A Coreia que o Papa está encontrando: desafios e esperanças
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, nosso espaço de formação de hoje volta seu olhar
para a III Viagem Apostólica Internacional do Papa Francisco, nestas horas em terras
coreanas.
Vale lembrar que são três os temas centrais que cadenciam esta visita
do Papa à Coréia: a Jornada Asiática da Juventude, que reunirá cerca de 6 mil jovens
representando 23 países asiáticos; a Beatificação de 124 mártires coreanos, fundadores
da Igreja na Coreia; e a reconciliação e a paz numa Península dividida entre Norte
e Sul.
Tendo chegado nesta quinta-feira à Coreia do Sul, o Santo Padre está
encontrando uma comunidade católica ativa, com uma considerável influência social
e política que supera sua condição de minoria.
Embora sendo minoritários, os
católicos são o grupo que cresce mais rapidamente, com cerca de 5,4 milhões de membros,
representando pouco mais de 10% da população.
A Coreia do Sul viveu no último
meio século "um desenvolvimento impressionante do ponto de vista econômico, político
e religioso. Deu passos inacreditáveis, mas agora precisa parar um pouco e refletir
sobre sua maturidade também como Igreja Católica".
"E o Papa nos ajudará nesse
processo, estimulando-nos a transformar o crescimento mecânico numa relação mais humana
em todos os campos": essas são algumas ponderações do presidente dos bispos coreanos,
Dom Peter Kang U-il (feitas em 1º de julho passado).
Voltando nosso olhar para
a realidade histórica, política e social da Coréia do Sul em nossos tempos, propomos,
neste espaço, de modo bastante sintético, um quadro traçado por Dom U-il que nos ilustra
bem a realidade que o Papa está encontrando ao visitar este importante país do continente
asiático, e aquilo que os coreanos esperam desta visita de Francisco.
"Uma
das maiores expectativas de todos é que o Papa possa abrir um novo momento, uma nova
fase em prol da reconciliação e da unidade entre as duas Coréias, do Norte e do Sul.
Vivemos sempre, nos últimos 64 anos, com apreensão e sob a perene ameaça de guerra.
Alguém disse que a era da Guerra Fria global acabou com o esfacelamento da União Soviética,
mas na Península coreana somos obrigados a viver ainda sob aquela tensão da Guerra
Fria. Inúmeras famílias encontram-se divididas pela Zona desmilitarizada, cujas pessoas
há mais de meio século não conseguem se encontrar novamente desde separação. Nosso
maior sonho é a paz, mas somente o Senhor poderá remover os obstáculos e as barreiras
existentes entre o Norte e o Sul. Somente a esse ponto veremos Sua paz realizar-se
verdadeiramente. Nós, como coreanos, sinceramente esperamos que o Papa Francisco possa
abrir uma nova era de reconciliação e diálogo, lançando sua mensagem de paz no nordeste
da Ásia. Isso poderá certamente contribuir muito para a paz em nosso planeta."
Falando,
ainda, sobre as necessidades da sociedade e da Igreja coreana, Dom U-il ressalta que
"se costuma dizer que os sul-coreanos tiveram nos últimos 50 anos um desenvolvimento
tão rápido que as outras nações precisariam de ao menos 100 anos para crescer igualmente.
Estima-se que no último meio século os coreanos tenham alcançado mudanças realmente
rápidas no campo da indústria, da democracia e também da evangelização. Todavia, no
processo que levou a esse rápido progresso passamos por várias reações contrárias,
que ainda produzem sofrimentos e protestos entre a população. Em campo político vivemos
ainda um confronto muito duro entre conservadores e liberais. Em campo econômico,
embora a nação tenha alcançado êxitos enormes (como o PIB demonstra), o abismo entre
os muito ricos e as massas de muito pobres tornou-se quase insuperável. No campo da
evangelização, a Igreja obteve grandes êxitos do ponto de vista das conversões. No
último meio século a população católica passou de 500 mil para quase 5 milhões e meio.
Mas hoje começamos a nos questionar sobre a qualidade da evangelização".
Referindo-se
ao valor missionário da visita do Papa Francisco, o presidente dos bispos coreanos
diz crer "que o Papa queira visitar esta nação porque aqui vivemos todos os dias no
perigo permanente de uma guerra e porque nesta península se acirram as tensões das
potências globais, movidas pelos próprios interesses e pelo desejo de hegemonia na
região. Esperamos que o Papa provoque uma verdadeira oportunidade de mitigar o confronto
hostil, abrindo o caminho para a paz. E rezamos para que possa estimular a sociedade
coreana a alcançar uma verdadeira maturidade humana em todos os níveis". (RL)