2014-08-28 20:49:13

Revista jesuíta recorda Dom Hélder Câmara, pobre entre os pobres


RealAudioMP3 Cidade do Vaticano (RV) - Em 27 de agosto de quinze anos atrás, a Igreja no Brasil perdia um de seus pastores mais ilustres de todos os tempos, Dom Hélder Câmara, um dos bispos latino-americanos mais amados, que – no seguimento do Evangelho – colocou os pobres no centro de sua vida e da sua ação pastoral.

Para recordá-lo, a revista italiana Popoli, dos Jesuítas, publicou um artigo de Gerolamo Fazzini que evidencia as semelhanças entre Hélder Pessoa Câmara e Jorge Mario Bergoglio.

Entrevistado pela nossa emissora (RV), Fazzini nos explica por qual motivo a figura de Dom Hélder é ainda tão atual:

Gerolamo Fazzini:- "Verifiquei isso in loco, indo ao Brasil: existe uma memória muito viva de Dom Hélder, diretamente ligada a sua predileção pelos mais pobres, pelos últimos. Não foi assim desde o início porque Dom Hélder – jovem sacerdote – havia recebido uma formação de outro tipo: era menos atento a esse aspecto, um pouco como Dom Oscar Romeno que depois mudou durante sua vida e a partir de sua experiência episcopal. Porém, esse é certamente um traço fundamental de sua personalidade."

RV: Francisco apresentou-se com esse binômio que todos conhecemos muito bem: pastor e povo. De certo modo, também aí vemos semelhanças...

Gerolamo Fazzini:- "Certamente, sim. Há essa dimensão do seu ser pastor como uma pessoa não inalcançável; um guia, mas não alguém que manda, que está na cátedra, do alto. O próprio termo dom – que é usado no Brasil – expressa essa proximidade e, no caso de Dom Hélder, isso era ainda mais explícito."

RV: Em seu artigo escrito na revista "Popoli", o senhor fala quase como de uma antecipação em alguns traços; há uma evocação, por vezes afirmações, palavras e também gestos que de certo modo antecipam Bergoglio...

Gerolamo Fazzini:- "Diria que vi um pouco isso e entendi indo a Recife, visitando os lugares onde Dom Hélder viveu: sua igreja, a Igreja das Fronteiras; vendo o quarto que era dele, seu escritório. Esse elemento da pobreza, da essencialidade, da simplicidade que o Papa Francisco vive dia a dia e que impressionou a todos, é algo que Dom Hélder viveu, inaugurou em sua pessoa. Uma pequena dependência muito simples que lhe servia de escritório, um quarto igualmente simples com uma rede onde ele dormiu em seus últimos tempos... algo que hoje podemos comparar à residência Santa Marta do Papa Francisco. Mas, não é só isso: outro elemento que une os dois é o traço humano. A atenção às pessoas, a ternura, o curvar-se diante do outro como se naquele momento fosse a pessoa mais importante. Várias pessoas evidenciaram-me esse aspecto. Eu também tive a sorte de conhecer Dom Hélder durante uma de suas viagens à Itália e seu sorriso me impressionou muito, a capacidade de deter-se, falar e dialogar com as pessoas mesmo havendo a barreira linguística. Todos esses elementos da vida de Dom Hélder evocam o Papa Francisco."

RV: Devido sua atenção aos pobres, Dom Hélder foi acusado, por alguns ambientes, de ser um comunista, e vemos que, afinal de contas, há quem hoje acusa também o Papa Francisco de ser um marxista. A resposta dos dois, de Bergoglio e de Câmara, são inacreditavelmente parecidas: pobre não é uma bandeira comunista, é a bandeira do Evangelho...

Gerolamo Fazzini:- "Exato. Dom Hélder, inclusive em seus discursos, ia à raiz das desigualdades, ou seja, concretamente se interessava pelo pobre, mas propositivamente questionava as razões da desigualdade, da pobreza; e o Papa Francisco faz a mesma coisa. É claro que essa postura pode incomodar a quem, ao invés, gostaria de manter o status quo, dando atenção ao pobre, mas única e simplesmente em chave assistencial, e não assumindo uma postura que coloca em discussão um sistema mais global de algumas regras não-escritas que depois – porém – criam as injustiças. Também nesse inclinar-se "concretamente" diante do pobre, mas ao mesmo tempo exigir que cada um faça seu dever de combater as injustiças – causa da pobreza e da miséria –, vejo semelhanças "espirituais" entre Dom Hélder e o Papa Francisco." (RL)







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