2014-08-27 20:10:59

Representantes do Povo


Porto Alegre (RV) - Estamos acompanhando, especialmente pelos meios de comunicação de massa, a campanha eleitoral de 2014. Vemos também nas ruas e praças sinais do empenho dos que pleiteiam se tornar representantes do povo, nas diversas instâncias da vida política num estado de direito.

Os cidadãos e cidadãs que participam desse processo são convidados a escolher homens e mulheres que encarnem valores da ética e do compromisso com a sociedade. A Nação tem o direito de ter nas instâncias dos Poderes constituídos pessoas marcadas por vida ilibada, distintas na promoção e defesa da ética, aptas a se dedicarem ao bem comum e cuidado da “coisa pública”.

Constata-se, com preocupação, certo descrédito em relação aos poderes constituídos da República. Tal situação é resultado de situações em que a pessoa tem sido descurada, e muitas, inclusive, perderam e continuam perdendo a vida à espera de serviços públicos. Com frequência surgem informações a respeito de fatos marcados por corrupção descarada e enriquecimento ilícito em detrimento ao cuidado e à promoção da vida de todos. A finalidade da atividade política não pode ser ameaçada por conchavos e negociações espúrias.

O período que antecede o pleito eletivo é tempo privilegiado para refletir sobre as propostas apresentadas pelos candidatos, a integridade ética dos mesmos e o projeto de Nação e de Estado que defendem. Não bastam propostas vagas, indicações genéricas ou planos impossíveis de serem levados a termo. Fazem-se necessários honestidade, franqueza e verdadeira disposição de trabalhar em prol do bem da coletividade.

As ‘bandeiras’ da educação, saúde e segurança se tornaram lugar comum nas campanhas eleitorais. Entretanto, enquanto forem usadas somente como propaganda eleitoral, não se avançará. Há sinais de que o sistema de saúde é frágil; educação se tornou moeda de troca, onde a necessária reflexão da questão para o desenvolvimento da pessoa e do Estado parece não interessar; segurança parece algo distante... O cidadão comum parece sentir-se sempre mais naquela situação do ‘salve-se quem puder...’ Saúde, educação e segurança se tornaram excelente negócio, pois o setor público não atende à ‘demanda’...

Que formação desejamos para cada cidadão? Que modelo de Nação e de Estado está sendo proposto, senão imposto? São questões que a sociedade precisa refletir e discutir para então apontar pessoas que a representem diante dos Poderes constituídos. Para que isso aconteça, faz-se necessária a mobilização de todos. Não se pode esquecer as manifestações que aconteceram em cidades brasileiras no período que antecedeu à Copa do Mundo. No ‘discurso das ruas’ se manifestava insatisfação com a maneira como os políticos eleitos vêm exercendo o poder, distanciados das necessidades da população, fazendo da política balcão de negócios, onde se barganha bens da coletividade como se fossem particulares.

Existe, segundo a Doutrina Social da Igreja, uma salutar independência entre a comunidade política e a Igreja. Ambas estão a serviço da vocação pessoal e social dos próprios homens. A Igreja, pois, enquanto entidade inserida na vida da sociedade se preocupa com a realidade e sua transformação em prol da vida em plenitude para todos – e não apenas para alguns! Ela coopera para que a atividade política concorra para o bem de todos. “Devemos envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum” (Papa Francisco).

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre - RS








All the contents on this site are copyrighted ©.