Encontro dos Bispos Lusófonos em Luanda, Comunicado Final
De 21 a 27
de Julho estiveram reunidos em Luanda, Angola, no XI Encontro de Bispos dos Países
Lusófonos, que teve como objetivo fortalecer a comunhão eclesial e a recíproca complementaridade,
promover a cooperação em prol das comunidades e a fidelidade à identidade católica
lusófona e criar espaço para aprofundar o conhecimento mútuo entre as Igrejas católicas
dos países lusófonos: - de Angola, D. Gabriel Mbilingi, Arcebispo de Lubango
e Presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST), e D. Emílio Sumbelelo,
Bispo do Uíge e Secretário da CEAST; - do Brasil, Cardeal Raymundo Damasceno
Assis, Arcebispo de Aparecida e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), e D. Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário da CNBB; -
de Cabo Verde, D. Arlindo Gomes Furtado, Bispo de Santiago; - da Guiné Bissau,
D. Pedro Carlos Zilli, Bispo de Bafatá, e D. José Lampra Cá, Bispo Auxiliar de Bissau; -
de Moçambique, D. Francisco Chimoio, Arcebispo de Maputo e Vice-Presidente da Conferência
Episcopal de Moçambique (CEM); - de Portugal, D. Manuel Clemente, Patriarca
de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), P. Manuel Barbosa,
Secretário da CEP; - de S. Tomé e Príncipe, D. Manuel António dos Santos,
Bispo de S. Tomé e Príncipe; - de Timor Leste, D. Norberto do Amaral, Bispo
de Maliana e Secretário da Conferência Episcopal de Timor Leste (CETL). Participou
também o Dr. Jorge Líbano Monteiro, Presidente da Fundação Fé e Cooperação (FEC). 2.
Os trabalhos tiveram início com as palavras de abertura do Presidente da CEAST,
o Arcebispo D. Gabriel Mbilingi. Salientou a relevância deste Encontro como importante
espaço para estreitar a unidade, a comunhão e a colaboração pastoral entre as Igrejas
lusófonas. Situou-o entre o entusiasmo do Ano da Fé e a preparação do próximo Sínodo
dos Bispos sobre a família, destacando os desafios da exortação apostólica «A Alegria
do Evangelho», sobretudo no sentido de uma Igreja missionária, aberta e próxima das
pessoas. Terminou salientando três grandes sinais dos tempos que aconteceram depois
do último encontro de 2012 em Timor: a renúncia de Bento XVI, a eleição do Papa Francisco
e a canonização de João XXIII e João Paulo II. 3. «O papel transformador do
Evangelho na sociedade de hoje, à luz da Evangelii gaudium» foi
o tema que nos congregou num seminário que decorreu na Universidade Católica de Angola
(UCAN), aberto ao mundo académico e político, aos leigos, ao clero e aos membros dos
institutos religiosos. Foi um tempo muito precioso de reflexão e debate à volta de
três tópicos principais sobre o papel da Igreja junto do mundo dos pobres, do mundo
da economia e do mundo da política. Depois das palavras de abertura a cargo do
Núncio Apostólico em Angola e do Presidente da CEAST, participámos, juntamente com
especialistas leigos, em três painéis alusivos a essas temáticas. Propomos aqui apenas
algumas interpelações sobre as várias abordagens para as Igrejas locais que servimos: -
continuar a fazer uma análise rigorosa e competente sobre as situações concretas em
que a Igreja está profeticamente presente, irradiando com mais eficácia a luz transformadora
do Evangelho de Cristo; - cuidar da evangelização na sua ligação profunda
com a promoção humana; - atender às situações de pobrezas, dando resposta
a partir do estudo das suas causas e soluções, em diálogo constante com a sociedade
e o Estado; - encorajar a presença e ação dos leigos nas várias áreas de
intervenção na sociedade, nomeadamente nos campos social, económico e político; -
retomar continuamente, com implicações concretas na vida e na organização da sociedade,
o ideário dos quatro grandes princípios da doutrina social da Igreja: dignidade da
pessoa humana, bem comum, subsidiariedade e solidariedade; - incentivar
a dimensão ética na economia e na gestão, capaz de transformar por dentro uma economia
que muitas vezes provoca a exclusão e o sofrimento dos mais fracos; - promover
