Jales (RV) - Nestes dias participei em Erexim, minha terra natal, da festa
de 50 anos de ordenação sacerdotal, do atual Bispo Emérito daquela Diocese, Dom
Girônimo Zanandrea.
A data me proporcionou recuperar a memória não só
da festa de sua ordenação, há cinqüenta anos atrás, mas de diversos outros episódios,
tanto mais pitorescos, quanto mais antigos.
Em especial, lembrei-me do dia
em partimos juntos, Dom Girônimo e eu, para o pré-seminário de Frederico Westphalen,
que naquele tempo ainda se chamava “Barril”.
Era em fevereiro de 1950. Portanto,
no ano em que iria se realizar a copa do mundo aqui no Brasil. Assim se misturou
a incômoda lembrança do “maracanaço”, com o fiasco da seleção brasileira na atual
copa do mundo, igualmente realizada no Brasil. Naquele fevereiro de 1950,
embarcamos no ônibus que iria nos levar, naquele dia, até Iraí, de onde, no dia
seguinte, prosseguiríamos viagem até Barril. Naquele tempo se demorava dois dias,
para fazer o trajeto que em condições normais hoje se faz em quatro horas, no novo
traçado das estradas.
Mas por coincidência, em vista dos estragos feitos nas
rodovias pelas enchentes que nestes dias atingiram o Estado do Rio Grande do Sul,
para chegar a Erexim precisei passar pela antiga rodovia que naquele tempo demandava
em direção a Irai, passando pela reserva indígena de Faxinalzinho, atravessando o
Rio Passo Fundo na sua foz no Rio Uruguai. .
Fazia décadas que não passava
mais por lá. Na verdade, o caminho, naquele tempo, fazia um ziguezague, indo primeiro
em direção norte, passando pelo porto de Goio-en, enveredando depois em direção sul,
passando por Nonoai, retomando em seguida a direção norte, até chegar a Irai, de
onde se retomava a direção sul, até chegar a Frederico.
Pois foi este ziguezague
das rodovias que me levou a uma experiência pitoresca, que me fez incidir num erro
geográfico, que levei muito tempo para desfazer.
Desde que embarquei no ônibus,
fiquei atento para ir me situando. Como referência básica, guardei bem na memória
que do lado direito do ônibus, onde estava sentado, era o lado onde o sol nascia,
como pude comprovar desde que embarquei.
Acontece que no segundo dia da viagem,
o tempo fechou e choveu o dia inteiro.. E não pude ver o sol. Mas tinha a certeza
que o nascente ficava à minha direita.
Aí morava o engano. Pois como, a partir
de Iraí, a estrada seguia em direção sul, eu continuei achando que o oriente estava
à minha direita. Ao passo que era, exatamente, o contrário. Assim foi que, ao chegar
ao local de destino, no seminário de Frederico, marquei bem os pontos cardeais, em
especial o lado do sol nascente.
Mas qual não foi minha surpresa, no dia seguinte,
ao constatar que o sol nascia do lado oposto. Fiquei impressionado. E tomei como referência
este fato surpreendente: em Frederico, o sol nascia do outro lado!
Ainda lembro
da primeira carta que escrevi aos familiares. Contei que “em Frederico era tudo, mais
ou menos, a mesma coisa. Só o sol nascia do outro lado!”
Levei tempo até me
desfazer deste equívoco.
Agora, depois de sessenta e tantos anos, quando
está na hora de olhar mais para o ocaso do que para o nascente, começo a entender
melhor o simbolismo daquele engano inicial. A tênue luz da Fé, e o brilho luminoso
da Escritura, me garantem que eu estava certo.
Pois na verdade, lá onde fica
o nosso ocaso humano, é o lugar onde aparece “O Sol nascente, que ilumina todo o homem
que vem a este mundo”.
Há outro Sol, que, não por acaso, começa a brilhar
lá onde acontece o ocaso natural de nossa vida. O Apocalipse nos garante que “a nova
Jerusalém não precisa de sol nem de lua, pois a glória de Deus será sua luz, e o Cordeiro
será sua lâmpada”..
A partir deste novo Sol, as estradas da vida tomam seu
rumo verdadeiro!