Belo Horizonte (RV) - Não é recomendável alimentar ilusões diante do jogo pesado
que comanda o processo eleitoral. Entre outras perplexidades, sabe-se dos grupos,
inclusive religiosos (ou supostamente religiosos), que negociam interesses. A partir
de interesses nebulosos, alavancam candidaturas com o objetivo de constituir bancada
própria. Essa postura, assim como as habituais negociatas que ocorrem após as eleições,
com a distribuição de cargos segundo interesses partidários, incontestavelmente, está
na contramão da envergadura moral que os cidadãos merecem. Obviamente, são posturas
que prejudicam a governabilidade e comprometem a própria democracia. É hora de pensar
bem sobre a importância do nobre exercício do direito de votar. Também é preciso refletir
a respeito da presença dos cristãos na política.
Essa participação é autêntica
e balizada pela moralidade quando, efetivamente, busca a escolha de representantes
à altura dos postos de responsabilidade do Legislativo e Executivo. Não é submissa
às trocas de favores ou negociações. Quando uma experiência de fé é madura, tem força
para enfrentar a realidade e lutar por sua transformação. Nunca se coloca a serviço
de um propósito egoísta, reduzido ao território dos interesses de poucos. Lembra-nos
o Papa Francisco que “devemos envolver-nos na política, porque a política é uma das
formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum”. À luz dos valores do Evangelho
de Jesus e em diálogo com todos os segmentos da sociedade pluralista, o cristão precisa
participar das eleições deste ano. Não por interesse seu, nem mesmo por objetivos
específicos de determinado grupo ou instituição, mas orientado pela nobre tarefa de
ajudar a construir uma sociedade melhor.
É hora de pensar bem a respeito do
que precisa mudar. E não é pouca coisa. Os cenários políticos e a atuação de lideranças
não podem ser avaliados de modo ingênuo. Também é preciso refletir sobre benefícios
que não possuem caráter emancipatório para avançar o quanto se pode na economia, na
cultura, na educação e nos serviços que são direito do povo. Por isso mesmo, é hora
de “passar um pente fino” nos nomes daqueles que disputarão as eleições , mesmo diante
do atual jogo eleitoral, que precisa mudar a partir de uma profunda reforma política.
Os eleitores devem avaliar seriamente todos os candidatos. É importante votar em quem
pauta sua vida e suas ações nos valores cristãos, embora não seja a única condição
de adequada participação cidadã.
Os que submetem seus nomes ao sufrágio dos
votos devem determinantemente ter o gosto pelo diálogo. Não se pode governar adequadamente
quando não se tem competência e abertura para ouvir, condição indispensável para promover
as mudanças necessárias a partir da participação dos diversos setores da sociedade.
É hora de pensar bem na lista de candidatos. Apresentar-se como “salvador da pátria”,
adotar a tática dos ataques para afirmar-se pela destruição dos outros ou, simplesmente,
exaltar as próprias qualidades não podem constituir estratégia para fortalecer nomes.
A crise de liderança na sociedade brasileira, em diferentes âmbitos, políticos e institucionais,
não dispensa o despertar de uma grande rede de instituições, inclusive as religiosas,
para cultivar o exercício cidadão de votar e escolher bem.
Seguir no caminho
oposto inviabiliza a superação dos gargalos que prejudicam o crescimento e contribui
para o fortalecimento da política imoral, que permite apropriação das instâncias governamentais,
a perpetuação no poder. Consequentemente, compromete-se o contexto cultural e educativo.
Convive-se com os riscos de retrocessos políticos, principalmente quando são exaltados
modelos que não se ajustam à realidade brasileira, com sua história e conquistas.
É hora de pensar sobre quem tem condições de ser eleito, de representar o povo. A
partir do voto, é possível demonstrar a insatisfação com os políticos que exercerem
seus mandatos distanciados das necessidades da população, que fazem da política um
“balcão de negócios”. É hora de pensar bem!
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte