Cardeal Vegliò em relação ao Iraque: comunidade internacional faz muito pouco
Cidade do Vaticano
(RV) - O Papa Francisco recebeu na manhã desta quarta-feira na Casa Santa Marta,
no Vaticano, o presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os
Itinerantes, Cardeal Antonio Maria Vegliò: no centro do colóquio, em particular, o
drama da população iraquiana que foge por causa das violências dos jihadistas do chamado
Estado Islâmico. Para o Papa a Igreja deve estar na linha de frente na defesa dos
mais fracos. A propósito, eis o que disse o Cardeal Vegliò, entrevistado pela Rádio
Vaticano:
Cardeal Antonio Maria Vegliò:- "A Igreja deve ajudar justamente
aqueles que mais necessitam, porque seus direitos são espezinhados. Portanto, a Igreja
que é para os pobres e para quem não tem voz deve estar presente, e jamais devemos
nos cansar de dizer essas coisas nas homilias, quer nos discursos, quer também como
influência, eventualmente, em situações políticas."
RV: Agora há o novo
drama dos deslocados no Iraque: são realmente muitos...
Cardeal Antonio
Maria Vegliò:- "Eu os chamo de deslocados e refugiados, porque vão embora, porque
se ficam em seus lugares de origem, morrem. Ora, diante destas pessoas não consigo
entender como se possa dizer – como foi dito: "Mandemos de volta a seus países". Alguém
que raciocina pode dizer a quem fugiu de seu país no qual teria sido morto, "volte
para seu país?" Creio que falte não somente o sentido de humanidade, mas também a
inteligência: sinto muito ter que dizer isso... Ademais, trata-se de gente que sofre:
deixa tudo e vai embora... E não somente no Iraque, você bem o sabe. Agora o Iraque
é a ponta do iceberg, porque ali se encontra a situação mais assustadora: há assassinatos,
tragédias com as maneiras bárbaras que bem sabemos, que vimos... Esse povo precisa
não somente de oração: a oração é importante, mas não basta; precisa de ajuda, precisa
que a comunidade internacional assuma isso. De que modo? O Papa o disse no avião,
de volta da Coreia: "É preciso frear essa gente". Como? Propriamente: é a comunidade
internacional que deve avaliar os meios. Não pode fazer finta de nada. Justamente,
o Papa disse: "Não podemos fechar os olhos, não podemos fazer finta que nada acontece",
porque seria a mesma coisa de quando Hitler matava os judeus e depois de muitas vítimas
disseram: Ah, não, não sabíamos de nada!: tudo hipocrisia! É preciso fazer algo!"
RV:
Nesse sentido, a comunidade internacional está fazendo ainda muito pouco...
Cardeal
Antonio Maria Vegliò:- "A comunidade internacional faz muito pouco: ou seja, a
ONU e também um pouco a Europa que está mais próxima desses países, também geograficamente
falando. A meu ver, a Europa deveria ter um pouco mais de sensibilidade. Infelizmente,
na Europa temos muitos problemas, razão pela qual egoisticamente falando se pensa
em si mesmo e pouco nos outros. Porém, se pensamos em nossos problemas – digo 'nossos'
como italiano – que são graves, como se sabe, porque a economia vai mal, o trabalho
falta para muitos, porém, são sempre problemas relativamente menores do que os desse
pobre povo iraquiano que foge para não ser degolado..." (RL)