Urgente acudir às pessoas expulsas de suas casas no Iraque: arcebispo Tomasi, Observador
da Santa Sé na ONU, em Genebra
Sobre a situação
de milhares de civis expulsos das suas cidades pelos milicianos jihadistas, o colega
italiano, Sergio Centofanti entrevistou o arcebispo D. Silvano Maria Tomasi, Observador
Permanente da Santa Sé, na sede de Genebra, das Nações Unidas.
É
evidente que existe a urgência de defender, mesmo fisicamente, os cristãos do norte
do Iraque, providenciar à ajuda humanitária – água, alimentos – porque as crianças
estão a morrer, os idosos estão a morrer, por falta de ajudas alimentares. Há que
intervir agora, antes que seja demasiado tarde. Uma intervenção humanitária é exigida
pela realidade destas dezenas e dezenas de milhares de cristãos e de outras minorias
na Planície de Nínive, que tiveram de escapar sem levar nada consigo… apenas a roupa
que vestiam. Precisam de ser ajudados com toda a urgência. A ação
militar é porventura necessária neste momento, mas parece-me também urgente fazer
com que venham à luz aqueles que fornecem aos fundamentalistas armas e dinheiro, os
países que os apoiam taticamente, e que ponham de lado este tipo de apoio, que ao
fim e ao cabo não faz bem nem aos cristãos nem aos muçulmanos.
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Uma situação dramática…
Trata-se de uma nova tragédia no Médio Oriente,
onde são violados os direitos humanos fundamentais de tantíssimas pessoas e de inteiras
comunidades. Encontramo-nos perante uma situação verdadeiramente complicada: por um
lado, temos estes fundamentalistas jihadistas, que em nome de um Califado que querem
elevar estão a destruir e a matar sem misericórdia; por outro lado, há uma certa indiferença
da parte do mundo ocidental. De facto, quando se trata de cristãos, há um falso pudor
que impede que se fale disso e que se defendam os seus direitos. Portanto, é um momento
em que deve emergir com clareza a voz da consciência.
- Em todo
o caso, agora algo se está movendo…
A comunidade internacional começa
a fazer qualquer coisa. Vimos o Secretário Geral das Nações Unidas falar do inaceitável
crime cometido contra os cristãos, pela primeira vez mencionando expressamente a
palavra. Depois, também o Conselho de Segurança abordou a questão das minorias no
Médio Oriente, em particular dos cristãos e de outros grupos que se encontram em maior
risco. Diria portanto que isto parece ser o início de uma mudança de atitude, em que
se referem explicitamente os cristãos, que se encontram expostos a uma violação radical
dos seus direitos, no contexto da complexidade política e militar que vemos no Médio
Oriente. A novidade parece-me estar no facto de que alguns muçulmanos,
por exemplo o Secretário Geral da Organização para a Cooperação Islâmica, exprimiram-se
em termos bastante fortes para condenar esta perseguição de cristãos inocentes e para
defender o seu direito, não só a não serem mortos e a serem respeitados no seu próprio
ambiente, mas também a viver na própria casa, como todos os outros cidadãos do Iraque
(por exemplo) ou da Síria. Um Médio Oriente sem cristãos seria um empobrecimento,
não só porque a Igreja estaria ausente, mas também para o próprio Islão, ao qual viria
a faltar o estímulo à democracia e a um sentido de diálogo com o resto do mundo.