Jales (RV) - Em tempos de campanha eleitoral, é bom dar-nos conta que existem
outras “campanhas”, mais arejadas e mais claras em seus objetivos. Uma delas, sem
dúvida, é a campanha contra a fome no mundo, lançada pela Cáritas Internacional, e
assumida pelas cáritas nacionais, em mais de 150 países. Uma campanha, portanto, que
conta com o apoio institucional de uma das organizações mais ativas hoje no mundo. O
lema da campanha é abrangente e motivador. “Uma família humana, pão e justiça para
todas as pessoas!” Se todas as cáritas estão dispostas a abraçar esta campanha,
podemos dizer que a Cáritas Brasileira se sente particularmente envolvida, dado que
o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos no mundo. Esta constatação nos
apresenta diversas interpelações. Com vastas extensões de terras cultiváveis, e sendo
um dos poucos países que ainda podem estender sua fronteira agrícola, ao se falar
em fome, o Brasil precisa mesmo se sentir questionado. Com a pauta de exportações
de alimentos tão significativa, o Brasil bem que poderia urgir uma política mundial
de produção e distribuição de alimentos, que superasse a esfera meramente comercial
dos produtos alimentícios. Pois de fato, uma das questões pendentes em todas as
esferas políticas é o caráter prioritário que deveria merecer a circulação mundial
de produtos alimentícios. O alimento não pode se relegado à condição de mera mercadoria.
Neste sentido, é evidente a complexidade da questão, pela incidência que uma determinada
decisão tem sobre outras. As medidas adotadas para a esfera da comercialização, têm
reflexos imediatos na esfera da produção. É por isto que a agricultura é a atividade
econômica que mais precisaria ser regulamentada com critérios humanitários, sem desconhecer
sua dimensão comercial, que também precisa de adequada valorização. Pois às vezes
acontece que uma determinada ação governamental para baixar os preços dos produtos
agrícolas, acaba penalizando os agricultores que os produziram. Tudo isto para
dizer que esta campanha contra a fome no mundo tem horizontes amplos, e traz questionamentos
de ordem política e administrativa. Mas independente destas complexidades, a campanha
tem caráter de urgência, e pode contar com a adesão de todos, e se expressar através
de diversas iniciativas, que precisarão contar necessariamente com a arrecadação de
recursos financeiros, que no seu destino poderão ser convertidos em alimentos que
possam chegar ao alcance dos mais de um bilhão de famintos no mundo. Assim, o sistema
financeiro, que é o setor que mais lucra com a ordem econômica vigente hoje no mundo,
poderá prestar o bom serviço, de ser o mediador da solidariedade humana, neste causa
tão nobre de saciar a fome dos famintos. Outro aspecto importante desta campanha,
é o apoio que ela já recebeu do Papa Francisco. Para entender o peso deste apoio,
é bom dar-nos conta da estratégia do Papa em pautar seu pontificado. Ele fez diversos
gestos simbólicos, que encontraram grande receptividade no mundo. Mas não bastam os
gestos. Ele tomou algumas iniciativas, que podem ser chamadas de exemplares, para
sinalizar ações mais envolventes. Pois bem, uma das iniciativas simbólicas foi o apoio
dado a esta campanha da Cáritas, que ele quis assumir como sendo de toda a Igreja.
Com isto, ele aponta as ações concretas contra a fome, como sendo a maneira prática
dos cristãos colaborarem com a vida digna de todas as pessoas. Assim a Igreja atende
o apelo de Cristo: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” Dom Demetrio Valentini