2014-07-22 18:46:31

Intelectual muçulmano sobre cristãos iraquianos: "eles têm mais direito de ficar do que nós"


Roma (RV) - “Ouso dizer que os cristãos iraquianos de Mosul têm mais direito do que nós à sua terra e às suas casas. Habitaram a cidade antes da chegada do Islã e das tribos árabes. Nós temos, por isto, o dever moral de tutelá-los e de protegê-los”. Palavras do escritor iraquiano Younis Tawfik, muçulmano sunita, nascido em Mosul e residente na Itália desde 1979.

“A expulsão dos cristãos e a desvastação de Mosul, a minha cidade – explica – são para mim uma ferida muito profunda”. “Eu cheguei aqui na Itália no final dos anos 70, justamente graças a um católico, o meu mestre Padre Yuosuf Habbi, estudioso da Divina Comédia, laureado na Universidade Católica, homem aberto ao diálogo entre Oriente e Ocidente”.

Tawfik não considera, infelizmente, como uma surpresa o avanço dos jihadistas do Estado Islâmico no Iraque. “É o resultado de um governo falido, marcado pela corrupção, que não conseguiu levar em frente o processo de democratização do país”. “Os cristãos iraquianos, no decorrer dos séculos, desempenharam um papel importante no crescimento do Iraque, sempre foram muito generosos, explicou ainda. Os maiores escritores, artistas, médicos, cientistas eram justamente cristãos. Homens que souberam valorizar a cultura árabe, tanto que os primeiros dicionários modernos de árabe e os primeiros estudos sobre esta cultura são obra dos cristãos do Oriente”.

“Também entre os meus familiares que ainda estão no Iraque existe muita solidariedade em relação aos cristãos perseguidos”, acrescentou Tawkik. “Infelizmente pouco podem fazer para ajudá-los. Os meus próprios parentes estão praticamente presos na sua cidades, tomada pelos homens do Estado Islâmico de Abu Bakr al-Baghdadi".

“Importante, porém, foi o pronunciamento oficial dos Ulemás, das autoridades do Islã de Mosul, que condenaram com veemência a ação do Estado Islâmico e a consideraram contrária aos princípios do Islã e à conduta do Profeta”, explicou o escritor sunita. “Não é mais época dos califados, não estamos mais no império otomano – acrescentou – hoje somos todos cidadãos de um país no qual os cristãos fazem parte e onde têm mais direito do que nós de permanecer”. “E depois, este califado, na realidade, é uma organização criminosa”, observou.

“Um amigo escritor, cristão iraquiano, me enviou uma mensagem via web para me contar o drama alucinante destas pessoas expulsas de suas casas, cujas portas foram marcadas com a letra “N”. Vi as imagens do bairro cristão de Mosul completamente vazio. É um fato inacreditável, nunca acontecido antes na época moderna e deve ser condenado. Não somente, como aconteceu, pelas autoridades do Islã de Mosul, mas por todos os muçulmanos a nível internacional e pelos governos árabes. E alguém deve fazer alguma coisa para colocar fim a este drama”. (JE)













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