Cidade do Vaticano (RV) - “A rebelião de Boko Haram na Nigéria era esperada
e é devido a uma combinação de abuso de poder, recursos e capacidade perpetrado por
décadas, em total desrespeito da lei”: é o que disse, em uma entrevista à redação
Inglês-África da Rádio Vaticano, Dom Emmanuel Badejo, Bispo de Oyo e Presidente do
Apostolado para as Comunicações da Conferência Episcopal da Nigéria. De acordo com
o prelado, os confrontos que, atualmente estrangulam o país não são o resultado de
uma improvisa explosão do conflito, mas sim, o resultado da incapacidade das autoridades
de responder a inúmeros sinais de alerta. Dom Badejo descreve, portanto, a responsabilidade
da administração nacional, que não soube combater a corrupção e nepotismo dentro do
país, e critica o governo pela forma como lidou com a perene questão do desemprego,
entre os problemas que desencadearam o conflito.
É opinião entre os cristãos
nigerianos, continua o Bispo de Oyo, que a insurreição do movimento "Boko Haram" seja
filha dos interesses de alguns políticos do norte do país, culpados de terem armados
alguns jovens rebeldes. No entanto, destaca o prelado, não se trata de simples criminosos,
mas de criminosos treinados, capazes de abalar e desmoralizar até mesmo o exército
nigeriano. O bispo destaca que o grupo armado não tem apenas como alvo os cristãos,
suas igrejas e suas instituições, que "sofrem sérios prejuízos", mas as estruturas
governamentais e inteiros vilarejos que foram destruídos e eliminados. E é isso a
tornar claro os diferentes interesses internos de "Boko Haram" que variam da política,
à religião, à economia, tornando-se "extremamente difícil, se não impossível de entender".
O
prelado se detém, portanto, no caso dramático das 300 jovens nigerianas sequestradas
em Chibok mais de cem dias atrás: representam, explica ele, "um trágico ícone da ilegalidade
e da insegurança" que vige, no norte do país. Neste contexto, é importante superar
a convicção, difusa entre a população, que a própria religião seja um problema e causa
de conflito; isso será possível, enfatizando o bem que a religião e os religiosos
têm feito e continuam a fazer na vida cotidiana das pessoas, na resolução de conflitos,
no desenvolvimento e na construção da nação. Por isso, o bispo evidencia como a tragédia
do conflito fortaleceu a solidariedade e as atividades caritativas da Igreja Católica
na Nigéria em levar ajuda às famílias e aos jovens.
“As sangrentas atividades
de Boko Haram são estranhas a alguns líderes muçulmanos como são para mim”, disse
ainda Dom Badejo, contando o seu testemunho pessoal na Diocese de Oyo, onde os católicos
e muçulmanos vivem juntos. “Somos somente 45 mil católicos em um total de um milhão
de muçulmanos – sublinha o prelado -, e com eles, felizmente, temos uma convivência
cordial”. O bispo termina a sua análise com uma crítica à comunidade internacional,
definida, “hipócrita” nas suas tentativas de resolver a questão e faz, enfim, uma
pergunta: "Será que é realmente impossível de rastrear a fonte dos financiamentos
de Boko Haram e de outras guerras na África, em um mundo tão eficiente? ". (SP)