Missas em Sta.Marta permitiram a “despapolatrização” – a opinião de José Carlos Carvalho,
biblista português
Esta semana
é mais uma das várias semanas deste verão em que as Missas em Santa Marta com o Papa
Francisco estão suspensas. Serão retomadas no dia 1 de setembro, segunda-feira. Neste
tempo, em que já vamos sentindo a falta deste momento de celebração eucarística, de
comunhão e comunicação com o Santo Padre, podemos formular algumas reflexões sobre
esta novidade do pontificado do Papa Francisco. Assim, pedimos a opinião do biblista
português, José Carlos Carvalho que considerou que as Missas em Santa Marta permitiram
a “despapolatrização”. Este professor da Universidade Católica Portuguesa considera
que o Papa nas suas homilias em Santa Marta conversa como “um pastor que vive no meio
do seu rebanho”. E isso ajuda a “desabsolutizar” e a “despapolatrizar” a figura papal,
apresentando uma nova maneira que só por si já “é uma graça”. Ouçamos as declarações
deste teólogo e biblista português, José Carlos Carvalho:
“ O Papa Francisco
não vai conseguir mudar tudo, mas se deixar um estilo, uma marca, uma nova maneira
de estar, só por isso já valeu a pena, já foi uma graça… O Papa fala num estilo muito
mais coloquial, parece que o Papa se tornou um pároco… Mas qual é para mim a grande
vantagem disso: é que falar assim em Santa Marta ajuda à despapolatrização dessa figura.
Porque havia, sobretudo com João Paulo II, um processo de papolatria e de endeusamento
que já lá vem desde o final do século XIX, evidentemente, com toda uma tradição monárquica,
feudal por trás. “E, por isso, Santa Marta ajuda a ver que estamos
diante de um pastor, que vive no meio do seu rebanho, não no seu trono lá em cima
e, só por isso, é uma marca que torna a vida da Igreja muito mais simples e que ajuda
a desabsolutizar. É a tal despapolatrização! “Porque o Papa foi,
de algum modo também uma figura idolatrada, não apenas pelos mass media mas inclusivé
dentro da própria Igreja. E Santa Marta vem ajudar a ver que esta figura afinal não
é desumana, nem sobre-humana, nem anti-humana, continua a ser humana. Aquilo que o
Papa chama muitas vezes: ‘nós somos normais’, não é!? E o Papa como pastor não tem
outra missão senão falar também para o seu rebanho no meio do seu rebanho. Não acima
do seu rebanho, como se não tivesse nada a ver com ele. E também a conversar que é
o que é a homilia… A homilia como diz a etimologia original no grego é uma conversa,
é um comentário. E nesse sentido eu penso que Santa Marta ajuda a desmistificar um
pouco a desconstruir um pouco uma imagem que foi criada, que dá muito jeito aos mass
media e à qual a própria Igreja se encostou durante séculos.” “Só
por criar uma nova imagem, um novo estilo, só por isso vale a pena!” (RS)