Ir. Mary Melone, a primeira mulher à frente de uma universidade pontifícia
Roma (RV) – A presença das mulheres no mundo da teologia começou discretamente
há alguns decênios, após o Concílio Vaticano II. Este processo amadureceu com a nomeação,
nos dias passados, da primeira mulher à frente de uma Pontifícia Universidade romana.
Como Reitora do Antonianum foi designada a religiosa franciscana Ir. Mary Melone,
especialista em Santo Antônio de Pádua. Entrevistada pela Rádio Vaticano, a religiosa
reflete sobre as mudanças em andamento na comunidade acadêmica, habituada à presença
masculina no que tange à teologia:
Ir. Mary: “O fato de que tenha
acontecido é um sinal de que existem mudanças. Gostaria de sublinhar dois aspectos
relativos a esta nomeação. O primeiro aspecto é que se realizou com critérios acadêmicos:
a comunidade se expressa sobre as atitudes e competências dos professores que julga
aptos a um cargo. O segundo aspecto é que esta primeira vez de uma mulher, de uma
irmã, à frente de uma universidade pontifícia está ligada ao fato de que a nossa presença
como professoras é relativamente recente: as mulheres tiveram acesso à teologia e
portanto ao doutorado, somente após o Concílio. Inserem-se no ensinamento ao longo
dos anos, que não são muitos, pós-conciliares. Os dinamismos das universidades permitem
de se ter acesso a estes cargos somente aos professores estáveis, os ordinários e
os titulares de cátedras, e nem sempre as religiosas ou as mulheres podem ter acesso
a este tipo de carreira universitária”.
RV: Desde que a senhora
passou a acompanhar o evoluir desta situação na universidade, foi possível perceber
nos últimos anos uma maior acolhida em relação às estudantes mulheres?
Ir.
Mary: “Posso dizer que existe uma dupla mudança. No nosso mundo feminino, mesmo
religioso, as perspectivas de uma inserção profissional é um pouco diferente, porque
os institutos femininos, as mulheres, não têm universidades de Ordens, de Congregações.
Porém, nos últimos anos, existe uma sensibilidade maior no mundo feminino para dedicar-se
ao estudo da teologia. E existe também uma maior atenção por parte das instituições
em consentir também às religiosas de ter acesso à carreira como professor estável.
Seguramente, é uma maior abertura, um reconhecimento do papel da mulher”.
RV:
O Papa Francisco defendeu em várias ocasiões querer aprofundar a teologia da mulher.
Na sua opinião, quais os campos mais promissores desta teologia?
Ir. Mary:
“Eu acredito que a mulher possa dedicar-se a qualquer âmbito da teologia com o
modo de fazer teologia que é próprio da mulher. Eu vivo em um ambiente caracterizado
por uma reflexão predominantemente masculina. Porém, posso dizer que quando a mulher
se aproxima, quando reflete sobre a Revelação, sobre o mistério de Deus, o faz com
a sua sensibilidade. Ou na moral, que é um campo muito delicado, em que a mulher também
leva a sensibilidade da feminilidade, dos problemas relacionados a isto: imagino toda
a moral antropológica, toda a problemática da vida, do respeito pela vida antes do
nascimento...Mas também em outros âmbitos, como aquele ao qual me dedico mais especificamente,
o dogmático, isto é, por exemplo, como compreender o mistério da Encarnação... Se
enriquece no momento em que a abordagem masculina é confrontada com aquela feminina”.
RV:
Mas isto é aceito pela teologia como tal?
Ir. Mary: “Existem alguns
teólogos que pensam que existe uma teologia feminina e quando acrescentam o adjetivo
“feminino” o fazem por entender que a teologia, em quanto tal, sem adjetivo, seja
“masculina”. É por isto que sou um pouco mais circunspecta sobre categorias, porque
penso que a teologia em quanto tal, sem adjetivos, seja a reflexão sobre o mistério
de Deus que se revela, e portanto, pode ser feita quer por um homem como por uma mulher.
Vejo que no âmbito da pesquisa contemporânea existe uma atenção gradual em relação
à contribuição das mulheres, em relação aos ensaios que muitas teólogas publicam,
que são sempre mais citados. A citação destas teses é um sinal mais imediatamente
tangível de que é reconhecida a contribuição também da reflexão feminina”. (JE)