Papa Francisco na audiência geral, sobre viagem à Coreia: "Cristo não anula as culturas;
combate, isso sim, a divisão entre os povos"
Regressado da
Coreia, já nesta quarta-feira o Santo Padre acolheu os peregrinos na audiência-geral,
na Sala Paulo VI. Como sempre depois de uma visita internacional, foi esse acontecimento
o tema do encontro com os fiéis. Papa Francisco condensou em três palavras o significado
da viagem : memória, esperança, testemunho.
Num país que teve um notável e
rápido desenvolvimento económico, os coreanos desejam manter a força herdada dos seus
antepassados. Ora – observou o Papa –a Igreja desempenha também a missão de proteger
a memória e a esperança:
“A Igreja cuida da memória e da esperança:
é uma família espiritual em que os adultos transmitem aos jovens a chama da fé recebida
dos idosos; a memória das testemunhas do passado torna-se num novo testemunho no presente
e esperança para o futuro.”
Foi a esta luz, nesta perspectiva,
que o Papa entendeu “ler” os dois principais acontecimentos da viagem à Coreia: a
beatificação de 124 mártires e o encontro com os jovens, por ocasião da VI Jornada
Asiática da Juventude.
No resumo desta alocução, lido em português nesta audiência-geral,
em nome do Papa, foi recordada a origem da Igreja neste “país onde convivem antigas
culturas asiáticas e a perene novidade do Evangelho”. Ouçamos parte dessa síntese,
apresentada por mons. Ferreira da Costa:
Lá a comunidade cristã
não foi fundada por missionários, mas por um grupo de jovens coreanos, da segunda
metade do século XVIII, que ficaram encantados com alguns textos cristãos, estudaram-nos
a fundo e escolheram-nos como regra de vida. Um deles foi enviado a Pequim para receber
o Baptismo e, voltando, baptizou os companheiros. Daquele primeiro núcleo desenvolveu-se
uma grande comunidade que, durante cerca de cem anos, sofreu violentas perseguições
com milhares de mártires. Tive a graça de beatificar 124 deles, que se juntam aos
mártires coreanos já canonizados por São João Paulo II.
“Mártir”
é “testemunha” – quis fazer notar o Papa. Ora o Mártir dá testemunho de algo, ou melhor,
de Alguém, pelo qual vale a pena dar a vida…
esta realidade é o Amor
com letra grande, é Deus que encarnou em Jesus. E, ao encarnar, Ele não destrói o
que há de bom em nós, mas leva-o à perfeição. Com esta certeza, rezamos por todos
os filhos e filhas da Península Coreana, que sofrem as consequências de guerras e
divisões, para que possam realizar um caminho de plena reconciliação.
Os primeiros cristãos coreanos – observou ainda ao Papa, na sua alocução
em italiano –propuseram-se como modelo a comunidade apostólica de Jerusalém, praticando
o amor fraterno que supera todas as diferenças sociais.
Encorajei por
isso os cristãos de hoje a serem generosos na partilha com os mais pobres e os excluídos,
segundo o Evangelho de Mateus no capítulo 25: ‘Tudo o que fizestes a um só destes
meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes. Caros irmãos, na história da fé na Coreia
vê-se que Cristo não anula as culturas, não suprime o caminho dos povos que através
dos séculos e os milénios que procuram a verdade e praticam o amor a Deus e ao próximo.
Na saudação ao Santo Padre, em português, na audiência geral,
mons. Ferreira da Costa exprimiu os pêsames dos fiéis da nossa língua.
E nas
palavras finais em italiano, o próprio Papa Francisco agradeceu as condolência e as
orações. Também o Papa tem um família… - disse, depois de ter evocado o acontecido.