Card. Pell: "Igreja pobre não significa caixa vazio"
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco quer “uma Igreja pobre para os pobres”,
mas isto “não significa necessariamente uma Igreja com o caixa vazio”, “e certamente
não significa uma Igreja descuidada, ou ineficiente ou disponível para ser roubada”.
Foi o que afirmou ao ‘Catholic News Service’ o Prefeito da Secretaria da Economia,
Cardeal George Pell, ao falar sobre a gestão das finanças vaticanas com a reforma
desejada pelo Papa Bergoglio.
“Eu diria que estamos procurando implementar
o que há de melhor à disposição em práticas de gestão. Existem normas internacionais
para a contabilidade e para a gestão do dinheiro. Aqui não é como se não houvesse
nada, obviamente. A Santa Sé tem pontos de força financeiros muito significativos.
Mas todos os sistemas e procedimentos apropriados, prudenciais, que são aceitáveis
em todo o mundo, os estamos introduzindo aqui”, afirmou.
O Prefeito para a
Economia cita como exemplo as auditorias periódicas. “Antes do fim do ano – anuncia
– esperamos nomear um revisor que será completamente independente e ao qual cada um
poderá fazer recurso. Estamos esclarecendo ainda mais, aquilo que defendo chamar-se
“o princípio dos quatro olhos”, de modo que cada pedaço significativo de atividade
não possa ser conduzido somente por uma pessoa. Agilizaremos e melhoraremos os procedimentos
de balanço, esperamos restituir, dentro dos parâmetros financeiros, uma quantidade
de autoridades às diversas congregações e conselhos. Nada disto é “ciência missilística”,
mas somos bem conscientes de que quando as pessoas doam à Igreja, esperam que o dinheiro
seja utilizado com sabedoria, com bons objetivos. Frequentemente as organizações crescem
e o tipo de sistemas que eram adaptados no passado poderiam não mais sê-lo no futuro”.
O
Cardeal Pell explicou ao ‘Catholic News Service’ que o seu papel é o de “responder
diretamente ao Santo Padre”, “mas o Conselho é o órgão de decisões”. “Eu não posso
tomar iniciativas que eles não tenham proposto ou não tenham validado, sublinha. É
um pouco como um ‘senado universitário’, quando o Diretor Geral da Universidade deve
convencer o senado, e este é perfeitamente capaz de dar uma direção explícita ao Diretor
Geral. E ainda uma vez, este é outro exemplo da separação dos poderes, da pulverização
da autoridade, de forma que seria totalmente impossível para uma só pessoa, e aqui
me incluo, de ter um tipo de controle ditatorial”.
Às perguntas se a reforma
em andamento responde à ênfase evangélica da “Igreja pobre para os pobres” e se a
Igreja tem necessidade de colocar em ordem a casa para ser crível ao pedir caridade
e justiça social, o Cardeal Pell respondeu que “todas estas coisas existem”. “Como
me disse um líder protestante nos Estados Unidos – observou - ele rezava por nós para
que fôssemos um modelo e um bom exemplo e não a causa de escândalos ocasionais. E
eu estou de acordo com isto. Me se vamos ajudar os pobres temos necessidade de ter
os meios, e quanto melhor administrarmos as nossas finanças, mais boas obras poderemos
fazer. Recordo o comentário de Margaret Thatcher – disse ele - de que o Bom Samaritano,
se não tivesse sido um pouco um capitalista – pois tinha o seu negócio de dinheiro
– não teria podido ajudar. Podemos fazer mais, se geramos mais”.
Na sua longa
entrevista à Agência dos Bispos estadunidenses, o Cardeal Pell afirma desejar um Vaticano
“mais enxuto”, com menos pessoal”: “certamente uma ambição que se persegue, mas não
fácil de se conseguir”. Ele anuncia a possibilidade de redução de pessoal por meio
de aposentadorias antecipadas, mas também a busca de qualificação e remanejamentos.
“Por exemplo – explicou ele – temos um grande número de pessoas em muitos locais diferentes
que trabalham sob o título de ‘recursos humanos’. Temos uma quantidade de pessoas
em diversos grupos que trabalham em ‘estratégias de investimento’. São as duas áreas
imediatas as quais, lentamente, e no decorrer de um longo período, haverá redução
de pessoal”.
“Existirão novos setores, novas áreas – anuncia ainda o Cardeal
–, alguns chefes virão de fora, mas sobretudo, a longo prazo – movendo-nos de modo
muito mais sensível e com consultas - a idéia é de que teremos menos pessoal, antes
do que mais”.
O Prefeito da Secretaria para a Economia ressaltou que o Papa
Francisco não quer demissões e “nem nós queremos trabalhar assim. É possível – é possível,
não decidido – que haverá um possível atrito, como existe em qualquer organização
– e poderemos oferecer pacotes de pré-aposentadoria para aqueles que quiserem recorrer
a isto. Mas, não, não existirá nenhum grande expurgo”. (JE)