Arcebispo de Bangui: risco que a República Centro-Africana se torne um Ruanda
A situação na República Centro-Africana "é precária. Bangui está vivendo um período
de trégua e quase cessaram os tiros. Ainda há bandidos que roubam. As forças da EUFOR
(União Europeia) têm realizado um trabalho apreciado pela população. A vida está a
retomar com as atividades e o tráfego nas estradas. O interior do país está nas mãos
de grupos armados que às vezes controlam uma cidade inteira" – assim o arcebispo
de Bangui e Presidente da Conferência episcopal centro-africana D. Dieudonné Nzapalainga
apresenta a situação do País numa entrevista com o Sir. Nos últimos dias, segundo
uma fonte da ANSA, pelo menos 22 pessoas, na sua maioria civis, foram mortas em violentos
confrontos entre milícias anti Balaka e ex-rebeldes Seleka em Batangafo (300 km ao
norte de Bangui). O prelado adverte contra o perigo de a situação se deteriorar ainda
mais: "O risco de que a República Centro-Africana se torne um Ruanda - diz ele -
é real e estamos a tentar conscientizar aos beligerantes para evitar esta tragédia
ao nosso povo. Estamos sentados por cima da brasa e algumas pessoas, movidas pelos
seus interesses, jogam alimentando o fogo. Se alguém toma posições extremistas, podemos
facilmente afundar na barbárie”. Neste período de violências "a Igreja – continua
D. Nzapalainga - permaneceu como mãe e acolheu os deslocados. Três quartos dos locais
de acolhimento são lugares da Igreja: conventos, presbitérios, paróquias, seminários.
A Igreja tem protegido, nutrido e defendido os pobres. Actualmente sensibilizamos
os cristãos para a não-violência, o perdão, a tolerância, a reconciliação e, sobretudo,
o respeito pela vida". "Nós pregamos o desarmamento das mentes e dos corações para
uma nova República Centro-Africana, onde podemos viver juntos na diversidade", sublinha
o Bispo, recordando que "o inimigo tem nomes precisos: orgulho, ódio, vingança, ressentimento,
violência", enquanto que "a Igreja convida os seus filhos à conversão”. A propósito
da condição dos refugiados hospedados nas paróquias e estruturas religiosas, o bispo
não esconde as dificuldades. "Os refugiados têm muitas dificuldades para conseguir
comida para o seu sustento e falta-lhes o necessário para viver. A Caritas não tem
os meios para apoiar estes grupos por causa do seu limitado orçamento. As pessoas
precisam de assistência para reconstruir as suas casas, ter uma refeição diária, roupas,
medicamentos para o tratamento". O apelo, por fim, é "para depor as armas e sentar-se,
discutir e buscar soluções em conjunto. O rancor e a violência destruíram o nosso
país, as nossas relações. É nossa responsabilidade reconstruir novas relações e as
cidades”.