2014-07-09 18:50:42

Ordinários da Terra Santa: é necessário homens de coragem para romper ciclo de ódio


Jerusalém (RV) – “A violência gera violência”, israelenses e palestinos devem se reconhecer como irmãos, “e necessária uma mudança radical”. Estes são alguns dos conceitos contidos em uma declaração da Comissão Justiça e Paz da Assembléia dos Ordinários Católicos da Terra Santa, divulgada segunda-feira. Uma nota que se debruça sobre os dramáticos acontecimentos destes dias.

A declaração inicia com o pesar dos Ordinários Católicos da Terra Santa às famílias dos três jovens israelenses e do jovem palestino queimado vivo. Ao mesmo tempo, recordam que enquanto se conhecem os detalhes das vidas destas últimas vítimas, “outras, muito mais numerosas, são meras estatísticas sem nome e sem face”. O desejo é o de colocar fim à violência, mas não se pode esconder o recurso constante a uma linguagem que pede punições coletivas e vingança, impedindo assim o surgimento de qualquer alternativa. Os prelados recordam que muitos políticos “jogam óleo no fogo com palavras e atos que alimentam o conflito” sem entrar em um processo de diálogo.

No documento é revelada a linguagem violenta difundida pelas ruas de Israel, “alimentada por comportamentos e expressões de uma liderança que continua a levar em frente um discurso discriminatório que promove direitos exclusivos de um grupo e a ocupação com todas as desastrosas conseqüências”. “Se constroem os assentamentos – lê-se ainda na mensagem – as terras são confiscadas, as famílias separadas, os amigos são presos e até mesmo assassinados”. Existe uma liderança que acredita, portanto, que a ocupação possa ser o caminho correto, mesmo se isto – observam os Ordinários da Terra Santa – implica a anulação da aspiração de um povo à liberdade e à dignidade. “Parecem acreditar que a sua determinação seja um calar a oposição e transformar um erro em um direito”.

Ao mesmo tempo, também a linguagem violenta difundida pelas ruas da Palestina é “alimentada por atitudes e por aqueles que não nutrem nenhuma esperança em relação a uma solução justa do conflito por meio de negociação”. “Aqueles que procuram construir uma sociedade totalitária, monolítica – lê-se ainda na nota – onde não existe espaço para diferenças ou diversidade, para obter o apoio popular, aproveitando-se da situação de desespero”. “A estes – insistem os prelados - dizemos também nós: a violência como resposta à violência gera somente violência”.

Recordando a oração de paz pela Terra Santa do Papa Francisco, em 8 de junho passado, no Vaticano, os Ordinários da Terra Santa afirmam que não se pode instrumentalizar “o seqüestro e o assassinato a sangue frio dos três jovens israelenses e a vingança brutal em relação ao jovem palestino”, “para exigir uma punição coletiva contra o povo palestino na sua totalidade e contra o seu legítimo desejo de serem livres; é um trágico aproveitamento da tragédia e assim se promove mais violência e ódio”.

“Ao mesmo tempo – acrescentam – devemos reconhecer que a resistência à ocupação não pode ser equiparada ao terrorismo. É um legítimo direito enquanto o terrorismo é uma parte do problema. A violência como resposta à violência gera ainda mais violência”. Justamente a situação em Gaza é a representação de um ciclo de violência sem fim, de ausência de uma visão alternativa para o futuro, portanto, romper este processo é um dever de todos: “opressores e oprimidos, vítimas e carnífices”. “Todos devem reconhecer no outro um irmão ou uma irmã – recordam – antes de os reconhecer como um inimigo a ser odiado e eliminado”.

“É necessária uma mudança radical, insistem os Ordinários. Israelenses e palestinos juntos têm necessidade de livrarem-se das atitudes negativas de recíproca desconfiança e de ódio”. Assim, a necessidade de educar as novas gerações com um espírito diferente e de trabalhar para que existam líderes capazes de “trabalhar pela justiça e a paz, reconhecendo que Deus plantou aqui três religiões: o Hebraísmo, o Cristianismo e o Islamismo, e dois povos: palestinos e israelenses”. São necessárias pessoas capazes de “tomar decisões difíceis”, “prontas a sacrificar a sua carreira política pelo bem e por uma paz duradoura”. Líderes que tenham a vocação para serem “artífices da paz”, “pessoas em busca de justiça” e com uma visão alternativa à violência.

Neste caminho, os líderes religiosos têm uma tarefa: “falar uma linguagem profética’ que vá além do ciclo de ódio e de violência; “uma linguagem na qual se rejeita de atribuir o status de inimigo a qualquer filho de Deus; é uma linguagem que abre a possibilidade de ver cada um como irmão e irmã”. “Uma linguagem responsável em modo que se torne um instrumento para transformar o mundo de um deserto de trevas em um jardim repleto de vida”. (JE)








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