Cidade do Vaticano
(RV) - A demora na realização das promessas de Deus possibilita aos discípulos
e a nós, entrarmos em crise. Percebendo essa situação, Jesus conta para eles e para
nós, a parábola das sementes. A Palavra de Deus é, em si mesma, boa e, se bem apresentada,
produzirá muitos frutos; mas isso não depende só da Palavra; depende também das diversas
situações em que se encontra o terreno onde ela é depositada, isto é, das diversas
respostas. A Palavra é oferecida e exatamente por ser oferecida, conserva em si
todo o risco da negligência, do descaso, da não aceitação, da oposição. De acordo
com a parábola, ela poderá ser comida pelos pássaros, poderá cair entre as pedras
e não criar raízes e, finalmente, poderá cair entre os espinhos e morrer sufocada. Vamos
refletir sobre cada um desses alertas feitos por Jesus. O primeiro se refere à semente
que pode ser ciscada pelos pássaros. É o nosso medo do sofrimento, em relação ao caminho
da cruz, tantas vezes abordado por Jesus e a busca incessante de realizações, de êxito.
É como aquela pessoa que vê na possibilidade de exercer um serviço eclesial, como
uma ocasião de prestígio, de ter status. A semente que caiu entre as pedras e não
criou raízes, representa aqueles que só externamente aceitaram a Palavra. Ela não
foi aceita com profundidade. Teme-se que a adesão a Cristo seja ocasião de constrangimento,
de envergonhar-se. A que caiu entre os espinhos é a semente sufocada, imagem de
muitíssimos cristãos. As preocupações da vida presente, a atração exercida pelo ter,
pelo poder, pelo possuir, pelo ganhar se impõem, são obstáculos para o acolhimento
da Palavra. A Palavra não é ineficaz, mas falta o acolhimento. A Palavra se adapta
às condições do terreno, ou melhor, aceita as respostas que o terreno dá e que com
freqüência são negativas. É necessário preparar o terreno, os corações, para que
percam o endurecimento causado pelos ídolos das ideologias, do consumismo, do dinheiro,
do prazer, das demais riquezas. Se o terreno, se os corações forem trabalhados
pela simplicidade, pela autenticidade, pela educação libertadora daqueles ídolos,
a Palavra descerá qual chuva fina, penetrando a terra e fazendo a semente frutificar. (CAS)