Conheça os yazidis, minoria cercada em montanha por rebeldes no Iraque
Cidade do Vaticano (RV) - Enquanto o grupo sunita autodenominado Estado Islâmico
continua avançando em várias cidades iraquianas, incluindo Mosul, e já controla grandes
áreas do Iraque e Síria, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, autorizou
ataques aéreos contra os militantes islâmicos no norte do Iraque.
Agora, os
jihadistas marcham em direção à capital, Bagdá, ao sul, e no noroeste, cerca de 50
mil pessoas, membros da minoria yazidi, fugiram de suas casas e estão cercados nas
montanhas de Sinjar, isolados, sem comida nem água.
Segundo o governo estadunidense,
os aviões do país lançaram suprimentos para ajudá-los, mas, segundo a ONU, é preciso
fazer mais; seria necessário estabelecer um corredor para a entrega de ajuda humanitária.
Quem são estas pessoas? Segundo a estudiosa Diana Darke, entrevistada pela
BBC, “devido à sua crença diferente, os yazidis são rotulados, injustamente, como
'adoradores dos diabo' e, tradicionalmente, se mantêm distantes, fechados em pequenas
comunidades espalhadas no noroeste do Iraque, noroeste da Síria e sudeste da Turquia.
Calcular
o número de membros desta minoria é difícil, os números variam entre 70 mil e 500
mil. Temidos, difamados e perseguidos, a população diminuiu consideravelmente no último
século. Como outras minorias religiosas da região, como os druzos e alauítas, não
é possível se converter ao yazidismo, apenas nascer já no grupo.
A atual perseguição
a esta minoria em sua região mais central, na região do Monte Sinjar, a oeste da cidade
de Mosul, está baseada em um mal entendido com a procedência do nome deles. Izidis
significa apenas "adoradores de deus", que é como os yazidis se descrevem. Eles
reverenciam a Bíblia e o Alcorão, mas grande parte de sua tradição é oral. Em parte
devido ao segredo que cerca este grupo, ocorreram algumas confusões, entre elas de
que a complexa fé yazidi é ligada ao zoroastrismo, com uma dualidade entre a luz e
as sombras e até uma adoração ao sol. Mas, estudos recentes mostraram que, apesar
de seus templos serem frequentemente decorados com o sol e seus túmulos apontarem
para o leste, o local do nascimento do sol, eles compartilham muitos elementos com
o cristianismo e islamismo.
As crianças são batizadas com água consagrada por
um pir (padre). Em cerimônias de casamento, ele parte o pão e entrega uma metade para
a noiva e a outra para o noivo. A noiva, vestida de vermelho visita igrejas cristãs.
Em
dezembro, os yazidis jejuam por três dias, antes de beber vinho com o pir. Entre 15
e 20 de setembro, há uma peregrinação anual até a tumba do Sheikh Adi at Lalesh, ao
norte de Mosul, onde eles fazem ritos no rio local. Eles também praticam o sacrifício
de animais e circuncisão. O ser supremo dos yazidis é conhecido como Yasdan, considerado
de um nível tão elevado que não pode nem ser adorado diretamente. Ele é considerado
uma força passiva, o Criador do mundo, não aquele que preserva.
Sete grandes
espíritos emanam dele e, destes, o mais importante é o Anjo Pavão, conhecido como
Malak Taus, um executor ativo da vontade divina. O pavão, no início do cristianismo,
era um símbolo de imortalidade, pois sua carne parece não se decompor. Malak Taus
é considerado o alter ego de Deus, inseparável e, devido a isto, o yazidismo é considerado
uma religião monoteísta.
Os yazidis rezam para Malak Taus cinco vezes por dia.
O outro nome de Malak Taus é Shaytan, que é a palavra árabe para diabo, e isto levou
ao mal entendido dos yazidis serem rotulados como "adoradores do diabo".
Os
yazidis também acreditam que as almas passam sucessivamente por vários corpos (transmigração)
e que a purificação gradual é possível devido ao renascimento contínuo, o que faz
com que o inferno seja desnecessário.
O pior destino possível para um yazidi
é ser expulso de sua comunidade, pois isso significa que sua alma jamais poderá progredir.
(CM-BBC)