O encontro com o Papa foi significativo para as vítimas de abusos – o comentário do
P. Hans Zollner
Um evento
comovedor e profundamente significativo: foi assim que o padre jesuíta Hans Zollner,
membro da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores, comentou o encontro do Papa
no Vaticano com seis vítimas de abuso por parte de membros do clero. O sacerdote alemão
participou como tradutor na conversa pessoal que o Papa Francisco manteve com as duas
vítimas provenientes da Alemanha. A reportagem é do nosso colega da redação alemã
Bernd Hagenkord.
“Posso dizer que foi realmente uma experiência muito
densa, rica, profunda, que me comoveu muito, pela sinceridade com que essas vítimas
se prepararam, pela grande audiência que o Santo Padre lhes deu, pelas palavras que
se trocaram e pela oportunidade de abrir a possibilidade de um início de reconciliação.”
Várias
são as vozes críticas que consideram que estes encontros com vítimas de abusos são
um mero ‘simbolismo’. O P. Zollner referiu-se também a esses comentários afirmando
que os encontros que o Santo Padre teve com vítimas de abusos sexuais por parte de
sacerdotes é um símbolo muito forte:
“Eu não interpretaria mal a palavra
“símbolo” ou “simbolismo”. Eu interpretaria mal a palavra “ativismo”. Mas o encontro
foi o oposto do ativismo, e foi um símbolo muito forte o facto de que o sucessor de
S. Pedro, ao lado da Basílica de S. Pedro, ouviu com o coração, os ouvidos e os olhos
muito abertos as pessoas que foram violentadas, as pessoas que sofreram tremendamente,
terrivelmente, nas mãos dos sacerdotes. E o facto de estar consciente, de estar presente
no seu sofrimento e na sua dor, certamente, não é apenas um símbolo. Posso testemunhar
que, para eles, algo mudou, foi, em certo sentido – se quisermos ser teológicos –
um sacramento: isto é, algo que, ao agir, também transformou a realidade, a sua realidade.
Porque alguns também expressaram que isso significou uma mudança de atitude e de sentimento
profundo em relação à sua história, que não pode ser erradicada, não pode ser cancelada,
mas que agora eles podem ver com outros olhos, com maior liberdade, com uma maior
esperança.”
Nesta entrevista o P. Hans Zollner referiu ainda quais
serão os próximos passos da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores:
“Acima
de tudo, falamos muito sobre outros possíveis membros da comissão, que ainda não está
completa, porque, desde o início, queríamos também ter uma representação significativa
de outros continentes. Gostaríamos também de participantes, possivelmente, da África,
da Ásia e da Oceania. Depois, devemos falar sobre a estrutura, do modo com que essa
comissão poderá atuar e a quem ela responde. Há questões muito concretas: por exemplo,
alguém que, no gabinete, organize esses encontros. O último ponto
de que falamos longamente foi sobre a composição dos grupos de trabalho – porque a
comissão, como tal, não se poderá reunir frequentemente, especialmente quando for
composta por 14, 15 membros provenientes de todo o mundo – que poderão desenvolver
o seu trabalho no âmbito da educação, da prevenção, pelas questões jurídicas ou pelas
questões concernes à formação dos sacerdotes. Deverão seguir em frente por conta própria
e, depois, farão debates, deverão apresentar relatórios sobre o seu trabalho à comissão,
e esta, provavelmente, irá relatar ao Papa. Assim, identificamos
muitíssimos temas. Agora, esperamos ainda esses novos membros, mas posso dizer que
alguns grupos de trabalho já estão a trabalhar. Começamos com coisas que, creio eu
que sendo de curto prazo, também poderão ser conhecidas e poderão ajudar a Igreja
– como disse o próprio Santo Padre – a implementar as melhores práticas que são conhecidas
no mundo.” (RS)