Card. Filoni: Papa defende a dignidade dos mais pobres
Bagdá (RV) – O Cardeal Fernando Filoni vive seus últimos momentos como enviado
pessoal do Papa Francisco ao Iraque. Nesta terça-feira, 19, o purpurado teve um encontro
com o Presidente iraquiano, Fuad Masum, a quem entregou uma carta do Papa Francisco.
Amanhã, quarta-feira o purpurado retornará a Roma. Ele foi entrevistado pela Rádio
Vaticano sobre a situação no Iraque:
Card. Filoni: “O encontro foi
muito cordial. Eu estava acompanhado pelo Patriarca caldeu, o Patriarca Sako, pelo
Núncio Apostólico e por Dom Warduni. Eu entreguei a carta, à qual o Presidente responderá;
contei a ele sobre a experiência destes dias e sublinhei que a minha não era uma visita
política, mas era uma visita humanitária por desejo do Santo Padre e por esta razão
fui antes de tudo à Irbil, onde a situação no Curdistão é ainda muito séria e grave,
e posteriormente à Bagdá onde, tive este encontro”.
RV: Obviamente
uma carta do Papa Francisco para o Presidente iraquiano justamente neste contexto
de empenho abrangente de Francisco pela paz.......
Card. Filoni: “Isto
está no coração, na mente e na ação pastoral do Papa. Portanto o Santo Padre, diante
de uma situação de tão grave emergência, não poupa possibilidades de interferir, justamente
para sublinhar o quanto esteja no seu coração esta situação em favor destes pobres.
A questão aqui no Iraque não é somente uma tragédia para o povo iraquiano, para os
nossos cristãos ou para os yazidi, mas é algo que diz respeito a todos os homens que
têm a peito a humanidade. Pequenas ou grandes minorias, fés diversas e religiões diferentes,
não em como pensar diferente de que somos todos ligados por esta mesma dignidade humana,
que deve ser salvaguardada, defendida e incrementada”.
RV: O Papa
Francisco, na viagem de retorno da Coréia, no avião, na coletiva de imprensa, afirmou:
“eu estou disposto, ou melhor, quis ter estado no Iraque...Mas estou disposto a
ir, se isto for possível...”:
Card. Filoni: “Conhecendo o coração,
a mente e também o motivo pelo qual me enviava, não tinha dúvidas que se naquele momento
ele tivesse podido, certamente não teria deixado de fazê-lo também diretamente, mesmo
compreendendo as tantas situações que poderiam emergir disto. Portanto, vejo a confirmação
de que a minha intuição não estava errada”.
RV: O Papa também
afirmou: “deter o injusto agressor é lícito”. Como foram acolhidas estas palavras
no Iraque?
Card. Filoni: “Eu acredito que o Santo Padre não tenha
feito outra coisa senão expressar aquele que foi o pedido de todos os cristãos, de
todos os yazidis, de todas estas pessoas refugiadas, que têm o desejo de retomar a
sua vida, a sua dignidade. Ora, diante de uma situação assim precária – e gostaria
de dizer também assim dura -, eu acredito que aqui não se trate de guerra: nós não
podemos nunca ser favoráveis às guerras, porém existem conflitos onde defender os
mais pobres – pensemos que os nossos cristãos não tinham armas, os yazidis não tinham
armas – foram expulsos de suas terras, violentados na sua dignidade, roubados de suas
famílias... Portanto, podemos permanecer indiferentes? Assim, trata-se de direitos
que devem ser defendidos por todas as pessoas de boa vontade. Cada um o deve fazer
segundo a sua capacidade. O Santo Padre o faz com toda a sua capacidade espiritual
e moral.Cada um, depois, a nível civil, a nível social, a nível de responsabilidade,
deve fazer a sua parte. Num contexto que não se faz uma guerra, mas que o direito
dos povos seja salvaguardado. Se nós não interviermos, teremos um genocídio e talvez
algumas semanas após teríamos um remorso na consciência, como ocorreu no passado em
algumas situações dramáticas na África, para não dizer também precedentemente e que
ainda hoje se repetem em algumas situações, ainda na África. Não pensemos que, por
exemplo, a situação dramática das cerca de 450 crianças roubadas de suas casas seja
um fato terminado! Estes são aspectos sobre os quais eu acredito que qualquer pessoas
poderia pensar: “Aquela criança, aquela jovenzinha, poderia ser minha irmã, uma de
minha família.... Poderia eu ficar indiferente? Eu não faria de tudo para libertá-la?”.
(JE)