Dom Mario Toso: “É sempre maior o interesse pelo Magistério social do Papa Francisco”
O Pontifício Conselho da Justiça e Paz, em colaboração com a Secretaria de Estado,
promove na Casina Pio IV nesta sexta-feira e no sábado, um seminário internacional
sobre a proposta do Papa Francisco “por uma economia sempre mais inclusiva”, contida
na Evangelii Gaudium. Participam do Seminário, a portas fechadas, cerca de
setenta pessoas, expoentes de instituições internacionais, universidades e representantes
de grandes empresas e da sociedade civil. A Rádio Vaticano entrevistou o Secretário
do dicastério da Justiça e Paz, Dom Mario Toso:
Dom Mario Toso: “Antes
de tudo, a Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’ do Papa Francisco oferece perspectivas
muito estimulantes, que porém, devem ser aprofundadas e traduzidas em planificação
económica e política, pois surgiram interpretações distorcidas que chegaram mesmo
a acusar o Pontífice de marxismo. É necessário explicar que a proposta de uma ‘economia
sempre mais inclusiva’ não implica a renúncia à economia de mercado, mas sim a valorização
desta, dos seus aspectos positivos; é necessário explicar que ‘a economia que mata’
– à qual faz alusão o Papa Francisco - e infelizmente houve muitos empreendedores
e trabalhadores demitidos que se suicidaram – não é toda a economia, mas aquela que
idolatra o dinheiro, aquela que considera o trabalho uma variável dependente dos mecanismos
financeiros e monetários”.
RV: Quais foram os principais pontos
tratados no seu pronunciamento na abertura do seminário?
Dom Mario Toso:
“O primeiro ponto importante é formado pela consideração de que a globalização
desencadeou um processo de convergência dos rendimentos médios dos países mais pobres
para os países mais ricos, mas ao mesmo tempo, cresceu a desigualdade entre diversas
parcelas da população mundial. Os dois fenómenos são filhos da mesma revolução, ou
mesmo de um mercado que se globaliza aumentando a eficiência das lacunas da escolarização
e colocando em forte concorrência trabalhadores com baixa renda com os trabalhadores
com altos salários dos países com alto rendimento. Segundo ponto: se está vivendo
uma longa transição, prometedora, se bem que problemática e complexa, e que se espera
leve do “velho mundo” – segmentado nas fronteiras nacionais – a um “novo mundo” formado
por uma única família humana. Terceiro ponto: o problema económico do qual tradicionalmente
se ocupam os economistas, é somente uma das dimensões do problema actual. É necessário,
de facto, assegurar que a criação de valores económicos seja sustentável a nível ambiental.
Existe, portanto, além da dimensão económica, também uma dimensão ambiental; e que
não produza uma dramática crise financeira – portanto, existe uma dimensão financeira
– e que não exista um desalinhamento entre o Produto Interno Bruto e o bem-estar”.
RV:
Também participam no seminário representantes de instituições internacionais, académicas,
assim como de grandes empresas e da sociedade civil. Isto sublinha também um grande
interesse a nível geral pelas propostas enunciadas pelo Papa Francisco na Evangelii
Gaudium, mas também em outros pronunciamentos...
Dom Mario Toso:
“Devo dizer que em relação a esta iniciativa – que se desejou que fosse com uma
participação restrita e mesmo reservada, pois os conteúdos não estão todos definidos,
mas são passíveis de aperfeiçoamento e de integração -, houve uma grande adesão, ou
melhor, uma espécie de “pequeno assalto”. Muitos desejavam participar e estar presentes
neste evento ao qual participará, num determinado momento, o Sumo Pontífice. Isto
mostra o grande interesse pelo Magistério social do Papa Francisco, um interesse que
– entre outros – é solicitado também pelos grandes problemas que estão ‘sob o tapete’,
os quais exigem uma grande visão, mas também uma grande planificação a nível não somente
económico, mas também político. Sabemos que hoje a crise é devida também ao facto
que as finanças têm a hegemonia sobre a política e esta última tem dificuldade em
oferecer directrizes, políticas financeiras fiscais tais, que possam induzir a economia
a estar ao serviço do bem comum”.
RV: A voz do Papa é sempre mais
ouvida; o vemos em tantas dimensões. Também este simpósio confirma isto...
Dom
Mario Toso: “Sim, porque é uma voz que fala das necessidades das pessoas, dos
povos, da família humana, no diz respeito às questões económicas e no que diz respeito
à paz, o desenvolvimento sustentável... Todas estas questões são ligadas entre si,
são interdependentes. É necessário, portanto, ter a capacidade de uma visão que abranja
todos os problemas, os factores, as valências e, em correspondência, ser capaz de
oferecer uma nova planificação e preparar novas pessoas que sejam determinadas no
viver o próprio protagonismo económico, social, político, com grande responsabilidade
em relação ao bem comum e à justiça social”.