Ordinários da Terra Santa: é necessário homens de coragem para romper ciclo de ódio
Jerusalém (RV) – “A violência gera violência”, israelenses e palestinos devem
se reconhecer como irmãos, “e necessária uma mudança radical”. Estes são alguns dos
conceitos contidos em uma declaração da Comissão Justiça e Paz da Assembléia dos Ordinários
Católicos da Terra Santa, divulgada segunda-feira. Uma nota que se debruça sobre os
dramáticos acontecimentos destes dias.
A declaração inicia com o pesar dos
Ordinários Católicos da Terra Santa às famílias dos três jovens israelenses e do jovem
palestino queimado vivo. Ao mesmo tempo, recordam que enquanto se conhecem os detalhes
das vidas destas últimas vítimas, “outras, muito mais numerosas, são meras estatísticas
sem nome e sem face”. O desejo é o de colocar fim à violência, mas não se pode esconder
o recurso constante a uma linguagem que pede punições coletivas e vingança, impedindo
assim o surgimento de qualquer alternativa. Os prelados recordam que muitos políticos
“jogam óleo no fogo com palavras e atos que alimentam o conflito” sem entrar em um
processo de diálogo.
No documento é revelada a linguagem violenta difundida
pelas ruas de Israel, “alimentada por comportamentos e expressões de uma liderança
que continua a levar em frente um discurso discriminatório que promove direitos exclusivos
de um grupo e a ocupação com todas as desastrosas conseqüências”. “Se constroem os
assentamentos – lê-se ainda na mensagem – as terras são confiscadas, as famílias separadas,
os amigos são presos e até mesmo assassinados”. Existe uma liderança que acredita,
portanto, que a ocupação possa ser o caminho correto, mesmo se isto – observam os
Ordinários da Terra Santa – implica a anulação da aspiração de um povo à liberdade
e à dignidade. “Parecem acreditar que a sua determinação seja um calar a oposição
e transformar um erro em um direito”.
Ao mesmo tempo, também a linguagem violenta
difundida pelas ruas da Palestina é “alimentada por atitudes e por aqueles que não
nutrem nenhuma esperança em relação a uma solução justa do conflito por meio de negociação”.
“Aqueles que procuram construir uma sociedade totalitária, monolítica – lê-se ainda
na nota – onde não existe espaço para diferenças ou diversidade, para obter o apoio
popular, aproveitando-se da situação de desespero”. “A estes – insistem os prelados
- dizemos também nós: a violência como resposta à violência gera somente violência”.
Recordando
a oração de paz pela Terra Santa do Papa Francisco, em 8 de junho passado, no Vaticano,
os Ordinários da Terra Santa afirmam que não se pode instrumentalizar “o seqüestro
e o assassinato a sangue frio dos três jovens israelenses e a vingança brutal em relação
ao jovem palestino”, “para exigir uma punição coletiva contra o povo palestino na
sua totalidade e contra o seu legítimo desejo de serem livres; é um trágico aproveitamento
da tragédia e assim se promove mais violência e ódio”.
“Ao mesmo tempo – acrescentam
– devemos reconhecer que a resistência à ocupação não pode ser equiparada ao terrorismo.
É um legítimo direito enquanto o terrorismo é uma parte do problema. A violência como
resposta à violência gera ainda mais violência”. Justamente a situação em Gaza é a
representação de um ciclo de violência sem fim, de ausência de uma visão alternativa
para o futuro, portanto, romper este processo é um dever de todos: “opressores e oprimidos,
vítimas e carnífices”. “Todos devem reconhecer no outro um irmão ou uma irmã – recordam
– antes de os reconhecer como um inimigo a ser odiado e eliminado”.
“É necessária
uma mudança radical, insistem os Ordinários. Israelenses e palestinos juntos têm necessidade
de livrarem-se das atitudes negativas de recíproca desconfiança e de ódio”. Assim,
a necessidade de educar as novas gerações com um espírito diferente e de trabalhar
para que existam líderes capazes de “trabalhar pela justiça e a paz, reconhecendo
que Deus plantou aqui três religiões: o Hebraísmo, o Cristianismo e o Islamismo, e
dois povos: palestinos e israelenses”. São necessárias pessoas capazes de “tomar decisões
difíceis”, “prontas a sacrificar a sua carreira política pelo bem e por uma paz duradoura”.
Líderes que tenham a vocação para serem “artífices da paz”, “pessoas em busca de justiça”
e com uma visão alternativa à violência.
Neste caminho, os líderes religiosos
têm uma tarefa: “falar uma linguagem profética’ que vá além do ciclo de ódio e de
violência; “uma linguagem na qual se rejeita de atribuir o status de inimigo a qualquer
filho de Deus; é uma linguagem que abre a possibilidade de ver cada um como irmão
e irmã”. “Uma linguagem responsável em modo que se torne um instrumento para transformar
o mundo de um deserto de trevas em um jardim repleto de vida”. (JE)