2014-08-02 14:40:41

Editorial: Receita de felicidade


Cidade do Vaticano (RV) - RealAudioMP3 Quando abrimos os jornais, as revistas, ou quando nos introduzimos nas redes sociais, nos deparamos muitas vezes com “receitas” para se chegar à felicidade, para ser feliz. Quem não quer ser feliz? O homem nasce para ser feliz. Passamos a vida toda em busca da felicidade. Mas a pergunta que brota dessa afirmação é o que é a felicidade? Que tipo de felicidade procuramos? Se formos ao dicionário encontramos entre outras coisas: qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, sucesso. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior. Existem diferentes abordagens ao estudo da felicidade - pela filosofia, pelas religiões ou pela psicologia. Filósofos e religiosos sempre se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena. A felicidade é o que os antigos gregos chamavam de “eudaimonia”, um termo ainda usado em ética. Para as emoções associadas à felicidade, os filósofos preferem utilizar a palavra prazer.
Cada um procura a sua receita à medida; alguns através do esforço pessoal tentando interpretar ao seu modo o que seja a felicidade; outros esperando que algo aconteça na vida e que a sua vida melhore; para alguns melhorar de vida, seja econômica, seja social, é ter felicidade, é ser feliz. Cada um busca a sua receita, para usá-la da melhor forma possível.
Nos dias passados, numa entrevista ao jornal argentino “Clarín”, que realizou um caderno especial sobre os primeiros 500 dias do Pontificado de Francisco, o Pontífice falou sobre a felicidade. Não deu receitas prontas para se chegar a ela – pois alguém poderia dizer que ser feliz é algo subjetivo – mas indicou caminhos, deu conselhos, abriu portas que nos podem levar a encontrar o verdadeiro sentido de felicidade, de ser feliz.
Certamente o Papa não falou isso para preencher lacunas de “receitas da felicidade”, mas falou de algo que todos nós, podemos ter e viver. E começa precisamente sobre o sentido de viver.
"Viver e deixar viver, é o primeiro passo para a felicidade", disse o Papa. Como parte do decálogo para a felicidade recomendou ajudar os outros, pois se "um fica estagnado, corre o risco de ser egoísta" e como todos nós sabemos "a água estagnada é a primeira que se corrompe". Francisco aconselhou a mover-se "remansado", ou seja com tranquilida, uma expressão que utilizou de um clássico da literatura argentina.
“Em 'Don Segundo Sombra' - disse Bergoglio - há uma coisa muito linda, de alguém que relê a sua vida. Diz que quando jovem era uma corrente rochosa que levava tudo à frente; como adulto era um rio que andava para frente e que na velhice se sentia em movimento, mas remansado. Francisco utiliza esta imagem do poeta e novelista Ricardo Guiraldes.
Outra das chaves que Francisco nos oferece nesta ideal busca da felicidade, do ser feliz, está na “sã cultura do ócio”; a doce arte do fazer nada como dizem muitos. Mas o ócio a que se refere Francisco é a oportunidade para desfrutar de outros momentos, como uma boa leitura, dar espaço à introspecção; dar espaço à arte e por que não a brincadeiras com as crianças. Sim porque brincar com as crianças é uma chave para uma cultura sã. Nos dias de hoje é difícil para um pai e uma mãe de família quando voltam para casa, depois de um dia interminável de fadiga no trabalho, encontrar energias e forças para gastar com os filhos e brincar com eles: muitas vezes quando chegam a casa os filhos já estão dormindo. Quantos momentos felizes se perdem assim.
Na mesma linha Francisco aconselhou que os domingos devem ser partilhados e vividos em família. “O domingo é para a família”, disse. Sobre esse ponto sabemos que na sociedade que vivemos está cada vez mais difícil dar espaço para o domingo em família. Certamente as opções do domingo fora de casa, com os amigos, com a partida de futebol, com a praia, muitas vezes são mais convidativas do que passar algumas horas com as crianças e familiares. São escolhas que com o passar dos anos nos arrependemos de termos feito.
Sobre os jovens, o Papa afirmou que é preciso arranjar uma forma criativa para que eles consigam um trabalho digno. O trabalho para a juventude de hoje está se tornando um tabu; uma dificuldade que envolve um exército sem rumo, sem muitas escolhas, sem perspectivas. Se faltam oportunidades, um dos caminhos é a droga. É preciso dar a eles a dignidade de um trabalho e a possibilidade de levar o pão para casa, de construir um futuro.
Um conselho ainda do Papa no que diz respeito ao cuidado da natureza; ela merece toda a nossa atenção.
Um aspecto que o Papa frequentemente tem destacado e que também nesta semana chamou a atenção é o que diz respeito à vida em comum das pessoas, ao cotidiano: a fofoca. “A necessidade de falar mal do outro indica uma baixa auto-estima – disse o Papa, é dizer: sinto-me tão em baixo que em vez de subir rebaixo o outro. Esquecer rápido do negativo é são”, afirmou. Gastamos muito tempo falando dos outros e não olhamos para o nosso nariz, para o nosso comportamento.
Outro conselho foi buscar ativamente a paz. "Estamos vivendo uma época de muita guerra. Na África surgem guerras tribais, mas são algo mais. A guerra destrói. E o clamor pela paz é preciso ser gritado. A paz, às vezes, dá a ideia de quietude, mas nunca é quietude, é sempre uma paz ativa".
Sem entrar nas várias análises que temos sobre o que é a felicidade podemos percebê-la que ela é formada por emoções e sentimentos, que podem ser derivados de um motivo específico, de um sonho realizado, de um desejo atendido.
O psiquiatra Sigmund Freud defendia que todo ser humano é movido pela busca da felicidade, através do que ele denominou princípio do prazer. Porém essa busca seria fadada ao fracasso, devido à impossibilidade de o mundo real satisfazer a todos os nossos desejos. Para nós cristãos, e essa é a mensagem do Papa Francisco, a verdadeira felicidade está em seguir Jesus Cristo, viver o seu amor. A verdadeira felicidade é desfrutar da plenitude do amor de Cristo: caminho, verdade e vida. (Silvonei José)








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