização’ da Amazônia. Aí chegaram padres e congregações religiosas e mulheres começaram a entrar na missão aqui na Amazônia. Foram se espalhando por toda a região. A grande novidade desta nova onda missionária foram as escolas, a assistência de saúde aos pobres e em geral, não só mais aos índios, mas também a todos os pobres da Amazônia, uma região meio abandonada pela política.

O terceiro ciclo é o mais atual, que começou por volta de 1950, já com outra perspectiva eclesial e eclesiológica: além das preocupações com a cultura moderna, com as ideologias que começaram a grassar de forma forte, sobretudo através da política ou dos meios de comunicação, através das academias universitárias, escolas. O ensino era positivista... e a Igreja foi buscando uma maior aproximação do próprio povo, das bases mais populares, através da CNBB, que foi implantada, da colegialidade dos bispos, etc.".

(CM)







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