organismos profissionais que se inspirem na doutrina social da Igreja, como, por exemplo,
a Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE, Portugal) e a Associação Católica
de Gestores e Dirigentes (ACGD, Angola); - procurar que a busca de soluções
nos vários campos de presença na sociedade seja feita em cooperação com outras Igrejas
Cristãs e outras Religiões, daí a importância do diálogo ecuménico e inter-religioso
em vista de iniciativas comuns. 4. Na partilha sobre a realidade, os desafios,
as urgências e as soluções que a Igreja enfrenta nos nossos diversos países, foram
sublinhados alguns aspetos na procura de pontos comuns de ação: - o cuidado
da Igreja em continuar em estado permanente de missão; - a atenção à iniciação
cristã como itinerário principal da fé e a construção de autênticas comunidades cristãs
de acolhimento; - a valorização e a divulgação da Bíblia em todos os setores
das nossas Igrejas particulares; - o cuidado pastoral da família e de todas
as problemáticas que a envolvem; - a atenção orante e pastoral às vocações
ao sacerdócio e de especial consagração; - a prática da caridade, como resposta
social e caritativa da Igreja a todas as situações de carências e pobrezas; -
a aposta na formação e educação em todas as fases etárias e em todos os campos onde
a Igreja deve estar presente; - a atenção muito especial à presença da Igreja
nas universidades, cuidando de uma pastoral universitária mais articulada e em rede; -
a abertura da Igreja a todas as problemáticas da vida digna e plena para todos e em
todas as fases da vida; - a defesa da paz e da justiça, da igualdade e da
liberdade nos vários setores da vida da sociedade. 5. Tivemos ocasião de participar
na celebração da Eucaristia nas comunidades paroquiais de São Paulo e da Sagrada
Família, em Luanda, em comunhão com os cristãos e pastores da mesma Igreja de
Cristo. Ficámos sensibilizados com o entusiasmo, a alegria e a participação de tão
grande número de fiéis nestas celebrações. 6. Fomos recebidos pela Presidência
da República de Angola, na pessoa do Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil,
em clima de cortesia e cordialidade. Agradeceu a nossa presença e o trabalho da Igreja
em Angola, manifestando o acompanhamento e o conhecimento que o Governo de Angola
tem da realidade da Igreja neste país e nos outros países lusófonos. Tivemos também
a oportunidade de apresentar a realidade de cada Igreja lusófona, salientando o desejo
de que se fomente e concretize a cooperação em diversos campos de ação. 7. Na avaliação
dos 11 encontros desde 1996, achamos que os Encontros de Bispos dos Países Lusófonos
são úteis e se devem continuar a realizar, como ocasião muito oportuna para conhecimento,
aproximação e cooperação entre as Igrejas lusófonas. Nesse sentido, aprovámos um regulamento
interno em vista de uma melhor organização destes encontros e da sua concretização
junto das várias Igrejas lusófonas. 8. O XII Encontro de Bispos dos Países Lusófonos
vai decorrer em Aparecida, Brasil, de 23 a 28 de julho de 2016. 9. Os últimos dias
do nosso Encontro decorreram em Benguela, onde participámos com grande alegria no
jubileu de 50 anos de sacerdócio de D. Óscar Braga, que foi Bispo de Benguela
de 1975 a 2008, aí fomentando as essenciais dimensões eucarística, mariana e missionária.
Nesta diocese e em quase todo o país angolano, criou e promoveu relevantes projetos
pastorais junto das crianças e dos jovens, dos casais e das famílias, das mulheres
e dos idosos, e cuidou de modo especial e com todo o carinho das vocações sacerdotais,
religiosas e laicais. Invocamos as maiores bênçãos de Deus para D. Óscar, em comunhão
de ação de graças pela sua vida de Pastor tão dedicado ao povo e à Igreja em Benguela
e em Angola. 10. No encerramento dos nossos trabalhos, queremos exprimir a nossa
profunda gratidão, na pessoa de D. Gabriel Mbilingi, Presidente da CEAST, pelo
acolhimento tão amistoso e fraterno que a Igreja de Angola teve para connosco. Proclamado
em Benguela a 27 de julho de 2014